Roberta e Taís Bento, da BrainBento: mãe e filha se uniram para ajudar crianças e adolescentes a estudarem melhor (BrainBento/Divulgação)
Mariana Fonseca
Publicado em 14 de maio de 2017 às 08h00.
Última atualização em 14 de maio de 2017 às 08h00.
São Paulo – Negócios em família costumam ser uma situação que pode ou funcionar muito bem ou funcionar muito mal. Enquanto tamanha carga emocional pode levar a brigas entre os sócios, outros estudos apontam que o desempenho das empresas familiares é superior ao de outros empreendimentos.
Tudo irá depender da boa gestão e da complementaridade dos empreendedores, tanto em habilidades quanto em visão empresarial.
Roberta e Taís Bento são um exemplo de parceria familiar que funcionou. Mãe e filha se uniram, em 2014, para criar a BrainBento: uma empresa que quer melhorar a forma de estudar entre crianças e adolescentes.
O que começou com visitas presenciais a diversas famílias virou, hoje, um braço de palestras para pais e professores; outro braço para atividades com os próprios estudantes; um site com pequenas consultorias gratuitas; um livro publicado; e uma série de TV em fase de produção.
Apenas no ano passado, o negócio faturou 600 mil reais – e, para 2017, a meta é crescer o faturamento em até 40%.
Quem teve a ideia de criar o negócio foi a filha Taís, que se formou em Pedagogia. A empreendedora começou com um site, chamado “Socorro, meu filho não estuda”, para pais se inscreverem.
Depois de ver as inscrições, a empreendedora realizava visitas presenciais a essas famílias e, após entender a rotina dos clientes, criava um plano de ação para que seus filhos tivessem uma relação mais saudável com os estudos.
Ao elaborar tais planos, Taís costumava pedir a ajuda de Roberta, que já tinha mais de 30 anos de carreira e era então a vice-presidente de uma franquia internacional de educação, que integrava tecnologia e educação em escolas públicas.
“Nesses planos, vi como muitas mudanças precisavam de uma mudança de atitude na mãe e no pai, e não na criança. Quando ela aplicava o que eu sugeria, dava muito certo também”, conta Roberta.
O site criado pela filha começou a receber muitos pais pedindo socorro. Assim que percebeu que o negócio tinha potencial, chamou a mãe para virar sócia. Com 18 anos de empresa, Roberta largou o emprego para empreender com a filha.
A motivação era também pessoal. “Passei a vida inteira querendo devolver à escola pública tudo que ela me deu. Meus pais não tinham recursos financeiros, e eu entrei na escola com uma perspectiva médica de que não teria condições de aprender. Tive uma paralisia cerebral ao nascer e perdi os movimentos inferiores - os médicos disseram que isso também prejudicaria meu aprendizado”, conta.
“Tenho certeza de que a forma como me incluíram e como meus pais agiram fizeram a diferença para que eu superasse as dificuldades e fosse uma boa aluna.”
Roberta cursou a faculdade de Letras e se especializou em estudos de línguas. Na carreira, percebeu como os alunos possuem um baixo envolvimento com os estudos.
Por isso, o “Socorro, meu filho não estuda” tem como proposta mudar essa relação, que parece chata, em algo positivo - o bom desempenho escolar é apenas a consequência.
“Todo mundo é capaz de aprender, porque nosso cérebro é capaz de se reestruturar para isso. Eu sou o próprio exemplo: minha mente criou caminhos alternativos, contornando a área onde eu sofri a lesão”, diz a mãe.
O negócio decidiu se expandir para novas áreas, que foram agrupados em apenas um grupo: o BrainBento.
Algumas das visitas que Taís fez com o “Socorro, meu filho não estuda” foram gravadas, a partir de um acordo com os pais, e virarão uma série de televisão. O acordo foi feito com a Europa Filmes, que está negociando com canais no momento. A experiência também virou um livro, já publicado (visto na foto que ilustra a matéria).
O site original continua, mas em forma de mini consultoria gratuita e online: os pais enviam as dúvidas e as empreendedores se comprometem a responder todos os e-mails, com um pequeno conselho.
“Hoje, somos contratadas para palestras em escolas. Para os pais, explicamos qual a rotina que favorece a aprendizagem em casa. Para os professores, implentamos mudanças em sala de aula que incentivem dinâmicas de envolvimento com os alunos”, conta Roberta. Esses serviços são chamados de SOS Educação.
Além da assessoria aos adultos, que é coordenada pela mãe Roberta, a filha Taís também oferece conversas com os próprios estudantes. O projeto SOS nos Estudos fala com alunos do Ensino Fundamental II e Ensino Médio, ensinando como o cérebro pode aprende de maneira mais eficaz para focar em concursos e vestibulares.
Ao todo, a BrainBento tem soluções para crianças desde os dois anos de idade (com prevenção de futuros problemas de aprendizagem) até jovens universitários.
“Há uma sintonia muito boa entre nós duas: sempre fazemos as palestras juntas. Ela fala com os filhos e eu com os pais e professores. A Taís, sendo mais jovem, tem um envolvimento maior com a situação dos jovens. E eu, como profissional que sabe a culpa dos pais em ter de delegar esse desenvolvimento dos filhos, consigo explicar bem nossa proposta de mudanças na rotina”, conta Roberta.
Nas palestras, mais de 5 mil pais já foram atendidos; nos pedidos de socorro, são 1,5 mil. Em relação aos alunos, 250 mil foram impactados tanto pelas palestras quanto pelos canais que a BrainBento e seus braços possuem em redes sociais.
Em 2016, a BrainBento faturou 600 mil reais. A meta de 2017 é aumentar esse faturamento, com acréscimo que varia entre 30 e 40%. Também neste ano, o negócio finalmente começará a trabalhar junto a escolas públicas - que era o sonho de Roberta desde os tempos de faculdade.