Compras no futuro serão afetadas pelo posicionamento atual das marcas (Valter Campanato/Arquivo/Agência Brasil)
Carolina Ingizza
Publicado em 17 de março de 2020 às 18h35.
Última atualização em 17 de março de 2020 às 19h26.
A diminuição da circulação de pessoas, provocada pela pandemia de coronavírus Covid-19, já é sentida pelo varejo. Ao longo do final de semana, o fluxo em shopping centers do país caiu em torno de 25%, segundo informações preliminares obtidas pela EXAME. Em contrapartida, as lojas de rua tiveram crescimento de 3% — puxado por drogarias e supermercados.
Nesta tarde, a Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce) e a Associação Brasileira de Lojistas de Shoppings (Alshop) recomendaram aos associados com empreendimentos em áreas com casos confirmados da doença que operem em horário reduzido, das 12 às 20 horas.
“Tal medida atende à solicitação dos lojistas e está alinhada com a recomendação do poder público para a redução de circulação de pessoas sem, todavia, paralisar totalmente as atividades econômicas, em especial os serviços de utilidade pública em funcionamento, como bancos, farmácias, laboratórios e supermercados”, escreveu a Abrasce em nota.
A entidade diz estar monitorando os impactos da crise no setor ao longo da semana antes de tomar outras medidas. Enquanto isso, franqueados e lojistas estão preocupados com a diminuição do volume de faturamento.
A Associação Brasileira de Franchising (ABF), presidida por André Friedheim, informa que está em contato direto com as redes administradoras de shoppings para tentar negociar medidas que minimizem o efeito da baixa demanda para os franqueados que operam em shopping centers. Segundo a entidade, as franquias correspondem a 40% das lojas satélites (lojas de pouca metragem, da praça de alimentação) dos centros de compra.
As 1.300 redes de franquias associadas da ABF pedem que as administradoras, durante a pandemia de coronavírus, aceitem receber um aluguel percentual sobre o valor de faturamento, e não a taxa prefixada no contrato. “Pedidos também para que não cobrem estacionamento, para tentar gerar mais fluxo. Isso, claro, enquanto o Ministério da Saúde permitir as operações”, diz Friedheim.
Tito Bessa Júnior, presidente da Associação Brasileira dos Lojistas Satélites (Ablos), também está preocupado com o impacto sobre os pequenos lojistas. Ele divulgou uma nota nesta terça-feira, 17, em que manifesta sua indignação com o posicionamento da Abrasce e da Alshop.
Para o presidente, a Abrasce não estaria demonstrando preocupação suficiente com a saúde física e financeira dos lojistas que trabalham dentro dos shopping centers. “Representamos 78% do número de lojas, como podem tomar decisões sem nos chamar para sentar à mesa?”, disse.
Júnior acredita que, enquanto o governo não obrigar os shopping centers a fechar a portas, as associações não vão recomendar a medida. “Se fechar, juridicamente eles não teriam como cobrar aluguel dos lojistas”, diz.
Ele também relata que, numa troca de mensagens, Glauco Humai, presidente da Abrasce, teria dito que iria negociar "questões de desconto, parcelamentos e outras questões comerciais" caso a caso, região a região.
Em nota, a Abrasce só afirma que “desde o início das primeiras notícias relacionadas à disseminação do novo coronavírus (Covid-19), acompanha de forma atenta a evolução do tema e seguirá atuando para ajudar o país a passar por este momento.”