Artur Grynbaum, presidente do Boticário, em entrevista ao Na Prática (Na Prática/Youtube/Reprodução)
Mariana Desidério
Publicado em 28 de julho de 2018 às 07h00.
Última atualização em 30 de julho de 2018 às 09h41.
Ter desenvolvido habilidades de comunicação durante sua trajetória foi peça-chave para o avanço profissional de Artur Grynbaum, hoje presidente do Grupo Boticário. “Quando você vai ampliando seus horizontes, tem que fazer com que mais pessoas acreditem no sonho que tem, e se juntem de forma engajada”, explica ele.
Mas não é só a isso que atribui uma carreira bem-sucedida. A capacidade de se comunicar clara e objetivamente é somente um dos pilares do que considera serem fundamentos das relações profissionais – e os quais se dedicou a dominar. Para o presidente da companhia, ter uma visão forte de negócios o ajudou a visualizar o “todo” e explorar as oportunidades.
Não só essas, mas a habilidade de negociação também é essencial – mas foi ainda mais, principalmente quando entrou no Boticário, ainda muito jovem. “Todo mundo olhava e dizia ‘é um garoto’, mas o garoto tinha de se provar com algumas coisas. Tinha de saber negociar, conduzir bem, mostrar firmeza em várias das questões que eram solicitadas”, lembra o presidente.
Atuando no varejo em diversas funções nas lojas da família – guardador de banca, porteiro de loja e office boy – Artur considera que a experiência tenha sido uma “pequena grande escola”. “Você consegue exercitar praticamente todos os pontos de administrar um negócio numa loja – seja ela pequena ou grande”, resume.
“Quando eu entrei no Boticário, com 17 anos, pude exercitar em uma maior plenitude várias dessas coisas”, lembra ele. As oportunidades e o aprendizado foram bastante impulsionados porque a empresa implantava o modelo de franchise, praticamente inédito no Brasil na época. Artur iniciou como assistente financeiro, depois assessor da diretor – posição em que “flutuava” mais dentro da organização. Não tardou para que virasse vice-presidente executivo, até que, em 2012, se tornou o presidente do Grupo que abarca, além do Boticário, Eudora, Quem Disse Berenice, The Beauty Box, Multi B e Vult.
Segundo Artur Grynbaum, o primeiro passo para se preparar para o futuro é entender que o limite da preparação é precário perto do que o futuro pode trazer.
“Em vez de gastarmos nosso tempo tentando fazer adivinhações do que será o futuro, temos que construir musculatura interna e pensamentos para que possamos estar preparados para qualquer tipo de futuro que venha pela frente."
Na prática, isso significa que uma grande companhia, como o Boticário, não pode se acomodar. Segundo o presidente, para as que atingiram o “topo da pirâmide”, o desafio é ainda maior: é preciso manter a capacidade de atrair pessoas, de realizar objetivos e metas. “O grande preparo é você achar que nunca está pronto e achar que sempre tem uma questão para ser resolvida no dia de amanhã”, afirma.
Embora o senso comum aponte para inovações apenas no setor de produtos, Artur garante que dentro da companhia, “é muito mais do que isso”. “Nós inovamos em processos, experiências do consumidor, formatos de loja, formas de contato com o cliente, procedimentos internos e em relações com as áreas”, exemplifica.
A cultura de valorização das ideias se concretiza em processos estruturados e abertos. Entre as práticas fixas, por exemplo, a empresa promove, a cada semestre, um innovation day, em que as inovações propostas são expostas através de exposições em uma feira própria.
Em um nível mais informal, o Grupo Boticário tem uma busca aberta de ideias através do contato com as mais diversas áreas envolvidas no negócio. Como acontece com as consultoras de lojas próprias ou de franqueados, que trazem insights importantes sobre produto e consumidor, segundo Artur. “É importante deixar a rede super aberta para poder capturar isso e trazer a questão da execução na sequência”, diz ele.
As práticas estão alinhadas com outro ponto forte na cultura da companhia, o doempreendedorismo. Aqui, o sentido de empreender é aquele além do de “abrir um novo negócio”. O presidente do Grupo explica:
“Todo dia você tem um número de desafios pela frente e as tarefas que são mais rotineiras. Você pode escolher a forma com que vai realizá-las, pode propor novos modelos, pode buscar coisas eficientes, trazer novas ideias, pode deixar de fazer certas coisas. Não adianta fazer todos os dias as coisas da mesma forma”.
Por isso, na empresa, os colaboradores de todos os níveis e setores têm liberdade para criar e propor, não só acerca do seu setor, mas sobre o negócio como um todo, afirma ele. “Eu estimulo muito que as pessoas empreendam. Empreender é ter a ideia, mas também executá-la”, completa.