(CargoX/Divulgação)
Mariana Fonseca
Publicado em 20 de junho de 2018 às 11h04.
Última atualização em 20 de junho de 2018 às 11h06.
Os caminhoneiros brasileiros ainda conseguem muito trabalho a partir de cartazes escritos à mão.
Para Federico Vega, esse sistema antiquado e ineficiente era uma fruta madura e fácil de agarrar. Em viagem de bicicleta da Patagônia ao Brasil, o argentino encontrou caminhoneiros que reclamavam de passar a maior parte do tempo procurando fretes, de receber baixa remuneração e de lidar com empresas de transporte desorganizadas que às vezes não honravam os pagamentos.
Por isso, Vega criou a CargoX, uma empresa estilo Uber que conecta os caminhoneiros com as empresas que precisam dos serviços deles. A firma também garante o pagamento e melhora a logística para que os compartimentos de carga não permaneçam vazios.
“Temos a chance de promover um enorme impacto no Brasil”, disse Vega, 37, em entrevista. “Mais do que uma empresa, estamos iniciando uma revolução ao trazer grandes investidores para explorar esse mercado.”
Entres os “grandes investidores” estão o Goldman Sachs -- o maior apoiador -- e George Soros, que detém uma pequena participação no negócio. E a comparação com a Uber não fica só nas palavras. Oscar Salazar, diretor de tecnologia fundador da bilionária empresa de transporte, foi um dos primeiros investidores da CargoX. A Unilever e a Ambev são clientes e a empresa conta com cerca de 7.000 motoristas cadastrados. A Ambev e a Unilever preferiram não comentar o assunto.
“A CargoX mostrou um crescimento impressionante desde o lançamento, em 2016, e acreditamos que tem um potencial enorme para continuar se expandindo”, disse Hillel Moerman, codiretor do Goldman Sachs Private Capital Investing Group. “O negócio tem uma sólida infraestrutura de tecnologia proprietária que garante a eles a oportunidade de reduzir o custo de movimentação de cargas e de melhorar o nível do serviço.” A Soros Fund Management preferiu não comentar.
Vega mira um setor fraturado e inchado, segundo uma associação do setor. Esse é, também, um setor descontente, se levada em conta a greve recente que parou o país.
A maioria das 150.000 transportadoras do Brasil são empresas pequenas, desorganizadas e que não sabem calcular os custos operacionais, segundo a associação do setor de transporte de carga NTC & Logística. Do total de 1,77 milhão de caminhões, 37 por cento são dos próprios caminhoneiros e são operados de forma independente, segundo a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).
Há um excedente de 300.000 caminhões nas estradas, resultado de empréstimos favoráveis do BNDES nos anos que precederam os dois anos de recessão do Brasil. Com isso, há mais caminhões sem carga nas estradas, segundo o diretor técnico da NTC, Neuto Gonçalves.
Nesse contexto, o aumento dos preços dos combustíveis, no mês passado, desencadeou uma greve de 10 dias que sufocou a atividade em todo o país, provocou revisões para baixo na expectativa do PIB para 2018 e revelou vulnerabilidades logísticas do Brasil.
A sede da CargoX, em endereço nobre de São Paulo, parece mais uma startup do que uma empresa de transporte, com uma sala em plano aberto para seus 250 funcionários -- nenhum deles com origem no setor. Vega acredita que o número aumentará para 450 até o fim do ano e que a receita subirá dos R$ 150 milhões (US$ 40 milhões) de 2017 para R$ 650 milhões em 2018.
“Acredito que para as transportadoras consolidadas do Brasil e para as empresas familiares que existem há 50 anos, será muito difícil mudar o DNA”, disse Vega.