João de Paula, diretor de tecnologia e cofundador da Origin: a startup atende só o mercado americano, mas possui escritório de tecnologia no Brasil e está contratando (Origin/Divulgação)
Carolina Ingizza
Publicado em 25 de agosto de 2020 às 06h00.
Última atualização em 25 de agosto de 2020 às 09h24.
Quem nunca teve dificuldades para fazer o salário render até o final do mês? Organizar as finanças, cumprir metas e realizar sonhos pode ser muito desafiador. Pesquisa da consultoria PwC mostra que nos Estados Unidos, o planejamento financeiro é a maior fonte de estresse no cotidiano dos trabalhadores. Foi justamente para atacar esse problema que o brasileiro João de Paula e o americano Matthew Watson decidiram criar a startup Origin em 2018.
Os sócios lançaram uma ferramenta para que as empresas americanas possam ajudar seus funcionários a gerir melhor suas finanças. Como um “Gympass” da vida financeira, a plataforma da startup é oferecida como um benefício corporativo aos trabalhadores das empresas clientes. São cobrados 6 dólares por mês por funcionário.
A ideia é que a Origin saiba os hábitos, estilo de vida e metas financeiras dos trabalhadores para que possa dar sugestões de como eles devem investir e economizar para atingir seus objetivos. A solução mistura inteligência artificial com especialistas. “O problema financeiro é muito complexo para ter uma solução 100% automatizada. Nosso objetivo não é tirar o toque humano, mas guardá-lo para momentos em que seja realmente necessário”, diz o cofundador e diretor de tecnologia João de Paula.
A startup, sediada em São Francisco, nos Estados Unidos, tem 20 empresas clientes e mais de 2.000 usuários usando seus serviços hoje. Para seguir crescendo, recebeu em 2020 um investimento de 12 milhões de dólares (cerca de 63 milhões de reais), liderado pelo fundo americano Felicis Ventures (Twitch, Shopify) em sua série A.
O dinheiro está sendo investido no aprimoramento do produto e em novas contratações. O objetivo é terminar 2020 com cerca de 50 empregados. Apesar de só atuar no mercado americano por enquanto, 24 dos 38 funcionários da startup estão no Brasil — um jeito de atrair talento sem precisar competir com as milhares de empresas de tecnologia do Vale do Silício.
Por conta das diferenças entre os problemas dos Estados Unidos e Brasil, a Origin deve demorar mais de um ano para trazer seu produto para cá. Os americanos lidam com um sistema que não oferece aposentadoria pública e muitos carregam longas dívidas de empréstimos estudantis, por exemplo. No Brasil, os problemas são outros, como as dívidas com cartão de crédito.
A Origin não é a primeira empreitada de João de Paula. O empreendedor, que é formado em direito pela universidade federal do Rio de Janeiro, percebeu que não queria seguir carreira de advogado assim que deixou a universidade em 2011.
No mesmo ano, com o amigo Roberto Riccio, criou a Glio, uma rede social em que os usuários poderiam dar críticas para restaurantes, bares e lojas — uma espécie de Yelp tupiniquim. Em 2013, ela foi a primeira empresa da América Latina selecionada para o programa de aceleração do Y Combinator, uma das maiores aceleradoras dos Estados Unidos. Em 2015, a operação migrou para um modelo de marketplace de cosméticos, sendo encerrada em 2018 pelos sócios.
Enquanto decidia qual era seu próximo projeto, de Paula foi procurado pelo amigo americano Watson, que conheceu em uma de suas viagens ao Vale do Silício. O colega, mesmo trabalhando no Citi Bank, enfrentava dificuldades nas suas finanças pessoais. Inspirado pela crise pessoal, teve a ideia de lançar um produto para ajudar as pessoas a gerir melhor suas finanças e convidou de Paula para a empreitada. Juntos, foram buscar um investimento inicial para criar o primeiro protótipo do produto.
Com uma equipe de seis funcionários e 3 milhões de dólares de investidores, os sócios começaram a desenvolver a plataforma em 2019. Os primeiros clientes assinaram os contratos no final do ano e a operação foi lançada no começo de 2020. Com a pandemia, que fez milhares de pessoas perderem renda e precisarem usar suas reservas, o valor do produto da Origin ficou ainda mais evidente.
Com os 12 milhões de dólares da última rodada, os sócios planejam ganhar escala no mercado americano e terminar o ano com dezenas de milhares de usuários na plataforma. “Vamos fazer o planejamento financeiro ser algo um pouco mais democrático um dia de cada vez”, diz de Paula.