Leonardo José Lima, franqueado da Home Angels: pandemia de coronavírus forçou empreendedor a gerir o negócio de dentro do apartamento (Ricardo Matsukawa / Ricardo Yoithi Matsukawa-ME/Jornal de Negócios do Sebrae/SP)
Carolina Ingizza
Publicado em 5 de julho de 2020 às 08h00.
Trabalhar em casa é o sonho de muita gente, principalmente para quem vive em grandes metrópoles e precisa enfrentar horas no trânsito ou no transporte público. Na capital paulista, por exemplo, uma pessoa passa em média cerca de 1h47 no deslocamento entre casa e trabalho, de acordo com pesquisa realizada em 2019 pela Rede Nossa São Paulo em parceria com o Ibope.
Todo esse tempo poderia ser utilizado para outras atividades, como ficar mais com a família, praticar atividades físicas ou concentrar esforços nos resultados do próprio negócio. Com a pandemia provocada pelo novo coronavírus e a necessidade de distanciamento social, a ideia de trabalhar em casa ganha força, e encontra nas microfranquias uma possibilidade de obter renda em um período de crise e alta no desemprego – e sem investir muito capital, afinal é possível encontrar diversas opções no mercado com investimento inferior a 5 mil reais.
Dados da pesquisa “Microfranquias”, divulgada em 2019 pela Associação Brasileira de Franchising (ABF), mostram que o número de marcas atuando com modelos mais econômicos cresceu 14% nos últimos quatro anos, passando de 557 em 2016 para 674 em 2019. Os destaques vão para os segmentos de serviços e de saúde, beleza e bem-estar. Entre 2018 e 2019, o primeiro cresceu 34%, enquanto que o segundo subiu 21%.
Dono de uma franquia Home Angels, especializada em cuidadores de idosos, o empreendedor Leonardo José Lima conta que sempre operou a maior parte do negócio de casa, na Mooca, zona leste de São Paulo. Aluga um espaço de coworking apenas para processos seletivos de novos cuidadores ou para quando um cliente quer conhecer a empresa. Durante a atual crise do novo coronavírus, viu sua cartela de clientes cair, principalmente entre os meses de março e abril, porém fechou maio com seu recorde de clientes ativos desde 2018, ano que iniciou as atividades.
“Tivemos quedas pontuais normais em virtude de alta hospitalar e falecimentos, assim como contratos suspensos por conta da pandemia, já que os familiares passaram a ficar mais próximos dos idosos em casa”, explica.
A retomada em maio, segundo Lima, se deu tanto pela reativação de contratos quanto pela gestão de marketing digital, que teve o apoio do Sebrae. “Ações com o Google e o posicionamento da minha franquia no Instagram e Facebook ajudam muito. O Google traz clientes diretos, e nas redes sociais recebo muitas indicações de clientes por meio de amigos”, comemora. Hoje com 14 contratos ativos, Lima tem como meta chegar a 20 contratos até dezembro. Uma franquia da Home Angels começa a partir de 25 mil reais.
Já no município de Registro, no Vale do Ribeira, o jornalista Adílson Cabral deixou de lado a rotina como contratado de veículos de comunicação há mais de 20 anos para empreender no segmento de comunicação. Desde 2018, é dono de uma franquia do Portal da Cidade, plataforma digital que disponibiliza tecnologia para conteúdo jornalístico e publicitário regional.
Cabral diz que sempre identificou no Vale do Ribeira uma carência de meios de comunicação digitais que trouxessem uma proposta jornalística completa. “O Portal da Cidade Registro tem condições de reconhecer o que se tem em relação à vida na cidade e seus problemas, mas também tudo o que se inova em relação à identificação de talentos, ações e projetos de desenvolvimento regional”, afirma.
O jornalista começou a franquia sozinho, mas há quatro meses contratou um colaborador que o auxilia na apuração e produção de matérias. Na parte da manhã, Cabral atua na produção, mas à tarde se dedica à área comercial. “Estamos tendo muita procura de anunciantes durante a pandemia, principalmente por empresas que não possuem lojas físicas, ou estão fechadas, e apostam no delivery para manter o faturamento”, explica.
E por falar em delivery, essa modalidade ganhou ainda mais força em meio à pandemia. A franquia Rapidão App, plataforma de aplicativo de delivery criada para atender pequenas e médias cidades, vem se destacando nesse mercado, com investimento inicial de cerca de 16 mil reais.
“Quando decidimos desenvolver o aplicativo em junho de 2019, percebemos que este tipo de atendimento era uma carência comum aos estabelecimentos de pequenas cidades”, afirma o presidente da rede, Leone Schultz. “Durante a pandemia, o nosso serviço é a solução para muitos comerciantes continuarem vendendo seus produtos”, completa.
Desde o início das medidas mais restritivas no País, a marca registrou um aumento de 70% nas vendas diretas. O modelo home office e 100% digital da rede também chamou a atenção de pessoas que viram a oportunidade de começar a empreender ainda na quarentena. De março a maio de 2020, já comercializaram mais de 60 franquias. Atualmente a empresa conta com mais de 100 unidades vendidas, sendo 20 unidades no Estado de São Paulo. São mais de mil estabelecimentos parceiros e cerca de 45 mil usuários ativos, em 18 Estados brasileiros. A expectativa da empresa é terminar o ano com um faturamento de 6 milhões de reais.
“A tendência é que a compra por meio de aplicativos de delivery se perpetue. Muitos estabelecimentos que antes não utilizavam apps para o recebimento dos pedidos, utilizando os meios convencionais como telefone e WhatsApp, acabaram por abrir os olhos para essa tecnologia, que propicia o descongestionamento dos pedidos, facilidade no gerenciamento e atendimentos simultâneos de vários clientes e pedidos”, afirma o diretor operacional e cofundador do Rapidão App, Wilton Hermes.
E por que não transformar um sistema de franquia tradicional e 100% presencial em um híbrido com home office? Essa foi a ideia da Andréia Martins, diretora do CCAA Sorocaba. Assim como praticamente todas as instituições de ensino, a rede de idiomas também adaptou suas aulas para o modelo a distância pela internet, mas a gestão da franquia como um todo, que antes exigia de Andréia presença diária na escola, se tornou remota– e com sucesso.
“Hoje eu não saio mais de casa. Do próprio computador consigo ativar o sistema da escola e fazer toda a gestão, desde funcionários, horários de aulas, alunos até a administração como um todo, com pagamentos, compras e contratos”, diz a empresária.
Andréia explica ainda que a nova metodologia de trabalho vem gerando bons resultados na captação de novos alunos a partir dos testes de nivelamento dos interessados. Antes muitos não davam sequência quando a aplicação era presencial, mas agora, online e com cursos mais acessíveis, essa realidade mudou.
“Nosso retorno de potenciais alunos cresceu 65%. Muitos nem respondiam a equipe comercial. Durante a pandemia estamos com tanta procura que até precisamos pedir para esperar. Nós íamos atrás de alunos, mas hoje são eles que nos procuram” comemora.
Outra questão favorável a um futuro sistema híbrido é o reconhecimento dos pais, que antes não tinham como acompanhar de perto a evolução dos filhos em sala de aula. “Hoje eles nos passam feedbacks positivos pois acompanham a metodologia, o aprendizado dos filhos e têm confiança investimento que estão fazendo”, afirma.
Investir numa franquia, mesmo em formato home office, não significa que o empresário vai trabalhar menos. Esse é o alerta do consultor de negócios do Sebrae-SP, Ruy Soares de Barros. A dedicação e organização são fundamentais, por isso é necessário procurar um negócio ou segmento com o qual tenha afinidade, pois grande parte de seu tempo será usado na empresa.
“Faça uma lista com as franquias home office que tenha interesse, obtenha informações, converse com franqueados que já estão operando, fale com a franquia e tire o máximo de dúvidas sobre o negócio”, aconselha.
De acordo com Barros, o interessado precisa ainda parar para refletir sobre algumas questões importantes, tais como: quais os motivos para ter uma franquia home office? Isso se deve apenas ao tempo livre provocado pela pandemia ou de fato há a possibilidade de um bom negócio?
“Vale lembrar que a franquia tem regras e é baseada num contrato com período de permanência. O futuro franqueado precisa ler atentamente a Circular de Oferta de Franquia (COF), que deve ser disponibilizada ao interessado dez dias antes de fechar o negócio. Nela constam as ‘regras do jogo’, definindo o papel de cada um”, explica.
O consultor ainda alerta para que o interessado não invista todo seu capital na compra da franquia. “Esse não é um investimento único. O empresário vai precisar de dinheiro para o capital de giro e, dependendo do momento e do segmento, pode haver sazonalidade do negócio. Por isso é recomendável ter uma reserva para emergências”, completa.