Lucas Moraes, da Olivia: vinte mil brasileiros estão na fila de espera pelo aplicativo (Olivia/Divulgação)
Mariana Fonseca
Publicado em 1 de março de 2019 às 06h00.
Última atualização em 1 de março de 2019 às 06h00.
Depois de passar receitas e despesas do papel para o computador e para o celular, o próximo passo na jornada em busca do orçamento perfeito é contar com a ajuda da inteligência artificial, materializada em “robôs poupadores”. Ao menos é o que defende a fintech Olivia -- e alguns investidores de peso.
Após conquistar uma base de quase 500 mil usuários nos Estados Unidos, a Olivia ensaia sua entrada no mercado brasileiro. A fintech possui sete mil pessoas em sua lista de espera e deve lançar seu aplicativo localmente ainda no primeiro semestre deste ano. Por trás da Olivia estão investidores como a corretora XP e o fundo BR Startups, que conta com empresas como o Banco Votorantim e a gigante de tecnologia Microsoft.
A Olivia foi criada pelos brasileiros Lucas Moraes e Cristiano Oliveira, que se conheceram durante um curso na Singularity University, instituição de ensino empreendedor localizada em uma base da Nasa, a agência espacial americana, no Vale do Silício (Estados Unidos).
Eles perceberam uma demanda por controlar melhor o orçamento. Cerca de 78% da população americana adulta não consegue poupar, vivendo “de pagamento em pagamento”, segundo o site CareerBuilder. Similarmente, 64% dos americanos que afirmam estar estressados apontam o dinheiro como principal causa, reporta a American Psychological Association.
“Queríamos usar a inteligência artificial para ajudar na tomada de decisões financeiras, e encontramos bons profissionais no Vale para desenvolver essa tecnologia”, afirma Moraes. O investimento inicial foi de 500 mil dólares.
Por meio da integração com o extrato bancário de seus usuários, em permissão similar à pedida pelo aplicativo Guia Bolso, os robôs da Olivia analisam o histórico de gastos, fazem recomendações de áreas a serem economizadas e estimam melhoras futuras nas despesas. Não é preciso inserir manualmente receitas e despesas.
Se você faz compras no supermercado todos os domingos, por exemplo, a inteligência artificial pode recomendar estabelecimentos próximos e mais baratos no próximo domingo. Segundo a Olivia, o usuário americano média poupa 0,8% da sua renda mensal quando começa a usar o aplicativo. Em dois meses, o percentual sobe para 5,7%.
Nos Estados Unidos, a Olivia acumulou quase 500 mil usuários que utilizam seu aplicativo pelo menos uma vez por mês. A fintech possui acesso aos extratos bancários em 18 mil instituições financeiras parceiras e dá sugestões em 100 categorias de gastos (alimentação, transporte e educação, por exemplo).
Em território brasileiro, a Olivia está em versão alfa (testes com pessoas selecionadas). É possível se cadastrar para uma lista de espera no site -- sete mil pessoas já se cadastraram. Até o meio do ano, o aplicativo deverá ser disponibilizado.
Hoje, a equipe de 25 pessoas da Olivia já está dividida entre Estados Unidos e Brasil. A monetização do aplicativo se faz por uma comissão recebida sobre produtos e serviços das instituições financeiras parceiras da Olivia, oferecidos dentro do app.
No Brasil, as primeiras parcerias da Olivia deverão ser seus investidores. A corretora de investimentos XP comprou uma participação minoritária na fintech e sugestões de aplicações podem aparecer no aplicativo da Olivia, também personalizadas de acordo com os hábitos de casa usuário.
Já na vertical de crédito, deverão ser oferecidos produtos do Banco Votorantim. “Se ele está no cheque especial, podemos trazer uma sugestão com taxas menores”, afirma Moraes.
O BV aportou na fintech por meio de um investimento semente do fundo BR Startups. Focado em investimento corporativo em startups no estágio pré Série A, o BR Startups já captou 32 milhões de reais de empresas como Age-Rio, Banco Votorantim, Bayer, BB Seguros, Microsoft e Qualcomm e investiu em 15 startups. O ticket médio de investimento semente é de 500 mil reais a 3 milhões de reais por startup.
“Buscamos uma equipe com potencial e evidências de sinergia com nossos cotistas. Vimos muito fortemente esses fatores na Olivia”, afirma Richard Zeiger, gestor do fundo e sócio da MSW Capital.
Segundo Moraes, em breve a fintech deve acrescentar parceiros de consumo e oferecer descontos em aplicativos de delivery, por exemplo. “Para essas empresas, baixar o preço e nos pagar a comissão ainda é mais econômico do que seu custo de aquisição de clientes. Então é um bom negócio para todos.”
Até o final deste ano, a projeção da Olivia é atingir 100 mil usuários por aqui -- juntamente com o ponto de equilíbrio entre receitas e despesas. A promessa de orçamento perfeito da Olivia não se aplica apenas a seus usuários.