Sérgio Frangioni, sócio da Blanver (Alexandre Battibugli)
Da Redação
Publicado em 22 de agosto de 2011 às 08h00.
Sobre as mesas de uma pequena e bem iluminada sala na sede da fabricante de insumos farmacêuticos Blanver, da cidade de Itapevi, na Grande São Paulo, há um moedor de carne, uma batedeira de bolo, um micro-ondas e uma coqueteleira para milk-shakes.
Os armários estão cheios de liquidificadores e panelas revestidas de teflon. Nesse ambiente — que mais parece uma cozinha — fica o laboratório de pesquisas da empresa. "Às vezes, eletrodomésticos improvisados custam menos e funcionam tão bem quanto o equipamento de laboratório", diz o engenheiro Sérgio Frangioni, de 50 anos, sócio da Blanver.
Seu negócio é produzir excipientes, como são chamadas as substâncias usadas pela indústria farmacêutica para completar o volume de uma cápsula ou comprimido, por exemplo.
Os utensílios de cozinha têm desempenhado um papel particularmente importante na Blanver. Nos últimos dois anos, foi com eles que seus técnicos realizaram muitos dos testes necessários para que a empresa pudesse produzir a própria matéria-prima, principalmente um tipo especial de celulose muito usado pela indústria farmacêutica.
"O crescimento no consumo de medicamentos aumentou a procura desse material, pressionando os preços para cima", diz Frangioni. "Estávamos perdendo rentabilidade." Frangioni prevê que neste ano a Blanver fature 195 milhões de reais, mais que o dobro das receitas de 2009, quando começou a produção doméstica dos insumos.
Fabricar a matéria-prima em casa foi a maneira que Frangioni e seu irmão e sócio Alexandre, engenheiro químico de 44 anos, encontraram para sair de uma situação desconfortável comum a pequenas e médias empresas — a dependência de fornecedores bem mais poderosos, com os quais há pouca margem de negociação.
"Comprávamos insumos de grandes multinacionais”, diz Sérgio Frangioni. “Com empresas desse porte, não se tem nenhum poder de barganha."
Para assumir a produção de matéria-prima, os sócios investiram 6 milhões de reais para desenvolver um processo de fabricação próprio. "Não poderíamos simplesmente copiar o processo tradicional, que funciona bem para os grandes fornecedores, mas não para quem precisa de volumes menores, como nós", diz Alexandre.
"Tínhamos de ter algo mais enxuto e produtivo." Ele afirma que, em comparação com o método tradicional, o sistema criado pela Blanver gasta 30% menos energia e 50% menos água para produzir o dobro de celulose.
Fundada na década de 70 pelo pai de Alexandre e Sérgio, Giuseppe Frangioni, a Blanver é uma empresa essencialmente exportadora. Hoje, 80% das receitas vêm de vendas feitas para mais de 90 países — sendo que metade vem dos Estados Unidos. Agora, a Blanver está entrando no mercado chinês.
"Não é fácil exportar para o mercado de saúde na China", diz Kenneth Ma, fundador da Ludatrade, empresa chinesa especializada em comércio exterior. "Os chineses desconfiam de medicamentos feitos fora do país." Por isso, a Blanver, inicialmente, fornece insumos utilizados por fabricantes de energéticos e vitaminas no mercado chinês.
No Brasil, a estratégia de expansão está baseada em oferecer o desenvolvimento e a terceirização da fabricação de remédios. A empresa elaborou para o governo, por exemplo, o medicamento utilizado no tratamento da Aids cuja patente foi quebrada há quase três anos em parceria com a farmacêutica Nortec.
"Por enquanto, somos responsáveis pelo fornecimento", diz Alexandre. "Num prazo de até três anos, vamos transferir a tecnologia e a produção ao governo." Agora, a Blanver está fechando mais contratos como esse com o governo — entre eles, um medicamento para tratar osteoporose — e também com outras empresas. "É uma forma de balancear nossas receitas, ao aumentar o faturamento vindo do Brasil", diz Sérgio.