Fabio Faccio, CEO da Renner: novo veículo de investimento é tentativa de se aproximar com startups (Renner/Divulgação)
Quando comprou a startup Repassa, um brechó online de moda circular, a Renner já antecipava o interesse em companhias de menor porte, mas regadas a tecnologia. Agora, de olho na inovação que vem dessa e outras startups — e também do ESG — a varejista anuncia a criação de um fundo próprio para investimento em startups de moda e lifestyle, chamado de RX Ventures.
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O mecanismo por trás do RX Ventures é o que no mercado ganha a denominação de Corporate Venture Capital (CVC), um modelo no qual grandes companhias investem em empresas iniciantes e, ao final do processo, podem assumir o controle de suas operações. O montante inicial de R$ 155 milhões, captado a partir de um Fundo de Investimento em Participações (FIP) envolvendo diferentes empresas e uma gestora especializada, marca oficialmente a transição da Renner de uma varejista tradicional para um veículo de investimento em startups do país.
Em boa medida, adotar a estratégia de CVC pode levar a Renner a se especializar na inteligência de negócios durante o investimento, o chamado smart money. “É um mecanismo que ajuda as duas pontas. As startups são aceleradas pelo conhecimento que uma grande companhia tem no setor, e as grandes ganham inteligência e inovação”, diz Fabio Faccio, presidente da companhia, em entrevista a EXAME.
Para ele, o racional por trás da criação do fundo está em acompanhar as principais tendências em torno do ecossistema de inovação no país. “Sempre quisemos estar próximos das startups, por isso adquirimos a Repassa e já temos, inclusive, muitos fornecedores com esse perfil”, diz. “Mas entender melhor como funciona o segmento e estender a possibilidade para parcerias é o que vai nos posicionar como um agente estratégico para o crescimento da inovação no país”.
O CVC tem se mostrado um importante mecanismo para empresas que buscam acompanhar o ritmo acelerado de transformação digital, especialmente em setores profundamente impactados pela pandemia, como o financeiro e de varejo — como é o caso da Renner.
Trata-se também de um modelo em expansão: as injeções de capital em startups feitas por empresas já somam US$ 1,3 bilhão nos últimos 20 anos, de acordo com um relatório do hub de inovação aberta Distrito.
Em outra frente, o CVC facilita a conexão com empresas emergentes quando elas ainda se encontram em estágio inicial e, consequentemente, demandam cheques menores. “Procuramos empresas que nos ajudem a antecipar tendências futuras no setor e nos ajude a manter a liderança também quando o assunto é inovação internamente”, diz Faccio.
Segundo Faccio, a criação do fundo também servirá como mais uma maneira de estreitar o relacionamento com as pequenas de base tecnológica, e não irá excluir os outros modelos de investimento feitos pela Renner nessas empresas.
O fundo prevê períodos de quatro anos de investimento e mais quatro para desinvestimento, e a ideia é investir em pelo menos dez empresas, com cheques que variam de R$ 5 milhões a R$ 15 milhões. Na mira estão startups de varejo, marketing e conteúdo, e-commerce e marketplace, soluções financeiras e logística.
“É uma estratégia de longo prazo. Podíamos apenas adquirir essas empresas ou olhar para o futuro e para o conhecimento que essa relação nos traria”, diz Faccio. “Nosso papel, como grande empresa, é também crescer a inovação na moda acelerando o que vemos que será tendência”.
"Estruturamos um fundo com o objetivo de trazer bons retornos a nós, como acionistas, à gestora por trás da operação e principalmente para as startups”, diz Guilherme Reichmann, diretor de estratégia e novos negócios da Lojas Renner.
Segundo a empresa, um critério adicional para a seleção das empresas será o comprometimento com o ESG. Assim como feita na transação envolvendo Repassa, considerada bem-sucedida pelos executivos, a ideia é evidenciar o posicionamento da Renner em favor das boas práticas sociais, ambientais e de governança. “É um relacionamento de longa data por aqui, e vamos priorizar o ESG em todos os nossos relacionamentos”, diz Faccio.