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Startup cria solução para os erros do RH na hora de contratar

Quatro co-fundadores criaram a Gupy, um aplicativo que usa inteligência artificial para melhorar processos seletivos em grandes empresas

Os empreendedores Guilherme Dias, Robson Ventura, Bruna Guimarães e Mariana Dias (à frente) na aceleradora Wayra: eles usam inteligência artificial para melhorar processos seletivos (Gupy/Divulgação)

Os empreendedores Guilherme Dias, Robson Ventura, Bruna Guimarães e Mariana Dias (à frente) na aceleradora Wayra: eles usam inteligência artificial para melhorar processos seletivos (Gupy/Divulgação)

Mariana Fonseca

Mariana Fonseca

Publicado em 22 de agosto de 2017 às 06h00.

Última atualização em 22 de agosto de 2017 às 22h17.

São Paulo – Provavelmente, você já se deparou em sua carreira com processos seletivos (e contratações) sem sentido: desde a análise de currículo até a dinâmica e a entrevista pessoal, não é sempre que as empresas acertam na avaliação e conseguem a melhor pessoa para a vaga.

Isso é ruim não apenas para quem não foi selecionado: para grandes corporações, é uma imensa dor. Não só o novo contratado não irá desempenhar à altura, mas também sua falta de aderência à cultura da empresa pode provocar uma saída abrupta – e novos gastos com processos de seleção e treinamento.

Foi o que percebeu a empreendedora Mariana Dias: por isso, ela se uniu ao irmão Guilherme Dias e aos colegas Bruna Guimarães e Robson Ventura para criar a startup Gupy. O aplicativo usa ferramentas como análise de perfil e inteligência artificial para melhorar o processo de recrutamento em grandes empresas.

A Gupy já atende empreendimentos gigantes - como Cielo e Kraft-Heinz - e acabou de receber um novo aporte de personalidades de peso no mundo do empreendedorismo.

A Canary (fundo de investimento liderado pelo fundador do Peixe Urbano Julio Vasconcelos) se uniu ao Yellow Ventures (fundo de investimento do fundador do iFood Patrick Sigrist) para aportar 1,5 milhão de reais na startup - que quer se tornar a melhor solução de recrutamento do Brasil.

Criação do negócio e acelerações

A Gupy nasceu a partir da experiência de Mariana Dias como funcionária da Ambev. Ela entrou no ano de 2011, como trainee, e de visitar fábricas passou a trabalhar na área de recursos humanos.

“Como na maioria das grandes empresas, cada vaga da Ambev que aparece no LinkedIn ou no Facebook gera milhares de candidaturas. Embora a gente tivesse esse grande volume de candidatos, tínhamos um grande ‘turnover’ [saída de funcionários]”, explica Dias.

Por isso, ela e os funcionários da área de RH começaram a pensar que talvez não estivessem recrutando as pessoas certas. “O que os candidatos que chegam ao final do funil de seleção, de fato ficam na empresa e são ‘top performers’, têm em comum? Queríamos descobrir isso.”

Com base nessas características, um algoritmo preditivo poderia indicar qual candidato tem potencial de crescer dentro da empresa. As candidaturas já seriam ranqueadas e o pessoal de recursos humanos poderia direcionar o tempo perdido no processo operacional e subjetivo de selecionar currículos para focar nas entrevistas.

Com essa ideia em mãos, Dias decidiu empreender no ano de 2015. “Foi difícil sair da Ambev. Tinha acabado de receber o convite de virar uma pré-sócia da Ambev, mas vi que iria me arrepender pelo resto da vida se não tocasse o projeto.”

Dias convenceu uma colega de trabalho, Bruna Guimarães, da oportunidade de mercado. As duas abandonaram o emprego, venderam seus carros, foram morar juntas e começaram a fazer contas para enxugar ao máximo o futuro empreendimento.

Logo, outros sócios entraram no negócio: Guilherme Dias, o irmão de Mariana, e Robson Ventura. Ao todo, 40 mil reais foram investidos para começar o Gupy. “Rodamos nosso primeiro ano com esse valor e com muitas parcerias de desenvolvimento“, explica a empreendedora.

O aplicativo começou validando sua ideia em diversas empresas. ”Quando percebemos a demanda, no lugar de procurar um investimento-anjo para continuar a aprimorar o produto, buscamos uma grande empresa que pudesse comprar da gente.”

No caso, foi a empresa de alimentos Kraft Heinz. Segundo Dias, a Gupy conseguiu reduzir em 80% a carga operacional de recursos humanos e aumentar o engajamento dos candidatos no processo seletivo em três vezes. “Antes, era um processo travado e as pessoas desistiam.”

Os bons resultados vistos na gigante de alimentação trouxeram novos clientes. Hoje, a Gupy atende também marcas como Cielo, Movile e Somos Educação. A startup não abre o número de grandes empresas que contratam o serviço.

Como funciona?

O primeiro passo da Gupy é fornecer um sistema de gestão de recrutamento para seus clientes. A partir das informações inseridas nesse sistema, uma análise é feita para elencar as características em comum dos funcionários mais produtivos.

“A primeira parte é fazer esse mapeamento: a empresa insere quais pessoas representam a cultura da empresa. Tais funcionários irão responder perguntas e, com base nisso, temos um primeiro input para rodar o 'match' entre novos candidatos e ‘top performers’.”

Só então o algoritmo de inteligência artificial da Gupy começa a operar e faz seu ranqueamento automático dos currículos em cada processo seletivo.

Por meio do mesmo software, a empresa consegue ter uma visão completa das etapas do processo: é possível gerenciar métricas e contatar funcionários e gestores, para dar feedbacks.

“Queremos que o tempo de fechamento de vaga seja mais curto, mas que seja mais eficiente: não só em rapidez, mas no número de funcionários de recursos humanos necessários e no ‘turnover’ de funcionários com até um ano de empresa”, diz Dias.

“Agora, os gestores também podem ser incluídos desde o início: eles podem dar mais inputs ao nosso algoritmo, acompanhar o processo e verificar métricas para entender a diversidade de seus funcionários.”

O negócio contratante da Gupy paga uma mensalidade fixa – que vai de 850 a 20 mil reais, dependendo do número de vagas abertas por mês.

“Tínhamos foco em estágio e trainee no começo, mas fomos abrindo para vagas operacionais e de liderança. Hoje, conseguimos atender 100% das oportunidades, o que refina o algoritmo do nosso produto.”

Aceleração, investimento e futuro

No ano passado, a Gupy passou por uma aceleração na Wayra, da Telefônica. “Como a gente nunca tinha empreendido, entendemos realmente como fazer um modelo Agile [metodologia de eficiência para empresas] e como ganhar tração. Além disso, tivemos contatos com grandes empresas, que ficam mais confortáveis de saber que a Telefônica está por trás e tem uma participação na startup.”

Desde abril deste ano, a Gupy ganhou uma nova casa: o Google Campus, espaço de empreendedorismo localizado em São Paulo. Dias ressalta que, mais do que infraestrutura, o diferencial da residência são as conexões.

“O Google escolheu oito startups para passarem um tempo em seu centro de inteligência artificial no Canadá – e nós fomos uma delas. Já na primeira semana de residência eles trouxeram googlers do mundo inteiro, especialistas em assuntos como experiência do usuário, e eles sentaram conosco para ajudar no negócio.”

A novidade mais recente é o recém-fechado acordo de investimento da Canary e do Yellow Ventures, no valor de 1,5 milhão de reais.

“São pessoas bem experientes do mercado e elas irão ajudar a ganhar tração por meio de aprimoramento das áreas comercial, de vendas e de desenvolvimento.”

O objetivo final? Tornar-se a melhor solução de recrutamento no país. “O país está bem atrasado quanto a isso e há poucos players nesse mercado, o que significa muita oportunidade. Nossa meta é crescer o mais rápido possível: queremos triplicar o faturamento neste ano em relação ao visto em 2016, além de alcançar novos estados com um produto mais bem preparado para tal.”

A startup não abre números absolutos de faturamento, por condições impostas no contrato de aporte. No mês que vem, uma nova versão da Gupy será lançada.

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