Tecnologia: a Indigosoft usa tecnologia para automatizar processos (Thinkstock/Thinkstock)
Mariana Desidério
Publicado em 20 de março de 2018 às 06h00.
Última atualização em 20 de março de 2018 às 12h05.
São Paulo – A perda de vagas no mercado de trabalho devido ao avanço da tecnologia é uma realidade inevitável, e o Brasil deveria estar mais atento a isso. Esta é a visão de Fabrício Martins, CEO da Indigosoft, empresa que faz automação de processos e já fechou 4.800 vagas de emprego desde que começou a atuar no Brasil.
“Esse assunto ainda é muito velado hoje, inclusive para as empresas que nos procuram”, afirma.
A Indigosoft fabrica soluções usando inteligência artificial e big data para automação de processos. No mercado brasileiro de 2015, tem clientes em setores como contact centers, telecomunicações e educação. Dentre os mais expressivos estão Vivo e Nextel.
O CEO exemplifica o tipo serviço oferecido pela empresa: no caso da Vivo, quando um cliente ligava para reclamar de problemas na internet, por exemplo, o atendente precisava buscar informações em diversos sistemas diferentes para descobrir o que estava acontecendo.
“Agora ele aperta um botão e o nosso sistema busca automaticamente em todos os bancos de dados onde pode estar o problema, se é falta de pagamento ou uma falha no sinal da região, por exemplo”.
Outro caso interessante é o de um grupo de faculdades. “É uma rede que fez aquisições recentemente e cada uma das bandeiras adquiridas usa um software de gestão diferente. Se um professor dava aulas em três bandeiras do grupo, era preciso ir em cada um desses sistemas conferir o ponto dele para processar o pagamento”, explica.
Segundo Martins, esse trabalho era feito por uma equipe de 630 pessoas, era demorado e tinha muitos erros. Com a solução criada pela Indigosoft, agora o processo é automático. A equipe que processava isso não existe mais.
De acordo com um estudo recente feito pela consultoria McKinsey, metade dos atuais postos de trabalho no mundo poderiam ser automatizados. “Entre 400 e 800 milhões de indivíduos poderão perder seus empregos devido à automação e precisarão encontrar novos empregos até 2030”, diz o relatório.
Porém, isso não significa necessariamente que essas pessoas permanecerão desempregadas. O estudo indica que haverá novos empregos disponíveis, mas “75 a 375 milhões talvez precisem mudar de categoria ocupacional e aprender novas habilidades”.
Na visão de Martins, a sociedade precisa discutir esse tema mais abertamente. “Penso nisso todos os dias. Estamos investindo na produção de vídeos sobre esse assunto que sirvam para escolas e famílias pensarem sobre o futuro da mão de obra e orientarem os jovens. Queremos incentivar as pessoas a pensarem sobre isso antes do caos acontecer. Esse é nosso trabalho social”, afirma.
O empreendedor arrisca um palpite sobre o futuro do mercado de trabalho: “O robô pode ser muito melhor que o humano em atividades técnicas, mas na criatividade não. O caminho do futuro é o da criatividade”, diz.
Criada no Vale do Silício e financiada por fundos americanos, a tecnologia usada pela Indigosoft é chamada de RPA 2.0. Ela foi desenvolvida inicialmente para atender a uma demanda do mercado de seguros americano.
Na época em que conheceu a solução, Martins presidia um contact center e estava em busca de soluções para melhorar sua rentabilidade. “Testei todas as tecnologias disponíveis até que fui apresentado à Indigosoft”, lembra.
Reconhecendo o potencial da tecnologia, o empreendedor comprou a empresa dos fundos americanos em 2016, e hoje tem a patente de seus produtos tanto aqui quanto nos Estados Unidos. O valor da aquisição não é revelado.
A Indigosoft faturou 32 milhões de reais no ano passado, e espera fechar 2018 com um faturamento de 100 milhões de reais.
Hoje a empresa tem quatro soluções de automação digital de processos, inclusive usando reconhecimento de áudio. Isso permite, por exemplo, que um cliente ligue para uma operadora e simplesmente diga “estou com problemas na internet”, em vez de esperar as tediosas opções do atendimento automático comum.
Agora, a Indigosoft busca investimento e quer levantar aporte da ordem dos 60 milhões de dólares. Para 2018, o plano é a internacionalização, com foco inicial em países da América Latina como Colômbia e Peru.