Rappi (Carlos Jasso/Reuters)
Tamires Vitorio
Publicado em 12 de julho de 2019 às 11h49.
Última atualização em 12 de julho de 2019 às 20h08.
São Paulo — O relato da morte de um entregador da Rappi ao levar uma encomenda tomou conta das redes sociais na última segunda-feira (8).
Thiago de Jesus Dias, de 33 anos, foi vítima de um AVC enquanto entregava o pedido da advogada Ana Luísa Pinto em Perdizes, Zona Oeste de São Paulo, na noite de sábado (6) — uma das mais geladas deste inverno.
Ao entrar em contato com a empresa para relatar que Dias estava passando mal, segundo relato publicado no Facebook, Ana teve uma resposta que a mesma define como "sem qualquer sensibilidade". "A Rappi nos pediu para que déssemos baixa no pedido para que eles conseguissem avisar os próximos clientes que não receberiam seus produtos no horário previsto", conta.
A empresa afirmou em nota enviada a EXAME que lamenta a morte de Thiago e informa que "está buscando melhorias em seus processos".
"A empresa criou um botão de emergência, que está disponível dentro do aplicativo dos entregadores, por meio do qual os mesmos poderão optar por acionar diretamente o suporte telefônico da Rappi — que contará com equipe especializada — ou as autoridades competentes (caso se deparem com situações relacionadas à saúde ou segurança)", diz o comunicado.
A Rappi não informou se dará algum tipo de ajuda financeira aos parentes de Dias, uma vez que os motoristas de aplicativo, geralmente, não têm vínculo empregatício com a empresa.
Em entrevista ao site G1, os irmãos de Dias afirmaram que o mesmo "trabalhava até 12h por dia".“Eram jornadas de mais de 12 horas de trabalho, uma rotina muito cansativa. E era de segunda a segunda, porque era difícil ele tirar uma folga”, contaram ao site.
A situação de Dias representa a de outros muitos brasileiros. No Brasil, existem 13 milhões de desempregados, segundo o IBGE. Por isso, o trabalho informal se torna uma opção.
De acordo com Ana, Dias "narrou dor de cabeça forte, náusea e pressão baixa", "tremia muito e vomitou algumas vezes" e depois disso desmaiou. "Parecia que ele estava tendo uma convulsão, seu corpo e membros todos rígidos e sua respiração bastante dificultosa fazia bastante barulho", disse Ana.
Depois de tentar contato com a empresa, Ana e os amigos tentaram ligar para o Serviço de Atendimento do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) e para os bombeiros. Àquela altura, já haviam telefonado para a irmã de Dias, Dayane, que se deslocou até o local. "Explicamos a situação e ela, prontamente, se propôs a nos encontrar na calçada em que aguardávamos a ambulância", diz.
Sem sucesso com o SAMU, tentaram pedir um Uber para levar Dias para o hospital. "Carregamos ele para dentro do carro sob o argumento de que omissão de socorro é crime, mas nada adiantou. O motorista se recusou a fazer a viagem", afirma.
Até o momento da publicação desta reportagem, a Uber ainda não havia se pronunciado sobre o caso. De acordo com o jornal Folha de São Paulo, o SAMU informou que abriu um procedimento para verificar todas as circunstâncias que envolveram o atendimento de Thiago e que adotará as medidas cabíveis.
"Nesta mesma hora, um carro com amigos de Thiago chegou, rapidamente o transferiram de um carro para o outro e saíram em disparada para o Hospital das Clínicas, bem próximo de onde estávamos", conta Ana. Dias chegou a dar entrada na UTI, onde ficou internado até falecer, na segunda-feira.
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