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Empreendedorismo esportivo: negócios do setor recuperam fôlego na pandemia

Após faturamento cair 52% na pandemia, empreendedores do setor esportivo planejam-se para a recuperação, com foco no online e em atividades ao ar livre

Rafael Correia Viana e Gustavo Cesar Galego, proprietários da Fun7 Sports, de Sorocaba (SP): empresa aberta na pandemia se ajustou aos novos padrões do esporte (Flávio Florido/Sebrae/SP)

Rafael Correia Viana e Gustavo Cesar Galego, proprietários da Fun7 Sports, de Sorocaba (SP): empresa aberta na pandemia se ajustou aos novos padrões do esporte (Flávio Florido/Sebrae/SP)

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Da Redação

Publicado em 25 de setembro de 2021 às 09h00.

Por Marcos Leodovico, do Jornal de Negócios do Sebrae/SP

Um dos segmentos mais afetados pela pandemia de Covid- 19, os negócios ligados ao esporte – como academias, personal trainers e complexos esportivos – começam a vislumbrar uma luz no fim do túnel. O avanço da vacinação e a crescente flexibilização das atividades fazem com que empreendedores dessa área retomem os planos interrompidos e até pensem em crescimento.

Segundo a mais recente pesquisa realizada pelo Sebrae em parceira com a Fundação Getúlio Vargas (FGV) sobre o impacto do coronavírus nas micro e pequenas empresas, as academias e negócios relacionados a atividades esportivas chegaram a sofrer uma redução de 52% no faturamento em relação a um mês normal de funcionamento, só ficando atrás dos setores de beleza, economia criativa e turismo.

Além disso, 36% alegaram estar com dívidas em atraso. A consultora em gestão fitness e educadora física Eliane Rocha foi uma das profissionais que sentiram o golpe. Com a chegada da pandemia, a moradora de Indaiatuba conta que foi pega de surpresa com a suspensão das atividades. Naquele momento, sua ideia inicial foi montar um grupo de apoio com os profissionais da área para entender a situação e aguardar soluções.

"Não sabia o que fazer, fiquei com um sentimento de impotência. Não sabia nem por onde começar para me adaptar e adaptar meu negócio”, diz Eliane. “Era uma enxurrada de achismo na internet, todo mundo mostrava solução para algo que até então não tinha solução. Na época, eu tive a ideia de montar um grupo no WhatsApp para entender o que estava acontecendo; foi a forma que encontrei para unir os profissionais da área e formar uma corrente de ajuda”, explica.

Observando as dificuldades dos empreendedores do segmento, o escritório regional do Sebrae-SP em Campinas lançou o programa Empreenda Rápido: Esporte, que já teve duas turmas. O objetivo foi mostrar técnicas de gestão, tratar de temas como mercado e prestação de serviços. Segundo o gerente regional do Sebrae-SP em Campinas, Nilcio Freitas, a ideia era ajudar um setor que nem sempre é associado ao empreendedorismo, dando atenção especial a profissionais autônomos, como fisioterapeutas e educadores físicos, além de donos de complexos esportivos, academias e realizadores de eventos.

“O setor sofreu muito com a pandemia. O personal trainer, por exemplo, não estava mais podendo sair de casa. Ele tinha que se adaptar diante daquela situação que era nova”, diz Freitas. “Muitos trabalhavam com o pessoal da terceira idade, que também ficou recluso no começo. O público continuava querendo as aulas, mas não podia fazer, e de alguma maneira esse empreendedor precisaria se reinventar para dar continuidade ao seu serviço, tanto na parte dos protocolos quanto na parte de atendimento. Mas o principal naquele momento era mostrar como atender de outras formas”, afirma o gerente.

Abordagem

A educadora física Eliane, que passou pelo curso, conta que o foco principal foi na abordagem do cliente e em quais canais ela poderia obter mais resultado, além de oferecer a oportunidade de trocar experiências com outros profissionais da área. “O curso trouxe um olhar profundo sobre o público-alvo e o nicho em que estamos inseridos. Pudemos ver a forma correta de abordagem para cada tipo de cliente e pude fazer uma análise disso. Além do conteúdo – que foi muito bom – conseguimos trocar ideias e conversar bastante sobre o que já tínhamos feito, levando conhecimento uns aos os outros”, detalha.

Com o conhecimento adquirido, Eliane já começa a fazer planos para trazer mais clientes e expandir seu negócio nas mídias digitais. “Agora, o próximo passo é me aprofundar no conhecimento sobre vendas nas redes sociais, até porque o online veio para ficar. Uma coisa é você estar ali com o cliente, outra coisa é você atingir um certo público em meio a tantas ofertas que existem na internet”, conclui.

O gerente Nilcio Freitas lembra que o golpe da pandemia também atingiu pessoas envolvidas com diversas atividades correlatas, como vendedores de porta de estádio, produtores de eventos para a área e proprietários de complexos esportivos. “Esses profissionais ficaram sem solução do dia para a noite com as interrupções das atividades. Foi assim com o pessoal do turismo, eventos e o setor de beleza. Mas esses setores sempre têm programas prontos para dar suporte aos empreendedores, já o pessoal que vive do esporte não tinha tanto auxílio”, conta.

Nascido na crise

Os sócios Rafael Viana e Gustavo Galego sabem bem dos problemas causados pela pandemia. Eles são donos da Fun7 Sports, complexo esportivo recém-aberto na cidade de Sorocaba com quadras de areia e um campo de gramado sintético, que tem como principais atividades o futebol society, futevôlei, beach tênis e vôlei de praia.

A ideia surgiu em 2020, com Viana e seu pai, que sonhavam em ter um empreendimento para a prática de esportes, mas a concretização do local só ocorreu neste ano. “Eu e meu pai tínhamos a ideia de montar a Fun7 dentro de um clube, mas tivemos alguns problemas e acabou não dando certo. Começamos a pesquisar e ver possíveis lugares para a construção do local. Depois de muita procura e pesquisa, achei um terreno grande e de fácil localização. Foi quando meu pai entrou para negociar os valores do imóvel”, conta Viana.

A ideia inicial era ter duas quadras de areia e uma quadra de futebol society, mas o desenho do local mudou várias vezes. Nesse período, Viana tocava o projeto sozinho, enquanto Galego cumpria seus últimos dias empregado como personal trainer em uma franquia de academias. “Fiquei naquele emprego fixo durante quatro anos. Larguei tudo para dar foco total ao nosso sonho”, conta.

Com a obra em andamento em meio a pandemia, os proprietários planejavam como seria o atendimento ao público dentro dos protocolos sanitários. Porém, novo imprevisto: o pai de Viana e idealizador do projeto teve Covid- 19. “Durante um mês, o Gustavo Galego ficou tocando a obra sozinho presencialmente. Eu não podia sair de casa, pois, além do meu pai, minha namorada também teve Covid. A única coisa que me restou foi ficar isolado e aguardar notícias dele sobre como andava a construção.

Eu trabalhava de casa pelo computador. Isso foi muito difícil, pois tinha algo acontecendo e eu não estava vendo”, explica Viana. Adaptar o local para receber o público e os praticantes das modalidades esportivas oferecidas no local era uma grande preocupação dos sócios. “Aqui, todo mundo faz exercício em um lugar ao ar livre. Tirando o futebol, os outros esportes não têm contato físico direto, mas sempre estamos deixando bem claro aos nossos clientes sobre os cuidados e protocolos que estão sendo tomados”, explica Viana.

Apesar de a pandemia ainda causar muitas dificuldades para os negócios ligados ao esporte, os sócios da Fun7 já pensam em incorporar parte de um terreno vizinho e expandir a empresa. “Os sonhos são muitos. Toda hora que sentamos para conversar, milhares de ideias surgem”, finaliza Viana.

 

Ar livre

Se por um lado a pandemia atrapalhou a prática de esportes que exigem contato físico e, consequentemente, os negócios ligados a eles, favoreceu as modalidades ao ar livre que permitem algum distanciamento.

É o caso do futevôlei, principalmente no momento em que ocorreram flexibilizações para o funcionamento das atividades. O futevôlei foi uma das primeiras práticas a retornar, enquanto esportes como futebol de quadra ou academias ainda estavam fechados.

Quem estava ligado ao futevôlei, portanto, conseguiu sair na frente. “Quando começamos o nosso processo com o futevôlei cinco anos atrás, o esporte não estava tão famoso quanto está hoje. Por conta da pandemia, fecharam muitas academias e as pessoas acabaram indo praticar um esporte ao ar livre”, afirma Ricardo Tiwata, diretor-executivo da marca de uniformes esportivos Athleta, que investe na imagem do futevôlei. Fundada em 1935, a Athleta foi responsável pelas camisas da seleção brasileira de futebol nas Copas do Mundo de 1958, 1962 e 1970.

Com 12 franquias espalhadas pelo País, hoje a empresa produz uniformes também para futsal, além de acessórios esportivos, como mochilas e máscaras, entre outros. A empresa tem como garoto-propaganda da sua linha de futevôlei o jogador Fábio Soares, mais conhecido como Bello, e considerado o maior campeão do esporte, somando 29 torneios nacionais e nove títulos mundiais. Segundo Tiwata, a associação com a imagem de Bello tem ajudado a expandir a marca para o esporte que ganha cada vez mais força e adeptos no Brasil. “Além da busca pelo ar livre, as pessoas também procuram um lifestyle e a areia e o sol trazem essa ‘terapia’”, completa.

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