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Empreendedorismo e aposentadoria: como preparar o terreno para o futuro

Planejadora financeira dá dicas para empreendedores que pensam na longevidade e conforto financeiro no futuro

Aposentadoria e empreendedorismo: como pensar no futuro? (Creatas Images/Thinkstock)

Aposentadoria e empreendedorismo: como pensar no futuro? (Creatas Images/Thinkstock)

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Da Redação

Publicado em 20 de maio de 2021 às 12h52.

Última atualização em 20 de maio de 2021 às 15h19.

Por Paula Bazzo, planejadora financeira

Cássia é dentista. Há 35 anos montou seu pequeno consultório e hoje, com 68 anos, continua completamente apaixonada pela profissão que escolheu. Recentemente me confidenciou, meio cabisbaixa, que está perdendo performance. Isso não prejudica o trabalho, mas ela percebe que precisa de muito mais tempo para realizar tarefas que antes fazia com mais agilidade, tanto de gestão quanto de atendimento ao paciente. Falou que adoraria diminuir bem o ritmo de sua atuação, mas estava bastante preocupada pois, apesar de já ter se aposentado e ter uma renda do INSS, o que ganha não é suficiente para a qualidade de vida que gosta de ter.

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Em outra cidade, Bruno, um amigo de amigo, dedicou uma vida inteira à sua pequena fábrica de móveis. Tentou de tudo para que seus filhos se envolvessem nos negócios. Para a sua desilusão, isso não aconteceu. Tem uma equipe fiel, são anos de muita confiança e parceria, mas todos envelheceram juntos. Os 74 anos de hoje começaram a pesar na hora de “carregar o caminhão” para a entrega. Ainda assim, ele continua firme todos os dias, porque “as contas não param de chegar”.

As histórias de Cássia e Bruno, reais, com nomes fictícios, retratam um comportamento de muitos empreendedores no nosso país: empreendem porque amam o que fazem e o fato de não imaginarem parar de trabalhar faz com que negligenciem o planejamento para a aposentadoria. Mas, cedo ou tarde, o futuro se faz apresente. Não à toa, há uma instituição no Governo Federal preocupada com a previdência social: posentadoria é assunto sério!

Dados do Banco Mundial retratam que somente 11% da população brasileira guarda dinheiro para aposentadoria e apenas 1% consegue ser economicamente livre.

Só esses motivos talvez já seriam suficientes para justificar o porquê um empreendedor deveria olhar com atenção para o seu futuro. Sim, você ama trabalhar, mas será que você nunca vai poder escolher descansar e se permitir uma velhice tranquila, em que as contas e custos não ditem sua vida?

E mesmo que o prazer de trabalhar esteja presente na sua vida, o que é uma atitude positiva e que mantém a mente ativa, alguma doença abrupta pode lhe impedir de continuar trabalhando ou mesmo a idade avançada que chega e nem percebemos. Contudo, nem sempre será a saúde ou a idade que fará com o quê você queira parar de trabalhar. Meu avô, na juventude de seus 96 anos, tem uma mente afiada como poucos, continua cuidando das árvores do seu jardim, mas precisa de pausas longas. As vistas já não capturam os detalhes como antes, estão cansadas! Há tempos já não acompanha as novas tecnologias. Além disso, os cuidados com a minha avó demandam tempo... Ainda que saudável e lúcido, já não tem mais a energia de antes.

É inegável que a qualidade de vida possibilitou uma população mais longeva. Por outro lado, a necessidade de recursos acumulados para garantir que a tranquilidade financeira acompanhe esta longevidade também aumentou.

Estratégias para cuidar do seu futuro

Quando falo empreendedor, me refiro não somente a quem é dono de um pequeno negócio. Mas também àquelas pessoas que trabalham de forma autônoma como um psicólogo, fisioterapeuta, consultores independentes.

Como todas essas pessoas têm o dom de gerar seus próprios recursos financeiros a partir do trabalho que desenvolvem, têm uma vida de aventuras econômicas e não costumam ter uma renda fixa, o que torna desafiador planejar. Há os meses de bonança, mas há também os meses de aflição. Nessa montanha-russa financeira, como pensar em fazer uma contribuição todos os meses para o futuro?

Diferente de um profissional que trabalha com carteira assinada, que tem alguém que compulsoriamente está contribuindo para o futuro, o pequeno empresário ou o autônomo precisa ter uma autorresponsabilidade muito grande. Se ele não pensar na própria aposentadoria, quem irá?

De fato, não precisa ser uma única estratégia. É possível fazer um mix entre previdência pública, previdência privada, carteira de investimentos e outras fontes de renda.

Não raro escuto relatos justificando deixar para depois, pois “como vou guardar dinheiro, se mal pago minhas contas?” Se você não está dando conta, é hora de fazer suas contas.

É preciso enxergar a contribuição para o seu futuro como algo fixo. Assim como você sempre se vira para pagar o aluguel, você sempre tem que se virar para pagar o seu futuro. E isso passa por incluir essa conta na relação de despesas fixas. Se esse valor não entrar na programação de pagamentos, seu serviço ou produto será sub precificado e, de fato, não sobrará nada para você investir. É o seu presente que vai construir o seu futuro.

Outro aspecto muito importante é deixar o orgulho de lado. Abrir espaço para entender os tempos da vida. Se não organizarmos a vida que queremos, teremos que nos adequar à vida que escolhemos não controlar.

 

A Cássia, da nossa história, encontrou uma boa solução: ofereceu a gestão de seu consultório para um jovem dentista cheio de energia que, além de lhe pagar com aluguel mensal pelo uso da estrutura, também permite que ela seja remunerada em sua atividade, trabalhando duas vezes por semana. Ela precisou fazer algumas reduções no custo de vida, mas o mix de renda passou a deixar mais leve essa etapa de sua vida.

Já o Bruno não teve a mesma sorte. Está há alguns anos procurando um sucessor. Segue trabalhando firme, arrependido de ter sido teimoso quando poderia ter feito um pouquinho a cada ano. Não acha ruim trabalhar, mas se sente impotente por não ser livre para poder escolher.

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