Pequenos negócios: 44% dos empreendedores que estudaram até o Ensino Médio precisaram interromper temporariamente o funcionamento de seus negócios (Tomaz Silva/Agência Brasil)
Carolina Ingizza
Publicado em 6 de julho de 2020 às 12h51.
A crise causada pelo coronavírus atingiu os pequenos negócios como um todo. Do total, 87% relatam ter perdido faturamento desde que a situação da doença se agravou no país. Nova pesquisa do Sebrae com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), no entanto, mostra que os impactos não foram uniformes. Os pequenos negócios geridos por donos com menor nível de escolaridade foram mais afetados.
O estudo, feito entre 29 de maio e 2 de junho, mostrou que entre os 7.403 empresários entrevistados, aqueles que estudaram até o Ensino Médio ou menos têm mais dificuldade para manter a operação da empresa digitalmente.
A pesquisa mostra que 44% desses empreendedores precisaram interromper temporariamente o funcionamento de seus negócios, contra 41% dos empresários com nível superior. Eles enfrentam mais dificuldades, porque 47% dessas empresas só funcionam presencialmente, enquanto 33% das empresas geridas por empreendedores com mais escolaridade atuam somente no mundo físico.
“A gente sabe que baixa escolaridade está associada a baixa renda. Muitas vezes, esse empreendedor está na periferia das grandes metrópoles, trabalha em negócios que dependem do presencial, então são duplamente prejudicados”, diz Marco Bedê, analista de Gestão Estratégia do Sebrae.
Dos 4% que conseguiram aumentar as vendas durante a pandemia, o percentual de empresários de nível superior que passou a vender seus produtos de forma online a partir da pandemia (41%), é maior que o de empreendedores com Ensino Médio ou menos (37%).
As plataformas utilizadas também variam conforme o grau de escolaridade. Os empresários com grau menor utilizam mais o WhatsApp e menos o Instagram, Facebook e sites próprios. Entre os empresários com maior escolaridade, 56% utilizavam o Instagram, enquanto só 37% dos que estudaram até o Ensino Médio usavam a ferramenta.
“Eles têm inserção digital menor, o que seria a válvula de escape para essa situação de crise”, afirma o analista do Sebrae.
Em relação a faturamento, as diferenças são menores: 88% dos menos escolarizados sentiram queda na receita mensal, assim como 86% dos mais escolarizados.
O empreendedor que estudou até o Ensino Médio ou menos, em geral, é microempreendedor individual (73%) e trabalha no comércio (50%), em negócios recentes. Em comparação, 45% dos mais escolarizados são MEI e, em sua maioria, trabalham no setor de serviços.
Além disso, esse público está proporcionalmente mais situado em municípios com maior restrição na circulação de pessoas, sendo 60% dos negócios localizados em municípios onde houve fechamento parcial e 7%, fechamento total.
Em relação a dívidas, 23% dos empreendedores com menos escolaridades estão endividados, enquanto 30% dos empreendedores com nível superior possuem dívidas.
A pesquisa mostra que o empresário que estudou até o Ensino Médio ou menos pediu menos empréstimos durante a crise e teve mais recusas em relação ao outro grupo. “Eles sabem que os bancos são avessos a empréstimos a negócios de maior risco, por isso buscam menos que os outros”, diz Marco Bedê.