Luciana Caletti, co-fundadora da Love Mondays: ela largou uma carreira consolidada em Londres para abrir um negócio próprio no Brasil (Latam Founders/Divulgação)
Mariana Fonseca
Publicado em 9 de junho de 2017 às 06h00.
Última atualização em 9 de junho de 2017 às 06h00.
São Paulo – Luciana Caletti foi eleita recentemente a empreendedora do ano, na premiação Gala Latam Founders – o “Oscar das startups” na América Latina.
Sua empresa – o site brasileiro de avaliação de empresas, salários e vagas de emprego Love Mondays – foi criada em 2013, juntos aos sócios Dave Curran e Shane O’Grady.
O negócio protagonizou no ano passado um momento marcante para qualquer startup: o exit, ou seja, a venda do negócio para outra empresa.
No caso, foi para a americana Glassdoor: nada menos que o empreendimento que inspirou a criação da Love Mondays. Os detalhes financeiros da transação não foram divulgados.
“A venda representou um reconhecimento do nosso trabalho – estamos fazendo quatro anos agora - e do Brasil”, contou a empreendedora. “Fomos adquiridos e, hoje, fazemos parte de uma empresa global.”
Em entrevista a EXAME.com por telefone, Caletti falou sobre como começou a empreender. Além de descrever as razões para criar a Love Mondays, deu dicas a mulheres que também querem fundar suas próprias empresas.
Confira os principais trechos da conversa com a empreendedora do ano:
EXAME.com - Como você descobriu que queria ser uma empreendedora?
Luciana Caletti - Eu tive o sonho de empreender já quando era pequena. Nasci em uma família de empreendedores. Mas eu queria ter uma experiência no mundo corporativo antes, porque isso me prepararia melhor.
Sou formada em Direito, mas já sabia quando terminei que não queria trabalhar na área. Então, trabalhei com consultoria em gestão por alguns anos e fiz um MBA em Londres. Depois, fui para a área de marketing lá mesmo.
A gente vai crescendo na carreira e chega um tempo em que nos acomodamos. Tudo vai ficando mais confortável. Chegou um momento na minha carreira que eu resolvi: “agora eu vou empreender, ou não empreendo nunca mais”. Voltei para o Brasil e comecei a Love Mondays junto com meus sócios [Dave Curran e Shane O’Grady].
De onde surgiu a ideia da Love Mondays?
A gente percebeu que, aqui no Brasil, os profissionais ainda estavam tomando decisões de carreira no escuro. Você só sabia como era uma empresa quando você, efetivamente, começava a trabalhar nela.
Tendo morado lá fora, nós já usamos o Glassdoor e achávamos uma ferramenta muito interessante, pois empodera o profissional: você recebe mais informações e pode tomar uma decisão que tem mais a ver com a sua carreira. A gente sentia falta de algo parecido no Brasil.
Criamos um modelo parecido, onde os próprios profissionais fornecem dados e mostram a outras pessoas como é o ambiente de trabalho antes de entrar em cada empresa. Assim nasceu a Love Mondays.
Fiquei dez anos fora do Brasil e, quando eu saí, ainda não se falava em buscar um propósito no trabalho, buscar um lugar com cultura alinhada às suas, onde você possa ser você mesmo.
Quando eu voltei, em 2013, todo mundo falava disso. As pessoas falavam mais sobre achar um local onde você se encontre, enquanto empresas falavam de buscar profissionais com sua cultura, com seus valores. A mudança cultural reforçou minha crença de que o modelo da Love Mondays daria certo por aqui.
Quão importante foi para você a venda da Love Mondays para a Glassdoor? Quais são os próximos passos?
A venda representou um reconhecimento do nosso trabalho – estamos fazendo quatro anos agora - e do Brasil. O Glassdoor começou a olhar para a América Latina e viu que a gente estava fazendo um bom trabalho e crescendo de maneira bem acelerada. Eles resolveram chegar até aqui não como concorrente, mas como um parceiro nosso.
Foi algo muito legal para a gente, pois nós sempre nos ligamos neles e temos um feedback cultural muito bacana com a Glassdoor. Fomos adquiridos e, hoje, fazemos parte de uma empresa global.
Com a aquisição e o consequente investimento, estamos crescendo ainda mais rápido. Lançamos na Argentina e no México no começo do ano, e nossa meta é consolidar nossa presença nesses países e no próprio Brasil.
Quais conselhos você daria para mulheres que querem abrir sua própria empresa?
É importante você buscar sócios com habilidades complementares às suas. Muitas vezes, a gente procura quem é parecido com a gente – jovens que saem da faculdade e resolvem abrir um negócio com o melhor amigo, por exemplo.
Você precisa entender se as pessoas com quem você vai começar um negócio têm habilidades muito parecidas com as suas – se possuem, talvez não seja a melhor parceria para o empreendimento.
Outro ponto é buscar pessoas com visão alinhada à sua. Decida se você quer abrir um negócio e ficar com ele até se aposentar ou se você tem visão de buscar investimentos de fundos de venture capital e posteriormente vender o negócio.
São metas prematuras, mas importantes: você buscar ou não investimento é algo que muda completamente a dinâmica da sua empresa, pois o investidor irá precisar de um exit ou alguma outra forma de retorno.
Alinhar suas visões de médio e longo prazo é fundamental. Vejo algumas startups, depois de alguns anos de fundação, terem problemas por essa falta de alinhamento.
Por fim, acho que é importante também você se cercar de pessoas que apoiem uma liderança feminina. Por exemplo, tem alguns momentos em que você está conversando com um investidor e, na hora em que ele faz uma pergunta sobre finanças, olha para o homem. Perceba sinais e faça escolhas conscientes de que tipo de pessoa você irá se cercar.
Acho que eu tive sorte nisso, tanto com meus sócios quanto meus investidores. Eles sempre apoiaram uma liderança feminina, assim como meus funcionários.