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Este empreendedor constrói casas com o que você joga no lixo

O colombiano Oscar Méndez trabalhou por anos com plástico. Então, decidiu ensinar empresas e pessoas a reciclarem esse material por um bem maior: moradias.

Oscar Méndez, da Conceptos Plásticos, em moradia construída pelo negócio (Conceptos Plásticos/Divulgação)

Oscar Méndez, da Conceptos Plásticos, em moradia construída pelo negócio (Conceptos Plásticos/Divulgação)

Mariana Fonseca

Mariana Fonseca

Publicado em 6 de novembro de 2016 às 08h00.

Última atualização em 6 de novembro de 2016 às 08h00.

São Paulo – Quem acompanha o mundo do empreendedorismo sabe que novas empresas surgem todos os dias, solucionando problemas que nem imaginávamos ter. Porém, uma nova onda de negócios quer ir além e resolver deficiências que estão na sociedade há muito tempo.

São os chamados empreendimentos sociais: suas ideias de negócio, que aliam lucro com uma missão maior, podem cruzar fronteiras e ajudar outros países que enfrentam problemas similares.

É o caso da empresa colombiana Conceptos Plásticos: por meio da reciclagem de plásticos abandonados por companhias e pessoas físicas, o negócio consegue criar blocos para montar moradias - como se fossem peças de Lego em tamanho real.

Além de ajudar o meio ambiente, a empresa diminui o déficit habitacional e promove melhores condições econômicas e sociais para quem mais precisa - uma situação que é tão parecida com a brasileira que a Conceptos Plásticos pretende chegar ao país em breve.

"O que queríamos não encontramos em outro lugar. Exatamente por isso que fizemos", resume Oscar Méndez, um dos co-fundadores do negócio.

A Conceptos já foi responsável por construir casas, refúgios e um centro de saúde - e recebeu um prêmio de 300 mil dólares por essa iniciativa de empreendedorismo social.

Mudança de planos e missão empresarial

O colombiano Oscar Méndez é um arquiteto que trabalhou quatro anos na indústria de plástico. Então, decidiu aproveitar a experiência adquirida para criar sua própria empresa, com um caráter mais sustentável.

A Conceptos Plásticos nasceu em 2010, em Bogotá. Segundo Méndez, o negócio começou focada apenas no compromisso ambiental das empresas: a startup ensinava companhias a fazer uma disposição correta dos seus resíduos plásticos, por meio da reutilização.

Até que a Conceptos Plásticos teve uma mudança tanto em missão empresarial quanto em modelo de negócio – um movimento conhecido como pivot no mundo do empreendedorismo.

Em 2013, a sócia Cristina Gamez deu a ideia de elaborar um serviço com maior carga social. Ela fazia um mestrado em gestão organizacional na época, e aproveitou para fazer uma tese sobre sistemas de construção usando plástico reciclável.

A empresa, então, aproveitou o estudo de Gamez e começou a testar misturas entre diversos tipos de plásticos, com diversos desenhos de produto. O modelo final foi elaborado pelo também sócio Fernando Llanos.

A comercialização só começou em 2015, após diversos testes e a elaboração de uma nova visão empresarial. “A nossa missão principal é criar uma consciência sobre reciclar. Tanto na Colômbia quanto no Brasil, não é comum que as pessoas separem seu lixo dentro de casa. Também não é comum que haja uma logística voltada aos materiais reaproveitáveis”, explica Méndez.

Ou seja: as pessoas não separam seu lixo e, se separam, é muito difícil que o material alcance a estação de reciclagem de forma adequada.

Para resolver essa situação, a Conceptos Plásticos quer criar uma conexão entre as fabricantes de plástico, as empresas que transformam plástico em um produto (uma embalagem, por exemplo) e as marcas que usam tal produto.

“Entre todos, precisamos fazer uma campanha de conscientização. Por meio de tarefas simples, podemos dar moradia a pessoas que não a tem e não a teriam em várias gerações”, explica o empreendedor.

Como funciona?

Oscar Méndez, da Conceptos Plásticos, com uma pilha de plástico reutilizável

Oscar Méndez, da Conceptos Plásticos, no processo de produção da empresa (Conceptos Plásticos/Divulgação)

A Conceptos Plásticos transforma matérias reutilizáveis em um sistema de construção alternativa para moradias permanentes e temporárias, refúgios, salas de aulas, centros comunitários e outros tipos de edifício.

De acordo com informativo da empresa, isso não só previne a contaminação do ambiente pelo plástico, cujos resíduos são retirados dos lixões, mas também faz com que eles virem materiais de construção necessários para que comunidades de baixa renda possam ter uma infraestrutura mínima de habitação.

O processo de transformação dos plásticos recebidos em blocos de construção dura cerca de três dias.

Primeiro, a Conceptos Plásticos recebe diversos tipos de plástico. Os pedaços maiores são moídos e então uma máquina mistura os plásticos com alguns aditivos - como se fosse uma receita culinária. Ainda de acordo com o negócio, o plástico é um material resistente a terremotos, enquanto os aditivos fazem a peça ser resistente a incêndios.

Em uma máquina de extrusão, a mistura é derretida para que fique homogênea. A seguir, essa mistura aquecida é colocada em um molde, que gerará uma peça de construção após o esfriamento - o tal "bloco de Lego".

Hoje, a Conceptos Plásticos trabalha apenas com a reutilização de plásticos. Outros materiais, como pneus, ainda têm um custo muito alto de reutilização e a ideia é oferecer os melhores preços de moradia possíveis, diz Méndez.

Se for uma casa de apenas um andar, ela poderia ser feita integralmente com esses blocos de plástico reutilizado. Para mais de um andar, porém, também é necessária uma estrutura metálica.

A armação da casa leva cerca de quatro dias, se quatro pessoas ajudarem na obra – ou seja, o processo todo dura cerca de uma semana, da fabricação até a moradia pronta para morar. Méndez ressalta que a própria família pode montar a moradia, desde que conte com alguma supervisão durante esse processo.

Ao todo, a Conceptos Plásticos já construiu 1.600 m²: três grandes refúgios, que atenderam 240 pessoas; oito moradias; e um centro de saúde para a organização Cruz Vermelha.

“Estamos licenciando mais um projeto em Cartagena e um acordo com o governo da região de Santander, ambos na Colômbia”, conta o empreendedor.

O negócio também realiza a venda dos módulos para pessoas e empresas, mas não faz encomendas com design personalizado: as moradias são vendidas padronizadas, em módulos de cerca de 40 m². Portanto, quem quiser ampliar o espaço pode comprar mais um módulo e uni-lo à estrutura anterior.

“Temos um departamento comercial que se dedica a vender o sistema construtivo. Por outro lado, está o braço social que envolve as empresas de plásticos para poder subsidiar a construção de moradia. Atuamos das duas maneiras, mas hoje negociamos mais com empresas com responsabilidade social, fundações e ONGs do que com particulares, principalmente por nossa mudança de modelo de negócio”, explica Méndez.

O valor cobrado por cada moradia depende da quantidade de plástico usado. Uma moradia de 40 m² custa uma média de cinco a seis mil dólares (cerca de 16 mil reais a 19 mil reais, pela cotação atual). Segundo a empresa, o valor é 30% mais barato do que os sistemas tradicionais de habitação voltados para comunidades rurais.

Prêmio e expansão

Em outubro de 2015, a Conceptos Plásticos se inscreveu para participar do prêmio de empreendedorismo social Chivas The Venture. O concurso distribui 1 milhão de dólares (cerca de 3,22 milhões de reais) por edição e, desta vez, contou com empreendedores de 27 países concorrendo.

“A seleção procurava projetos com impacto social e ambiental. Nós tínhamos os dois, incluindo um econômico também. Então, decidimos nos inscrever”, explica Méndez.

A Conceptos acabou selecionada como representante colombiana em janeiro de 2016 e passou por uma aceleração em empreendimentos sociais a partir de março.

“Pudemos aplicar o que aprendemos durante alguns meses. Depois, a Chivas abriu uma votação popular de cinco semanas, com prêmios proporcionais ao número de votos. Arrecadamos 53 mil dólares (cerca de 170 mil reais) nessa parte do processo”, conta Méndez.

A etapa final foi em julho de 2016, contando com a apresentação dos cinco finalistas para um júri de investidores. A Conceptos Plásticos ficou em primeiro lugar, ganhando mais 300 mil dólares como prêmio (cerca de 966 mil reais).

“Estamos usando o dinheiro para escalar, vendo como aumentar nossa capacidade de produção: investimos mais em maquinário, em processo produtivo e em expansão da equipe de trabalho. Nosso objetivo final é replicar o negócio em outras regiões”, explica o empreendedor.

Atualmente, a Conceptos tem capacidade para produzir 20 moradias mensais. O plano é chegar a uma produção de 50 a 60 moradias no ano que vem, pensando apenas na Colômbia.

Veja o vídeo feito pela Chivas The Venture sobre a Conceptos Plásticos (em espanhol, com legendas em inglês):

[youtube https://www.youtube.com/watch?v=dxclu7Nff4s%5D

Atuação no Brasil

Os principais alvos de expansão futura são Brasil e Chile, após a consolidação da produção na Colômbia. A ideia é também ter plantas que produzam de 50 a 60 unidades mensais.

O negócio já visitou projetos da América Latina que tinham propostas de separação de materiais reutilizáveis. “Já estamos em negociação e é provável que comecemos por esses países, com projetos pilotos", conta Méndez.

"Esperamos chegar ao Brasil em 2017, mas ainda não sabemos quando. Isso porque ainda não há uma consciência de separação dos plásticos, algo de que precisamos. É um projeto mais ambicioso do que uma fábrica: buscamos uma exposição mais adequada do tema da reutilização dos plásticos, para que juntos possamos solucionar problemas para outras pessoas.”

Em 2015, a Conceptos Plásticos faturou 150 mil dólares. Para este ano, a previsão é chegar aos 200 mil dólares. Em 2017, a meta é dobrar as vendas de projetos em relação a 2016 – mas é um indicador variável, porque depende de acordos disponibilizados pelo governo colombiano e por outros países.

Méndez vê um grande potencial de expansão para sua ideia. “Claro que o impacto deveria ser maior do que é hoje, considerando a quantidade de plástico que as pessoas jogam diariamente”, analisa o empreendedor. “Estamos dispondo inadequadamente de recursos valiosos - tão valiosos que poderiam dar uma moradia para outra pessoa.”

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