A empresa Ourolac, que produz soluções lácteas (Ourolac/Divulgação)
Mariana Desidério
Publicado em 6 de novembro de 2017 às 06h00.
Última atualização em 6 de novembro de 2017 às 06h00.
São Paulo – Sair de um processo de recuperação judicial é uma tarefa hercúlea. Segundo pesquisa da Serasa Experian, só 23% das empresas que entram em recuperação conseguem sobreviver ao processo. Foi o que aconteceu com o empreendedor Geraldo Magela Mello, dono da Ourolac, uma empresa que vende soluções lácteas para o mercado de alimentação, e que neste ano deve vai faturar nada menos que 200 milhões de reais.
Passado o sufoco, o empreendedor comemora o faturamento e também o recebimento de um aporte de 90 milhões de reais dos fundos 2bCapital e Siguler Guff.
“Acredito que o fato de termos superado a recuperação judicial chamou a atenção dos fundos de investimento. Somos uma empresa que superou isso, tem uma boa geração de caixa, tem clientes de grande credibilidade e uma área de compliance constituída”, afirma.
Fundada em 2002, a Ourolac fica baseada na cidade de Ouro Verde, Goiás, e começou sua operação como uma produtora artesanal de queijos. “Era um pequeno negócio, eu fabricava queijo prato e mussarela e tinha quatro funcionários. Logo percebi que não era um modelo escalável”, conta.
O empreendedor mudou então o seu foco para o de queijos industriais e chegou a ter 150 funcionários neste modelo. Porém, o número de concorrentes no segmento foi crescendo, a rentabilidade foi diminuindo e, em 2007, Mello decidiu mudar de novo.
A Ourolac passaria a produzir soluções lácteas, compostos usados em produtos como milk shakes, sorvetes e ganaches, substituindo as antigas soluções em pó. Para isso, Mello precisou investir 35 milhões de reais para adaptar sua produção, e resolveu usar seu capital de giro para fazer o investimento, contando a disponibilidade de crédito para fazer a roda girar após a mudança.
Mas então veio a crise de 2008 e tudo mudou. “Quase falimos. Todo o capital de giro da empresa foi direcionado para a ampliação, ficamos sem caixa. Então veio a crise e tudo mudou muito rápido, eu não consegui crédito. Quase falimos”, lembra o empreendedor.
“Fazer o investimento sem captar dinheiro foi um erro. Apostei considerando as ofertas de crédito do momento, mas na hora de captar não existia mais nada”, completa.
O baque fez com que Mello precisasse entrar com o pedido de recuperação judicial, num processo que durou seis anos. A parte mais difícil, segundo Mello, foi a dificuldade em conseguir crédito no mercado. “Os fornecedores compreenderam que a recuperação judicial foi necessária, mas nós nunca conseguimos apoio dos bancos durante esse processo.”
De 150 funcionários, a empresa passou a 70, e precisou rever seus processos com vista a economizar recursos.
“Aquilo que não mata fortalece. Quando eu tinha 16 anos sofri um acidente e cheguei a ficar tetraplégico, os médicos diziam que eu não voltaria a andar. Mas eu voltei. Transferi essa experiência pessoal para meu trabalho na empresa. A recuperação judicial foi um processo muito difícil, mas que trouxe muitos aprendizados, nos fez amadurecer uns 15 anos”, resume o empreendedor.
O plano deu certo. Em 2016, a Ourolac faturou 130 milhões de reais e neste ano deve chegar aos 200 milhões de reais.
Agora, com o aporte recebido, o objetivo é mudar a estrutura de capital da empresa e aumentar a capacidade de produção. “A gente tinha um endividamento de curto prazo, agora zeramos isso também.”
Outro plano é apostar nas exportações. E nisso os fundos de investimento podem ajudar. “O fundo Siguler Guff tem 12 bilhões investidos, e boa parte em países que a gente mira, como Rússia e China. Então é uma parceria estratégica. Já o 2bCapital tem a credibilidade da marca Bradesco, que é importante para nós, considerando que a recuperação judicial deixou cicatrizes”, afirma Mello.