Mariana Vasconcellos, CEO da Agrosmart (Foto/Divulgação)
Mariana Desidério
Publicado em 8 de março de 2018 às 06h00.
Última atualização em 8 de março de 2018 às 06h00.
São Paulo – Ser dono de um negócio no Brasil é uma tarefa difícil – e, se você é mulher, é mais ainda. Muitas vezes é preciso lidar com a falta de confiança de quem está do outro lado da mesa e não está acostumado a negociar com pessoas do sexo feminino.
Porém, isso não é motivo para desânimo. Neste dia da mulher, o Site EXAME conversou com a empreendedora Mariana Vasconcelos, CEO da Agrosmart, uma startup que une agronegócio e tecnologia, duas áreas dominadas por homens.
Ela conta como faz para garantir seu espaço neste meio.
“No começo foi bem difícil, senti bastante resistência, mais na área de tecnologia do que na agricultura. Situações em que os homens achavam que eu não sabia do que estava falando, em que eu me sentia de fora. Tive dificuldade de fechar negócio no começo porque eles não queriam falar de dinheiro comigo, queriam falar com um homem. Mas com o tempo fui mostrando que tenho competência”, afirma.
A Agrosmart atua no monitoramento de plantações fornecendo informações em tempo real aos agricultores, de forma a ajudar nas tomadas de decisão para garantir o melhor proveito de cada safra.
Unindo tecnologia e agricultura, a startup também ajuda a tornar a produção agrícola mais sustentável, com uso responsável de água, por exemplo. Através do monitoramento das plantações, é possível ser mais eficiente e econômico no uso dos recursos naturais, explica Vasconcelos.
“O planeta precisa aumentar a quantidade de alimentos produzidos, para atender a uma demanda crescente. Mas não adianta fazer isso sem pensar, é preciso gestão. Os recursos são finitos, temos crise hídrica, terras degradadas. Então ajudamos os agricultores a fazerem essa gestão de forma responsável e comunicar isso para os seus compradores”, explica.
O monitoramento das plantações é feito através de sensores instalados na propriedade. A empresa usa ainda imagens de satélites e informações da previsão do tempo para dar recomendações a seus clientes.
No mercado desde 2016, a startup tem hoje 120 mil hectares monitorados pelo Brasil, e atua também em países como México, Colômbia, Peru e Israel.
Vasconcelos explica que o serviço não é restrito a grandes produtores. “Temos casos em que vários produtores pequenos se agrupam para contratar o serviço”, conta. Um caso emblemático é o de produtores de goiaba que fornecem matéria prima para os sucos Del Valle, da Coca-Cola.
“A Coca-Cola tinha uma meta de sustentabilidade de redução de consumo de água na cadeia de suprimentos. Para isso, precisava medir esse uso e ajudar na redução. Então nós fazemos o monitoramento para os produtores de goiaba que fornecem para os sucos Del Valle. São propriedade pequenas que compartilham a estrutura de monitoramento”, conta.
A ideia do negócio começou a ser desenhada em 2014. Vasconcelos e um dos seus sócios tinham um negócio de sensores que atendia outros setores da indústria. Filha de agricultores, a empreendedora começou a se questionar por que não usar aquela tecnologia no campo.
“Sou filha de produtor rural, cresci acompanhando os desafios de tomada de decisão do meu pai. Então decidi ir para esse setor”, diz.
A Agrosmart passou então pela aceleração da Baita, além de uma temporada no Vale do Silício, e começou a operar de fato em 2016.
No início da operação, recebeu um aporte de 2,5 milhões de reais do fundo SPVentures. Agora está recebendo sua segunda rodada de investimento, de valor não divulgado, e já trabalha para abrir o terceiro round.
O faturamento da empresa não é revelado, mas a empreendedora diz que o negócio cresceu mais de 1000% no último ano.
Agora, o desafio da startup é se consolidar como liderança neste segmento na América Latina e reforçar a presença entre os produtores menores.
Às mulheres que desejam empreender em setores dominados por homens, Vasconcelos aconselha: “Meu conselho é persistir, dar a cara a tapa, mostrar competência e ter referências de mulheres que te inspirem”.