Raízs: empresa de tecnologia foi criada em 2014 para conectar o produtor rural com o consumidor final (Helena Mazza/Divulgação)
Carolina Ingizza
Publicado em 24 de dezembro de 2020 às 06h00.
Impulsionada pelo crescimento do e-commerce em 2020, a startup paulistana Raízs, de produtos orgânicos, termina o ano com faturamento cinco vezes maior do que em 2019. Com mais dinheiro em caixa, a empresa decidiu que era hora de investir 60% da sua receita em um projeto de expansão nacional.
Agora, além da região metropolitana de São Paulo, a startup passa a atender algumas cidades do interior e do litoral paulista. No interior do estado, a companhia atua em Campinas, Vinhedo, Jundiaí e Hortolândia. No litoral, em Santos, Guarujá, Maresias, Bertioga e São Sebastião.
No ano que vem, a meta é chegar a outras capitais, como Rio de Janeiro, Curitiba e Porto Alegre. “Já desenvolvemos cadeias de produção em outros estados, como Paraná e Rio de Janeiro. Nos próximos meses, vamos abrir centro de distribuições nessas regiões para podermos começar a operar já no primeiro semestre”, diz Tomás Abrahão, fundador e presidente da Raízs.
Para dar conta do crescimento no número de pedidos ao longo de 2020, a empresa triplicou o número de funcionários, de 40 para 120. Em 2021, para financiar a expansão e o crescimento do negócio, a startup planeja fazer uma rodada de captação série A. “Queremos investir em tecnologia, na rastreabilidade da cadeia e na expansão territorial”, diz o fundador.
Fundada em 2014, a Raízs usa tecnologia para conectar o pequeno produtor rural diretamente com o consumidor final. Com cerca de 27.000 clientes ativos por ano, a empresa faturou 5 milhões de reais em 2019, em um crescimento de mais de 200% em relação ao ano anterior.
A startup trabalha com uma base de 823 pequenos agricultores certificados em sua plataforma, que disponibilizam diariamente frutas, verduras, legumes, ovos e produtos não perecíveis para os clientes. “Antigamente foi um trabalho de formiguinha, de ir no campo e ganhar confiança dos pequenos produtores, mas agora eles que procuram a empresa”, diz Abrahão.
Para o consumidor, há dois modelos de compra. Pelo site da empresa, ele pode montar um pedido avulso com os mais de 3.000 itens disponibilizados pelos produtores ou optar pela assinatura de cestas sortidas, entregues periodicamente com o volume de itens desejados.
Durante a pandemia, o número de assinantes do serviço cresceu 223%. Segundo o fundador, além de serem entregues em casa, as cestas são atrativas por oferecerem produtos com valor até 25% menor que nos supermercados. Em média, uma cesta semanal para uma família de quatro pessoas custa 85 reais.
A Raízs coordena os pedidos e assume a gestão logística — o delivery da empresa funciona todos os dias da semana, exceto aos domingos. Os produtores e as cooperativas seguem trabalhando de forma independente e os veículos utilitários que realizam a entrega são de parceiros.
O crescimento da startup segue o movimento de consolidação do e-commerce no Brasil para o setor de alimentos. A entrega de produtos perecíveis como frutas, legumes e verduras é considerada por analistas como uma das mais difíceis de ser realizada.
Primeiro porque a logística precisa ser rápida, para evitar que os alimentos estraguem. Segundo, porque eles têm valor agregado baixo, o que faz o custo benefício do frete não valer tanto a pena para as empresas como no caso de eletroeletrônicos, por exemplo. Há também uma barreira cultural, já que os consumidores, habituados a escolher seus produtos frescos, demoram a se aventurar por plataformas de comércio eletrônico buscando esse tipo de produto.
Com a pandemia dificultando as compras presenciais, as empresas e clientes precisaram ajustar seus hábitos e processos para poder fazer o e-commerce de produtos dessas categorias funcionar. Segundo dados da consultoria Neotrust/Compre & Confie, só em maio de 2020, o volume de vendas de hortifrúti cresceu 240% no e-commerce brasileiro, movimentando 12,06 milhões de reais. A presença no total da categoria de alimentos e bebidas ainda é pequena, de 6%, mas há espaço para crescer.