PME

Diagnóstico rápido é com a OrangeLife

A OrangeLife faturou 2,5 milhões de reais em 2012 produzindo testes para detectar doenças. Agora seu dono, o empreendedor Marco Collovati, está em dúvida sobre o caminho a seguir — aumentar as vendas no Brasil ou investir nas exportações?

Marco Collovati , da Orangelife (Marcelo Correa)

Marco Collovati , da Orangelife (Marcelo Correa)

DR

Da Redação

Publicado em 2 de agosto de 2013 às 18h24.

São Paulo - Desde que chegou ao Brasil, no fim da década de 90, o médico italino Marco Collovati, de 44 anos, buscou entender os altos índices de mortes causados por doenças que já estavam erradicadas em seu país. Collovati é fundador da OrangeLife, empresa carioca de pesquisa e desenvolvimento de tecnologia para exames diagnósticos na área de saúde.

"Após anos de observação, percebi que, em muitos casos, as patologias nem chegavam a ser detectadas", diz. "Enfermidades como hanseníase, leishmaniose e toxoplasmose ainda afetam muitas pessoas no Brasil e em outros países".

Em 2012, as receitas da OrangeLife, que produz testes para detectar doenças como dengue e leptospirose, chegaram a 2,5 milhões de reais. Os principais clientes da empresa são hospitais federais e pequenos laboratórios de análises clínicas que ainda não são automatizados.

"Desde que treinados, enfermeiros, farmacêuticos ou técnicos de laboratório podem realizar os testes, que são bastante simples", diz Collovati. "Basta pingar uma gota de sangue em uma lâmina e esperar o resultado, que sai em 10 minutos".

O empreendedor teve a ideia de criar a empresa depois de trabalhar como médico voluntário na Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, nos anos 90. Na época, para economizar com o aluguel, ele resolveu morar no morro Pavão-Pavãozinho, na divisa entre os bairros de Ipanema e Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro, onde existem favelas.

"Conhecidos meus morreram de dengue e outras doenças por falta de um bom atendimento hospitalar, e a realização de exames laboratoriais”, afirma. "Percebi o quanto os hospitais públicos, em geral muito cheios, precisam de testes simples e com custo baixo capazes de fornecer o diagnóstico rapidamente".

No início deste ano, a OrangeLife, fundada em 2010, firmou uma parceria com o Ministério da Saúde para fornecer ao SUS testes rápidos de hanseníase. Eles serão aplicados em estados com maior incidência da doença, como Ceará, Pernambuco e Mato Grosso.


"Nos primeiros meses, representantes de centros de referência acompanharão a aplicação dos testes para avaliar que tipo de treinamento os profissionais da área terão de fazer para aplicar o exame e identificar eventuais dificuldades”, afirma o empreendedor.

Recentemente, a empresa também fechou parcerias com distribuidores de países africanos, como Angola e Moçambique, para dar o pontapé inicial ao processo de internacionalização.

Até o fim do ano, a OrangeLife deverá ter escritórios no Peru, no Irã e na China. Nesses países, serão feitos trabalhos de pesquisa e desenvolvimento para testes de doen­ças locais, em conjunto com pesquisadores nativos. "Tenho feito muitas reu­niões com distribuidores de materiais hospitalares para entender a realidade de cada lugar e estar pronto para atender à demanda", afirma Collovati.

Agora, o empreendedor faz planos para manter a expansão e ampliar cada vez mais a participação da OrangeLife em países pobres. Por onde continuar?

Para discutir os próximos passos da empresa, Exame PME ouviu Mario Mendes Júnior, sócio da Adarve, fabricante de produtos hospitalares, e Fernando de Barros Barreto, da Primeira Consulta, consultoria do setor de saúde. Opiniou também Sérgio Frangioni, sócio da Blanver, produtora de matérias-primas para medicamentos. Veja o que eles disseram.

Encontrar parceiros globais

Mario Mendes Júnior

Adarve (São Paulo, SP): Fabricante de produtos hospitalares

Faturamento: 12 milhões de reais (em 2012, fonte: empresa)

• Perspectivas: O monitoramento das doenças negligenciadas no mundo progrediu. Mesmo assim, só 28% do número estimado de pacientes que necessitam de tratamento para essas enfermidades são atendidos. Em geral, o problema está no diagnóstico. Como o Brasil está se tornando cada vez mais referência em tecnologias da área de saúde, há muito espaço para crescimento nos próximos anos.

• Oportunidades: Partes da África, da Ásia e da América Latina possuem altos índices de doenças que podem ser curadas sem grandes complicações, caso sejam detectadas rapidamente. Os laboratórios e postos de coleta desse locais em geral são carentes de exames de fácil aplicação e resultado rápido.


• O que fazer: Collovati deve buscar um parceiro global de fomento, pois qualquer empresa do setor precisa de grandes investimentos para estruturar a capilaridade, ampliar a rede credenciada e, principalmente, progredir em pequisa e desenvolvimento.

Para saber quais países são mais promissores para a expansão internacional, um bom indicador são os estudos da ONU que mostram quais regiões do mundo mais necessitam de tecnologia do setor de saúde. 

Procurar distribuidores

Fernand Barreto

Primeira consulta (São Paulo, SP): Consultoria especializada no setor de saúde

• Perspectivas: É característico de países em desenvolvimento investir na cura de doenças em vez de preveni-las. Uma vez que a população sofre com enfermidades que possuem tratamento conhecido há algum tempo, como hanseníase, toxoplasmose e dengue, conseguir diagnosticar com precisão essas patologias por um preço baixo é tudo o que os governos buscam atualmente.

• Oportunidades: A OrangeLife precisa atuar de forma bastante alinhada com as políticas públicas de vários países emergentes para se expandir no curto, médio e longo prazo. Para isso, é necessário fazer um levantamento detalhado sobre quais são os programas de governo, inclusive no Brasil, que estão sendo planejados para erradicar doenças.

• O que fazer: Caso a intenção seja expandir o raio de atuação da empresa, Collovati deve se preocupar com a questão logística, fundamental para o crescimento da OrangeLife no Brasil e em outros países com problemas semelhantes aos nossos.


Uma solução é procurar distribuidores de materiais hospitalares que atuem em regiões de acesso mais difícil, como certas partes do Norte e do Nordeste. É bom ser fornecedor do governo porque isso garante compras de grande volume. Mas é preciso conseguir atender com eficiência e pelo menor custo possível.

Atrair fundos de investimento

Sérgio Frangioni

Blanver (São Paulo SP): Fabricante de matérias-primas para medicamentos

Faturamento: 200 milhões de reais (em 2012, fonte: empresa)

• Perspectivas: O governo brasileiro tem investido muito na compra de medicamentos para distribuição gratuita. O objetivo é auxiliar pessoas com poucos recursos financeiros que sofrem de enfermidades recorrentes e outros tipos de doença e precisam utilizar com frequência alguns remédios. O diagnóstico de doenças é parte importante desse processo.

• Oportunidades:  A realidade dos hospitais públicos brasileiros ainda é bastante difícil, para dizer o mínimo. Algumas regiões do país nem sequer possuem laboratórios de análises clínicas automatizados, abrindo assim um grande espaço para testes como os desenvolvidos pela OrangeLife. 

• O que fazer: Os investimentos em pesquisa na área de saúde são muito altos, por isso o mais importante no momento é buscar fundos de investimento que vão possibilitar à empresa desenvolver um número grande de novos exames. Dessa forma, a OrangeLife conseguirá atender melhor os mercados interno e externo.

Acompanhe tudo sobre:Comércio exteriorDoençasExportaçõesLaboratóriosSetor de saúde

Mais de PME

ROI: o que é o indicador que mede o retorno sobre investimento nas empresas?

Qual é o significado de preço e como adicionar valor em cima de um produto?

O que é CNAE e como identificar o mais adequado para a sua empresa?

Design thinking: o que é a metodologia que coloca o usuário em primeiro lugar