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Descomplica capta R$ 450 milhões para investir em faculdade digital

O aporte, liderado pelo Invus Group e pelo SoftBank, é o maior já feito em uma startup de educação na América Latina

Marco Fisbhen, fundador e presidente do Descomplica: a edtech chega a 5 milhões de alunos por mês nas suas plataformas e redes sociais (Descomplica/Divulgação)

Marco Fisbhen, fundador e presidente do Descomplica: a edtech chega a 5 milhões de alunos por mês nas suas plataformas e redes sociais (Descomplica/Divulgação)

CI

Carolina Ingizza

Publicado em 18 de fevereiro de 2021 às 08h00.

Última atualização em 23 de junho de 2021 às 08h13.

A edtech brasileira Descomplica, famosa pelas aulas online para o vestibular, atraiu novos investidores de peso. A empresa anuncia nesta quinta-feira, 18, ter recebido um aporte de 450 milhões de reais (cerca de 84 milhões de dólares) em uma rodada série E liderada pelos fundos SoftBank (Gympass, Creditas) e Invus Opportunities, que já havia investido na empresa em 2018.

Participaram também da rodada o Valor Capital Group (que já investia no negócio), a Península Participações (do empresário Abílio Diniz), e a Chan Zuckerberg Initiative (empresa do fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, e de sua esposa, Priscilla Chan). Até mesmo o The Edge, o guitarrista da banda de rock U2, decidiu entrar na rodada após conhecer Marco Fisbhen, fundador e presidente do Descomplica, no ano passado.

“Pelo tamanho do cheque que estávamos buscando, sabíamos que teríamos que conversar com fundos que nunca investiram na América Latina, como o CZI. Então, além de explicar a Descomplica enquanto edtech, tivemos que mostrar muito do contexto da educação e da pandemia no Brasil e na região”, diz Fisbhen.

O aporte, que é considerado o maior já feito em uma startup de educação na América Latina, vai permitir que a empresa invista em três frentes: na Faculdade Descomplica, no desenvolvimento tecnológico e na aquisição de outras empresas. Até, então, a startup tinha captado 32 milhões de dólares.

“O investimento no Descomplica é um salto enorme na educação do Brasil. Estamos impulsionando a existência de um ensino superior de qualidade, eficiente e inovador. Assim, ajudaremos milhões de pessoas a entrarem no mercado de trabalho, mudando efetivamente a vida delas para uma realidade que antes julgavam inacessível”, diz David Kahane, sócio do Invus Opportunities.

A Faculdade Descomplica

O Descomplica começou a partir de uma ideia despretensiosa de Fisbhen, um professor de física natural do Rio de Janeiro que queria fazer suas explicações chegarem a alunos do país todo. No começo, lá em 2010, eram vídeos curtos, focados em estudantes que iam prestar vestibular.

Com o sucesso, em 2012, o professor decidiu cobrar uma assinatura dos estudantes, em um modelo parecido com o da Netflix. De lá para cá, o negócio cresceu e hoje chega a cerca de 5 milhões de alunos mensalmente pela sua plataforma e nas redes sociais.

No ano passado, a empresa deixou de ser somente uma plataforma para ajudar os estudantes a passar no vestibular e se tornou também uma faculdade digital. Em agosto de 2020, com nota máxima no Ministério de Educação, o Descomplica abriu 1.200 vagas para quatro cursos: pedagogia, administração, contabilidade e gestão de pessoas.

A graduação é a menina dos olhos da empresa hoje e sua principal aposta para o futuro. Como os cursos tem duração longa, de pelo menos quatro anos, e a mensalidade pelo menos cinco vezes mais cara que a do cursinho, eles podem se tornar uma importante fonte de receita do negócio nos próximos anos.

Utilizando o novo aporte milionário, a startup planeja lançar pelo menos mais 18 graduações neste ano e 12 no próximo. “Queremos sair de quatro para 50 cursos no menor tempo possível. Estamos nos concentrando em cursos para o mundo moderno do pós-pandemia, com marketing, logística, desenvolvimento, recursos humanos”, diz o fundador.

A empresa também oferece pós-graduação desde 2019. Os cursos, que oscilam na faixa de 70 reais por mês, cresceram muito durante a pandemia, com as pessoas passando mais tempo em casa e precisando se adaptar ao novo momento de mercado.

De janeiro a dezembro de 2020, o número de estudantes matriculados foi de 3.000 para 30.000 na pós-graduação do Descomplica. Para 2021, a meta é ambiciosa: sair de 300 programas para pelo menos 500.

Expandir sem perder qualidade

Enquanto aumenta o volume de cursos, o Descomplica estuda formas de aprimorar sua tecnologia de ensino remoto. Atualmente, há 100 pessoas trabalhando exclusivamente na área de tecnologia da empresa, que deve dobrar de tamanho até o final do ano.

O objetivo da startup é desenvolver, simultaneamente, tecnologias para duas frentes complementares: personalização do ensino e estudos em grupo. A empresa percebeu, nos últimos anos, que é importante conseguir identificar corretamente as falhas de aprendizado de cada estudante, mas também desenvolver ferramentas para que as pessoas estudem em grupo digitalmente.

"Não importa se são jovens de 14 anos estudando para a prova de matemática ou um grupo de estudo de colegas da pós em Harvard, o brasileiro gosta de aprender compartilhando", diz Fisbhen.

Mas nem toda a tecnologia será feita dentro de casa. O Descomplica está de olho em aquisições para 2021 para entrar em mercados de educação em que ainda não atua.

"Já começamos a mapear as primeiras empresas. É uma situação de ganha-ganha. A startup ganha uma alavancagem e oportunidade de conectar suas soluções a uma base de 5 milhões de pessoas. Nós, por outro lado, conseguimos acelerar nossa entrada em novos mercados", afirma o presidente.

No passado, a startup já usou a estratégia. Em 2016, comprou a operação da Master Júris, especializada em cursos preparatórios para concursos públicos. Em 2018, foi a vez de comprar a PaperX, que desenvolvia exercícios e avaliações online.

A longo prazo, o sonho de Fisbhen é construir uma empresa global de educação que tenha milhões de alunos consumindo seus conteúdos mensalmente. "Estamos muito confortáveis com os novos investidores e acredito que estamos no caminho para isso", afirma.

Quanto a possibilidade de vender a companhia ou abrir capital, o fundador se inclina mais para a segunda opção, mas garante que não é algo que esteja no seu radar para este ano. “Queremos entregar a nossa missão, que é mostrar que aprender é para todo mundo.”

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