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De cibersegurança a genética: estas 6 startups de Israel apostam no Brasil

Negócios inovadores da "nação das startups” veem potencial no Brasil, seja pela dimensão do país ou pelo interesse em internet e novas tecnologias

Tel Aviv, em Israel: país tem uma startup para cada mil habitantes, contra uma a cada 17 mil habitantes brasileiros (Lior Mizrahi/Getty Images)

Tel Aviv, em Israel: país tem uma startup para cada mil habitantes, contra uma a cada 17 mil habitantes brasileiros (Lior Mizrahi/Getty Images)

Mariana Fonseca

Mariana Fonseca

Publicado em 25 de julho de 2019 às 06h00.

Última atualização em 25 de julho de 2019 às 06h00.

Israel é conhecida como a nação das startups, com mais de oito mil negócios inovadores em um país de apenas 8,7 milhões de habitantes. Essas startups aprenderam desde cedo que é preciso ir a outros países para crescer -- e, agora, o Brasil se une à China e aos Estados Unidos como um grande alvo de expansão.

As startups israelenses Cybereason (cibersegurança), Intervyo (recursos humanos), MyHeritage (medicina e genética), SeeTree (agricultura), SuperUp (varejo) e SysAid (software) participam do ScaleUp inBrazil. O programa tem como objetivo de acelerar o ingresso das empresas israelenses de tecnologia no país e foi criado pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), pela ABVCAP (Associação Brasileira de Private Equity & Venture Capital) e pelo Israel Trade & Investment.

Um país grande e conectado

As startups israelenses apostam no Brasil pelo tamanho do mercado consumidor e o potencial de escalabilidade das soluções no país. Com 230 milhões de celulares inteligentes em uso no país, os brasileiros passam três horas por dia nos smartphones, elevando o país ao quinto maior do mundo em tempo gasto nos aparelhos. Ao mesmo tempo, esses usuários estão ansiosos por melhores soluções em diversos setores.

“Entendemos que havia uma chance de colocar o Brasil no radar de Israel pela dimensão do nosso mercado, alta demanda por tecnologia e baixa competição, entre outros fatores. Em áreas como agricultura, por exemplo, esse movimento já estava acontecendo”, afirma Ângela Ximenes, superintendente da ABVCAP e responsável pelo programa.

A startup de agricultura SeeTree percebeu o potencial do mercado brasileiro no começo deste ano. O negócio teve o fundo de investimentos brasileiro Mindset Ventures como um dos participantes em um investimento série A, de 15 milhões de dólares. A startup de registros de produtividade e saúde de árvores individuais, com foco em rentabilidade de agricultores, já atua em Israel e nos Estados Unidos e acelerou os planos brasileiros, diante de uma recepção positiva e “negociações com grandes clientes”.

“O Brasil é um líder global em agricultura e se expõe a tecnologias disruptivas, então acreditamos que nossa solução será relevante para otimizar a produção de diversos agricultores do país”, afirma Guy Cooper, diretor da área comercial da SeeTree. O valor bruto da produção da agropecuária brasileira chegou a 570 bilhões de reais no ano passado.

Drone da SeeTree em plantação

Drone da SeeTree em plantação (SeeTree/Facebook/Reprodução)

A SuperUp, plataforma de compras e publicidade móvel, entrou em contato com o mercado brasileiro na mesma época e também está de olho em um setor quente no país: o comércio eletrônico, que faturou 53,2 bilhões de reais em 2018. Durante a feira americano de varejo National Retail Federation, recebeu visitas de mais de 20 varejistas do país. A startup se apresentou na feira supermercadista APAS Show e pretende até o final deste ano sua plataforma white label de publicidade como um serviço em terras brasileiras.

“É um mercado emergente em e-commerce, números de celulares e companhias dispostas a adotar novos modelos de negócio e tecnologias. Queremos aproveitar a transição do comércio dos computadores para os celulares no país nos setores de supermercados, beleza e bem-estar e moda”, afirma Richard Saffern, diretor da SuperUp para o Brasil.

Aplicativo da SuperUp

Aplicativo da SuperUp (SuperUp/Reprodução)

Já a Intervyo, que construiu um entrevistador virtual dotado de inteligência artificial para analisar candidatos a vagas de emprego, olha menos para setores já estabelecidos no Brasil e mais para o potencial de escala da sua solução, diante dos mais de 200 milhões de habitantes brasileiros.

“Nossa solução se aplica para mercados vastos nos quais o recrutamento em massa é um desafio. O Brasil pode se beneficiar do nosso negócio e servir como nossa plataforma de lançamento para a América Latina”, afirma Jacky Hazan, fundador e presidente da Intervyo. Além de Israel, a Intervyo já está presente na China, nos Estados Unidos, na Índia e na Rússia.

A união do Brasil com Israel

Segundo Itzhak Reich, cônsul para assuntos econômicos da Israel Trade & Investment, o Brasil se tornou o próximo destino de mercado para empresas de tecnologia israelenses por conta da complementaridade de comportamentos. “Israel possui experiência em criar inovações e o Brasil sabe como escalá-las por meio da atitude pró-inovação de seus habitantes."

Roberto Escoto, gerente de investimentos da Apex-Brasil, concorda com o destaque israelense no desenvolvimento de inovações. “Em Israel, há uma tendência a se resolver com tecnologias escaláveis e de fácil operação os desafios que especialistas alertam como empecilhos à competitividade de um determinado setor. É o caso da Mobileye [direção preditiva] e do Waze [mapeamento de tráfego em tempo real aliado ao GPS]. Trazer esse tipo de atitude para o país enriquece nosso ecossistema de inovação, além de, é claro, termos futuramente essas tecnologias sendo produzidas no Brasil.”

Isso não significa que os negócios inovadores israelenses não possam enfrentar desafios em sua expansão brasileira, porém. "Gostaria de ver as startups do programa com escritórios próprios ou parceiros de distribuição, com mais de uma história de sucesso no Brasil. Há muita oportunidade, mas será preciso ter persistência e saber esperar a aceitação do mercado”, afirma Reich.

No ScaleUp inBrazil, os empreendedores israelenses já passaram por treinamentos virtuais sobre o ambiente de negócios brasileiro, da cultura aos requerimentos legais e tributários, e conversaram com empresas israelenses já estabelecidas por aqui. Na semana que vem, as seis startups israelenses começarão uma missão de duas semanas em solo brasileiro.

Entre agosto e setembro, os empreendedores retornarão a Israel para adaptar seus produtos e serviços. Entre outubro e novembro, escolherão duas semanas para novamente viajar ao Brasil e testar suas adaptações, por meio de provas de conceito (POCs). Depois dos experimentos, os empreendedores israelenses contarão com seis meses de suporte dos organizadores do ScaleUp inBrazil sobre perfil de consumidores, fornecedores, especialistas de mercado e representantes públicos e reguladores de cada setor. A expectativa é que cada empresa se relacione com ao menos dez clientes potenciais no Brasil até o final do acompanhamento do programa.

O investimento de tempo e recursos das startups israelenses é uma aposta no potencial do mercado brasileiro para soluções globais -- algo que nossos recentes unicórnios deixaram mais claro ao mundo, incluindo seus concorrentes.

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