Introversão: temperamento parece ser incompatível com a vida de quem tem seu próprio negócio. Porém, não é bem assim (Foto/Thinkstock)
Mariana Fonseca
Publicado em 27 de junho de 2017 às 06h30.
Última atualização em 27 de junho de 2017 às 09h14.
São Paulo – Você provavelmente conhece alguém que se autodenomina introvertido – ou talvez você mesmo seja essa pessoa.
Mais do que ser simplesmente tímido, pessoas com esse tipo de temperamento ganham energia ao terem momentos de introspecção, e não pelo contato social. Algumas características são a dificuldade em fazer networking, a preferência por ambientes sem muitos estímulos e a tendências a se especializar em uma área específica.
Tais traços parecem ser incompatíveis com a vida de quem tem seu próprio negócio. Porém, não é bem assim: especialistas consultados por EXAME.com concordam que é possível ser empreendedor e introvertido.
“Eu tenho certeza que o introvertido pode ser um empreendedor, desde que abandone suas crenças limitantes”, afirma Guilherme Miziara, docente da Fundação Dom Cabral, do Ibmec e da UFRJ e especialista em comunicação e oratória.
“Pessoas com esse temperamento acham que não têm talento para as atividades que a administração de negócios envolve, ficam com vergonha e desistem. É preciso entender que não é questão de falta de talento, mas de falta de treino.”
“Temos vários empreendedores de sucesso introvertidos”, completa Fabio Stumpf, coach e mentor do Programa de Startups InovAtiva. “Por exemplo, Bill Gates é uma pessoa totalmente introvertida - e se tornou um dos ícones do empreendedorismo.”
Veja, a seguir, alguns prós e contras de ser um empreendedor introvertido – e dicas para melhorar sua gestão de empreendimentos a partir desse tipo de temperamento:
De acordo com Stumpf, o introvertido tem a tendência de procurar cargos e funções que exijam mais a capacidade de criação solitária. Isso pode beneficiar o empreendedorismo na hora de desenvolver soluções que atendem a necessidade do seu público-alvo de forma diferenciada.
“É um processo que envolve muita criatividade. Especialmente no mundo digital, novas maneiras de resolver situações surgem o tempo todo - e o introvertido pode ter uma vantagem nisso”, diz o coach.
Outro ponto positivo é que o introvertido costuma pensar muito antes de se decidir por algo – inclusive em suas falas. Isso pode ser positivo em uma reunião técnica, como é a de investimento.
“Em um encontro com poucas pessoas e pautado por muitos detalhes, os introvertidos podem se tornar comunicadores melhores do que os extrovertidos”, defende Stumpf.
Tal preocupação antecipada pode ser traduzida em uma característica essencial para qualquer empreendedor: planejamento.
“O introvertido costuma ser mais disciplinado, porque tem a noção de que o treinamento leva à excelência”, afirma Miziara. “O extrovertido pensa muito na sua própria projeção, enquanto o introvertido pensa mais nos argumentos que convencerão os outros. E entender o outro é o fundamento da comunicação.”
Ou seja: o introvertido tem um grande potencial de convencimento dentro dele e pode fazer ótimos negócios, de acordo com o docente.
Por outro lado, o empreendedor introvertido pode ter dificuldades ao se relacionar em conversas mais gerais e improvisadas: os famosos eventos de networking.
“Uma pessoa introvertida tem por característica uma dificuldade em se relacionar com pessoas que ela não conhece e expandir sua rede de relacionamentos. Também não gostam de lugares com a presença de muitas pessoas. Isso pode, sim, interferir no exercício do empreendedorismo”, ressalta Stumpf.
Com isso, esse empreendedor não consegue expor seu negócio da melhor maneira. “Às vezes ele possui uma ótima ideia na cabeça, mas não consegue passar da melhor forma. Tal ideia se torna ruim na cabeça das pessoas, que não são convencidas ou influenciadas”, completa Miziara.
Outro ponto negativo visto na maioria dos empreendedores introvertidos é não saber trabalhar muito bem em equipe – até pela deficiência em comunicação anteriormente mencionada.
“Um introvertido que se transforma em empreendedor pode não conseguir firmar relacionamento com seus funcionários e fazer cobranças. Isso afeta a percepção que a própria equipe tem dele - e, no fim, afeta o rendimento da empresa”, afirma Miziara.
O primeiro passo para superar suas dificuldades é entender que a comunicação é uma habilidade que pode ser desenvolvida.
“Não suponha que é um dom natural apresentar uma boa ideia ou liderar uma equipe; é algo que pode ser treinado”, afirma Miziara. “Lembre-se que seu grande medo não está em falar para um público, mas em falhar perante tais pessoas. Alivie seu perfeccionismo e entenda que não é preciso fazer um show, e sim passar seu recado.”
Stumpf segue a mesma linha e indica desenvolver comportamentos intencionais para lidar com suas dificuldades. “Por exemplo, se você tem dificuldade em dar palestras, treina uma boa introdução quebra-gelo para se sentir mais tranquilo ao longo do discurso.“
“A maior dica é entender que todos possuem pontos positivos e pontos a serem desenvolvidos, independente se você é extrovertido ou introvertido. Tenha autoconfiança para explorar o seu melhor e também para batalhar para desenvolver os pontos mais fracos”, conclui o coach.