Tallis Gomes: depois dos táxis, empreendedor está apostando no mercado de beleza (Tallis Gomes/Divulgação)
Da Redação
Publicado em 15 de janeiro de 2016 às 06h00.
São Paulo – Tallis Gomes fundou o Easy Taxi em 2011. Após quatro anos à frente de um dos maiores aplicativos de táxi no mundo, o empreendedor resolveu deixar o comando da empresa e procurar novas oportunidades de negócio. O ano de sua saída, 2015, foi dedicado para criar projetos. Gomes começou o ano inaugurando a eGenius Founders, sua própria “fábrica de startups”.
Dela saiu o mais novo projeto chefiado pelo empreendedor: a Singu (vem da palavra “singular”), que tem a proposta de levar profissionais de beleza até seus consumidores, por meio do agendamento online. Alguns serviços são manicure, maquiagem, massagem e penteados. O aplicativo foi inaugurado este mês, por enquanto apenas para iOS.
“Já existe o mercado de manicures, cabeleireiros e massagistas que vão até empresas ou casas das pessoas. Mas não tem ninguém centralizando esse mercado, como eu fiz com o táxi lá atrás. Então por que não fazer um salão de beleza delivery?”, questiona o empreendedor, em entrevista à EXAME.com.
Na conversa, Tallis Gomes contou por que resolveu sair do comando do Easy Taxi, por que apostou no mercado de beleza e qual sua opinião sobre abrir negócios durante a crise econômica. Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista:
EXAME.com – Há pouco tempo, você anunciou que não lideraria mais a operação do Easy Taxi. Por que você decidiu deixar o comando da startup?
Tallis Gomes – Lá em outubro do ano passado, eu deixei o comando da empresa e fui para o conselho [de administração]. Eu criei o Easy Taxi em 2011, então passei quase quatro anos à frente da empresa. Chega um momento que a curva de aprendizagem se desacelera, e você tende a querer fazer algumas outras coisas.
EXAME.com – Como vê esse mercado de apps para táxi hoje?
Tallis Gomes – Esse mercado da Easy Taxi, que gostam de chamar de O2O [“Online para Offline”], é um mercado extremamente novo. Quando abrimos, em 2011, só havia um serviço na Alemanha e outro em Israel, todos começando no mesmo ano. Então podemos declarar que somos uns dos primeiros do mundo nessa categoria de serviço. Depois, veio um monte de gente na cola, montando marketplaces de serviços O2O.
Quando eu parei para pensar, percebi que já estava à frente da Easy Taxi há um bom tempo, já a levei para todo o mundo e já a tornei o maior aplicativo de táxi no mundo – presente em mais de 30 países, com mais de 400 mil táxis na frota.
EXAME.com – Como foi a decisão de sair?
Tallis Gomes – Eu estava com 27 anos e refleti sobre o que queria fazer no próximo ciclo da minha vida – eu organizo minha vida por ciclos. Pensei: “Bom, eu acho que quero fazer uma coisa tão disruptiva quanto a Easy Taxi”. Eu não me via mais tempo fazendo a mesma coisa.
Neguei propostas de trabalho de cargos super importantes de empresas de capital aberto e de multinacionais. Quando decidi que queria empreender novamente, comecei a buscar vários mercados em que faria sentido usar meu conhecimento – que fossem pautados em O2O, nos marketplaces de serviços.
Abrimos a eGenius no começo deste ano, uma venture builder, uma “fábrica de startups”. Hoje, nós criamos e analisamos modelos de negócios, criando times. Nisso, me deparei com o modelo da Singu, que é o negócio que eu toco agora.
EXAME.com – A Singu é focada no mercado de beleza. Por que optou por investir neste setor?
Tallis Gomes – O mercado de beleza no Brasil é o terceiro maior do mundo, só perdendo para os Estados Unidos e para o Japão. Segundo meus estudos, quando eu olho a taxa média de crescimento por ano, é possível ver que o Brasil deve ultrapassar o Japão nos próximos três anos.
Beleza é um dos únicos setores que crescem dois dígitos percentuais por ano, mesmo com a crise. A recessão bate no setor de beleza e volta. Historicamente, é o setor de consumo que mais tem crescido no país. É um mercado de 100 bilhões de reais, infinitamente maior que o de táxis. Por isso decidi me entregar a esse setor no próximo ciclo da minha vida.
A prestação de serviço representa 46% desse mercado. Por que não fazer um negócio nesse segmento?
EXAME.com – E como surgiu a ideia propriamente dita?
Tallis Gomes – Em dezembro do ano passado, minha namorada passou uma foto das unhas dela, que estavam desfeitas. A manicure que ia no escritório dela não veio. Quando ela me mandou aquilo, tive um insight: já existe o mercado de manicures, cabeleireiros e massagistas que vão até empresas ou casas das pessoas. Mas não tem ninguém centralizando esse mercado, como eu fiz com o táxi lá atrás. Então por que não fazer um salão de beleza delivery?
Eu vi uma oportunidade muito parecida com a que já tinha visto. A diferença é que estamos falando de 1,7 milhão de profissionais de beleza, que atuam dentro e fora dos salões. Muitos não têm um ambiente para trabalhar, ou uma carteira de clientes. Essa plataforma é uma oportunidade de essas pessoas terem um sistema que centralize a agenda, que dê uma oportunidade para elas aumentar sua renda, como fizemos com os taxistas.
EXAME.com – Qual sua opinião sobre abrir startups durante uma recessão econômica?
Tallis Gomes – Durante a crise, aqueles que são capitalizados tendem a investir, porque surgem muitas oportunidades. Podem ser de contratação – tem muita gente sendo mandada embora, então essa é a hora de trazer essa pessoa para cá –, podem ser de compra de pequenos negócios e podem ser de entrega de experiências singulares, como é meu caso.
A crise acaba sendo uma oportunidade no final do dia, apesar do cenário catastrófico. As pessoas que antes eram secretárias ou que trabalhavam em um supermercado, por exemplo, e fizeram seu curso de beleza para trabalhar com isso, podem inscrever-se na Singu. Elas vão passar por nosso processo de treinamento e, se acharmos que ela está apta para atender no nível do negócio, ela tem a possibilidade de levar essa renda para sua casa.
EXAME.com – Você tem alguma projeção de expansão para 2016?
Tallis Gomes – Hoje, a gente já opera no Rio de Janeiro e em São Paulo. No Rio, operamos apenas por B2B – as empresas já têm manicures e massagistas que atendem, criando um passivo trabalhista; nós oferecemos uma plataforma pela qual as pessoas podem pagar pelo serviço e a empresa não tem de entrar nessa história. Em São Paulo, temos as duas categorias. Para 2016, a previsão é estar nas principais capitais brasileiras.