Protesto de taxistas na Coreia do Sul: país possui cerca de 270 mil taxistas e as maiores taxas de desemprego desde 2010 (Kim Hong-Ji/File Photo/Reuters)
Mariana Fonseca
Publicado em 22 de janeiro de 2019 às 06h00.
Última atualização em 22 de janeiro de 2019 às 06h00.
Quando aplicativos como 99 e Uber chegaram ao Brasil, não foram poucos os protestos dos taxistas. Mas, na Coreia do Sul, a revolta tomou uma proporção ainda maior. Atos contra o aplicativo de mobilidade urbana Kakao T Carpool se arrastam há meses no país, com a participação de dezenas de milhares de taxistas, e levaram à imolação de dois deles.
O Kakao T Carpool é um produto da Kakao Mobility, braço de mobilidade urbana da empresa coreana de tecnologia Kakao. A Kakao é conhecida principalmente por seu aplicativo de mensagens, o Kakao Talk.
A companhia já opera um app chamado Kakao Taxi, que conecta usuários apenas com os taxistas. Mas, para a classe, o novo Kakao T Carpool reduziria seus padrões de vida de forma dramática.
“Se o serviço for implementado, minha renda será cortada pela metade. Eu irei cair na pobreza”, afirmou o taxista Yoon Woo-Seok, de 62 anos, à agência de notícias Reuters. O motorista Lee Nam-Soo concorda. “Minha família está sobrevivendo com minha pouca renda. (...) Não tenho como sobreviver se a Kakao Mobility operar.”
Em outubro do ano passado, um ato reuniu dezenas de milhares de taxistas sul-coreanos, que usaram faixas e bandanas vermelhas e proclamaram slogans como “Fora com o negócio ilegal de caronas”. Em novembro, um taxista de 57 anos de idade colocou fogo em si mesmo em protesto contra o Kakao T Carpool. Os materiais de campanha vermelhos se tornaram pretos, em luto.
Neste mês, outro taxista praticou a imolação. Um taxista de 64 anos de idade colocou fogo em si mesmo e em seu veículo. A polícia achou materiais inflamáveis e oficiais de uma união de taxistas afirmaram que o motorista deixou uma nota de suicídio para sua família. Nela, teria falado sobre o estresse econômico de ser um taxista.
A Coreia do Sul baniu aplicativos de mobilidade urbana, como o UberX, em 2015. De acordo com a Reuters, a razão para isso são entidades de classe fortes e regulações estritas na quarta maior economia da Ásia.
Os protestos seriam um desafio ao governo sul-coreano, que já prometeu impulsionar novas indústrias e reduzir a dependência do país de gigantes como Hyundai e Samsung. A Coreia do Sul atingiu em agosto do ano passado a maior taxa de desemprego desde 2010. O país possui cerca de 270 mil taxistas.
Segundo uma pesquisa da empresa sul-coreana de pesquisas Realmeter, realizada em outubro do ano passado, a maioria dos habitantes apoia os aplicativos de caronas.
Na semana passada, a Kakao afirmou entraria de “cabeça aberta” em novas conversas sobre seu aplicativo. Consideraria, inclusive, abandonar a ideia. Os testes do novo app já foram interrompidos. A proposta do Kakao T Carpool seria oferecer o serviço apenas durante horas do rush, para suprir a demanda excedente por transporte, o que é permitido pela lei sul-coreana.
Para Lee Yong-bok, da Conferência Nacional Conjunta das Associações de Táxis, esse esforço não é suficiente. “Estamos pedindo para o ministro dos Transportes resignar”, afirmou à Reuters. “O ministério e o partido governante têm de nos mostrar algo para que acreditemos que querem discutir a partir de uma folha em branco, sem tomar o lado da Kakao.”