Escritório da Conta Azul: startup projeta dobrar de tamanho neste ano (Conta Azul/Divulgação)
Mariana Fonseca
Publicado em 16 de outubro de 2018 às 06h00.
Última atualização em 25 de abril de 2019 às 12h35.
São Paulo - A computação em nuvem é a menina dos olhos de gigantes como Amazon, Google e Microsoft - mas uma novidade da startup brasileira ContaAzul mostra como o Brasil ainda está longe de aproveitar todo o potencial dessa tecnologia.
O negócio anunciará hoje a Conta Azul Mais, uma plataforma dedicada a incluir contadores na computação em nuvem. Antes, inclusive na Conta Azul, o profissional de contabilidade tinha de transferir dados de seus clientes a um software instalado em seu computador. Agora, as informações serão atualizadas em tempo real não só para o cliente, mas também para ele.
Essa mudança pode ajudar contadores a economizarem até 85% de tempo de trabalho e fazer a Conta Azul a dobrar de tamanho neste ano, afirmou em entrevista exclusiva a EXAME Vinícius Roveda, CEO da startup. "Um estudo do Sebrae mostrou que 65% dos donos de negócio no Brasil esperam que o contador seja o principal aliado do negócio. Nossa plataforma surge em compasso com essa expectativa".
A novidade será divulgada à tarde no evento Conta Azul [CON], conferência organizada pela startup que discute tendências de tecnologia, inovação, serviços financeiros e o futuro da contabilidade.
A Conta Azul nasceu em 2012, com a proposta de dar uma plataforma de gestão financeira em nuvem ao pequeno e médio negócio. Três anos depois, Roveda percebeu como mandar notificações aos empreendedores sobre problemas no caixa não era suficiente - eles quebravam mesmo assim, enrolados com outras atividades empresariais.
“O dono de negócio precisa de alguém próximo, que entenda o contexto da empresa e apresente medidas práticas para controlar as contas e impulsionar o sucesso. O contador seria o profissional mais preparado para esse trabalho.”
Após estudar casos como o do unicórnio neozelandês Xero, a Conta Azul lançou a Conta Azul para Contadores em 2015. Por meio desse sistema de gestão, o contador pode organizar seus clientes, inserir dados contábeis e gerar relatórios com menor trabalho manual, aumentando o tempo dedicado a questões mais estratégicas.
Desde a criação da Conta Azul, o cliente final pode inserir informações a qualquer hora por meio da computação em nuvem. Algumas áreas cobertas são cobranças, estoque, vendas, notas fiscais, pagamentos, faturamento e documentos para a cobrança de tributos. Mas, até agora, o contador ainda era obrigado a pegar novos dados a cada atualização de seu cliente. O profissional acessava a Conta Azul dos seus clientes, visualizava as informações e as exportava para o sistema contábil usado em seu escritório de contabilidade.
No final do ano passado, a Conta Azul começou a trabalhar em um sistema de computação de nuvem também para o lado do contador, que se tornou a Conta Azul Mais. O recurso para impulsionar o desenvolvimento dessa plataforma veio de um aporte de 30 milhões de dólares, liderado pelo fundo Tiger Global Management, também usado para adquirir a startup de software Wabbi, que ajudou a desenvolver o sistema de contabilidade em nuvem.
Em 2011, a Conta Azul foi selecionada pela 500 Startups para o programa de aceleração de startups sediado no Vale de Silício (Estados Unidos) e recebeu seu primeiro aporte, no valor de 50 mil dólares. Na sequência, foram realizadas mais quatro rodadas de investimentos. Em 2012, um Série A liderado pelo fundo Monashees. No ano seguinte, um aporte Série B liderado pela Ribbit Capital. Em 2014, um follow Série C da Ribbit Capital. E agora, em 2018, o aporte Série D da Tiger Global Management.
Com a Conta Azul Mais, o profissional não precisa mais instalar um software: ele vê a mesma tela de seu cliente, com alguns dados a mais e outros a menos. Isso fará com que contadores trabalhem com seus clientes em tempo real, com a mesma versão das informações. Juntos, podem organizar e agir estrategicamente em busca de alto desempenho e produtividade, diz Roveda.
A Conta Azul Mais é um recurso gratuito para quem já paga um plano da Conta Azul, com mensalidades que vão de 69 e 419 reais por mês. Podem fazer um plano tanto empreendedores, que repassarão a Conta Azul Mais ao seu contador, quanto contadores que queiram repassar a Conta Azul a seus clientes.
A Conta Azul foca cada vez mais na integração com aplicativos que forneçam serviços complementares, um movimento praticado por outras startups de software como serviço (Saas), como a Resultados Digitais.
Os usuários da Conta Azul já podem emitir boletos e fazer a conciliação de crédito pela plataforma, por meio da associação com empresas como Stone, Cielo e iugu. Por meio do open banking, também podem ver seu extrato em tempo real, contratar serviços financeiros e realizar transferências, caso tenham contas em instituições como o Banco do Brasil. Há mais de 40 empresas associadas à startup. Daqui em diante, a Conta Azul busca integrar players em áreas como e-commerce e marketing, além de outros bancos dispostos a praticar o open banking.
A ContaAzul não divulga números exatos de usuários, mas mais de 800 mil empresas assinaram algum dia o serviço, que recebe ultimamente três mil clientes novos por mês. Ao todo, possui “dezenas de milhares” de usuários ativos. A startup também diz ter economizado até agora 300 mil horas das pequenas empresas e escritórios contábeis atendidos. Passam por ano pela Conta Azul 30 bilhões de reais em vendas, por meio de notas fiscais emitidas.
Roveda espera que a Conta Azul atinja 100% de crescimento neste ano - até agora, os números caminham dentro da meta - e que repita a porcentagem em 2019 e 2020.
A companhia prepara sua mudança para ocupar, a partir de janeiro do próximo ano, uma área com 9 mil metros quadrados localizada no parque tecnológico Ágora Tech Park (Joinville, Santa Catarina). A troca de sede acompanha a expectativa de aumentar de 250 para 500 funcionários até o final deste ano.
Hoje, o maior desafio da startup é convencer as mais de 60% das empresas brasileiras que não possuem uma plataforma de gestão, segundo estudos do CEO, a abandonarem o Excel. Grandes empresas de software, como SAP e TOTVS, não entraram no mercado de contabilidade.
A depender da agilidade em captar investimentos e expandir serviços, Roveda pretende continuar na dianteira.