Escritório da Conta Azul, em Santa Catarina: expectativa é chegar a 100 mil empresas atendidas neste ano (Conta Azul/Divulgação)
Mariana Fonseca
Publicado em 22 de outubro de 2019 às 11h00.
Última atualização em 22 de outubro de 2019 às 11h00.
A Conta Azul, startup catarinense de gestão pela computação em nuvem para empresas, irá além da gestão fiscal e tributária. A startup anunciará hoje (22) sua entrada em folhas de pagamento, permitindo que informações como férias ou 13º salário sejam disponibilizadas em tempo real, facilitando o cálculo de holerite e tributação ao contador e aos negócios.
A novidade será divulgada à tarde no evento Conta Azul [CON], conferência organizada pela startup que discute tendências de tecnologia, inovação, serviços financeiros e o futuro da contabilidade. O investimento na nova frente foi de 25 milhões de reais.
“A relação com folha de pagamento ainda é muito arcaica e manual, dificultando na hora de o contador organizar as informações. Queremos introduzir no segmento a mensalidade de contabilidade em nuvem”, afirmou Vinícius Roveda em entrevista antecipada a EXAME. A Conta Azul projeta um aumento de 70% em sua receita neste ano, taxa que deverá ser mantida para 2020.
A entrada em folha de pagamentos é um desdobramento da Conta Azul Mais, plataforma lançada há um ano para incluir contadores na computação em nuvem. Antes, inclusive na Conta Azul, o profissional de contabilidade tinha de transferir dados de seus clientes a um software instalado em seu computador. Hoje, as informações serão atualizadas em tempo real não só para o cliente, mas também para o contador.
A Conta Azul é focada em pequenas empresas, geralmente do regime fiscal e tributário do Simples Nacional. Com a folha de pagamentos, poderá atender empreendimentos que possuem funcionários e atingir negócios com regimes fiscais e tributários mais avançados, como o Lucro Presumido.
Segundo Roveda, porém, o foco continua em empresas de pequeno porte. O grande benefício está no contador usar menos softwares, aumentando sua produtividade -- e a fidelização à Conta Azul.
Quando um funcionário tira férias, por exemplo, o contador é avisado pela empresa. Esse profissional de contabilidade pede as informações necessárias à área de recursos humanos e emite uma guia. Pela Conta Azul, a ideia é que as férias possam ser automatizadas de acordo com o cadastro dos funcionários e a folha seja calculada automaticamente, sem e-mails e planilhas.
“É um processo que leva tempo e está sujeito a erros nos dois lados dessa cadeia. Agora, o contador garante que tudo está de acordo com a lei e formula estratégias. No lugar de digitar, pensa”, diz Roveda.
A Conta Azul Mais e os novos serviços para folha de pagamentos são gratuitos para quem já paga um plano da Conta Azul. Podem fazer um plano tanto empreendedores, que repassarão a Conta Azul Mais ao seu contador, quanto contadores que queiram usar a Conta Azul e incluem o preço do software na mensalidade cobrada das empresas atendidas.
A Conta Azul nasceu em 2012, com a proposta de dar uma plataforma de gestão financeira em nuvem ao pequeno e médio negócio. Três anos depois, Roveda percebeu como mandar notificações aos empreendedores sobre problemas no caixa não era suficiente – eles quebravam mesmo assim, enrolados com outras atividades empresariais.
Após estudar casos como o do unicórnio neozelandês Xero, a Conta Azul lançou a Conta Azul para Contadores em 2015. Por meio desse sistema de gestão, o contador pode organizar seus clientes, inserir dados contábeis e gerar relatórios com menor trabalho manual, aumentando o tempo dedicado a questões mais estratégicas. Um estudo do Sebrae mostrou que 65% dos donos de negócio no Brasil esperam que o contador seja o principal aliado do negócio.
Desde a criação da Conta Azul, o cliente final pode inserir informações a qualquer hora por meio da computação em nuvem. Algumas áreas cobertas são cobranças, estoque, vendas, notas fiscais, pagamentos, faturamento e documentos para a cobrança de tributos.
Antes do Conta Azul Mais, O contador acessava a Conta Azul dos seus clientes, visualizava as informações e as exportava para o sistema contábil usado em seu escritório de contabilidade. Desde o ano passado, o contador também pode administrar tais dados em tempo real. Agora, também para a folha de pagamentos.
Os próximos passos para a Conta Azul em produtos são oferecer mais relatórios, em áreas como estoque; aumentar o número de cidades homologadas para automatizar cálculos de impostos e emissão de notas fiscais pela startup (são 350 cidades hoje); e aumentar a integração com bancos e fintechs para permitir abertura de conta corrente, pagamentos e pedidos de crédito no próprio sistema da Conta Azul.
Em 2011, a Conta Azul foi selecionada pela 500 Startups para o programa de aceleração de startups sediado no Vale de Silício (Estados Unidos) e recebeu seu primeiro aporte, no valor de 50 mil dólares.
Na sequência, foram realizadas mais quatro rodadas de investimentos. Em 2012, um Série A liderado pelo fundo Monashees. No ano seguinte, um aporte Série B liderado pela Ribbit Capital. Em 2014, um follow Série C da Ribbit Capital. Em 2018, o aporte Série D da Tiger Global Management. Para manter a aceleração, Roveda afirma que a startup atingirá seu ponto de equilíbrio no começo do próximo ano e que não descarta a captação de um novo aporte.
A Conta Azul estima um aumento de 70% na receita deste ano, ultrapassando 100 milhões de faturamento e 100 mil clientes. Em 2020, a startup estima uma taxa de crescimento similar.
A Conta Azul afirma transacionar 3% do PIB brasileiro de pequenas empresas por sua plataforma, com a meta de chegar a 10% até 2025. A depender da necessidade de profissionalização de empreendimentos de menor porte, espaço para a startup catarinense crescer não falta.