Benedikt Voller e Joshua Kempf, da Gaveteiro: negócio teve como principal inspiração um empreendimento B2B japonês (Gaveteiro/Divulgação)
Mariana Fonseca
Publicado em 5 de junho de 2018 às 06h00.
Última atualização em 5 de junho de 2018 às 06h00.
São Paulo — Em tempos de Amazon querendo ser “a loja de tudo” e de foguetes da SpaceX chegando perto da meta de levar pessoas ao planeta Marte, há startups que atuam em mercados bem menos sexy - e crescendo sem muito alarde.
No Brasil, a Gaveteiro escreveu o parágrafo mais recente dessa história. A proposta do negócio de trazer ao mundo online o fornecimento de suprimentos para empresas (pense em lixadeiras, odorizadores, papelaria, parafusos e toners para impressora) acaba de conquistar 15 milhões de reais.
Esse aporte foi feito por quatro players: Alberto Hauser, acionista do grupo de fabricantes mexicanas de aço ABX; o fundo Battery Road Digital Holdings; o Thomasnet.com, um dos maiores sites americanos de busca por produtos industriais; e o Valiant Capital, fundo do Vale do Silício que já investiu em nomes como Instacart e Pinterest.
A empresa foi fundada no Brasil pelo americano Joshua Kempf e pelo alemão Benedikt Voller no ano de 2011. Kempf trabalhava analisando empresas da América Latina no banco Goldman Sachs, em Nova York. Enquanto isso, Voller era um dos diretores do Groupon no Brasil.
“O mercado B2B [empresas que vendem para empresas] por aqui opera igual ao mercado americano há algumas décadas. São distribuidores offline e de nicho, vendendo por loja física ou por call centers. Vimos uma oportunidade de consolidar todos esses nichos em uma plataforma, oferecendo conveniência às empresas que precisam equipar seus escritórios”, afirma Kempf.
Segundo o empreendedor, porém, a principal inspiração veio do outro lado do mundo. O MonotaRO, e-commerce de suprimentos industriais do Japão, possui um valuation de 4 bilhões de dólares. “Eles fizeram uma disrupção enorme desse mercado no Japão.”
O Gaveteiro é um e-commerce de suprimentos focado nas pessoas jurídicas. Elas possuem benefícios como prazos negociáveis de pagamento, preços melhores para quem compra uma maior quantidade, acesso do mesmo usuário para vários CNPJs e hirarquias de aprovação (uma compra pode ser aprovada apenas por usuários que são diretores do negócio, por exemplo).
A empresa vende mais de 25 mil produtos por dia, a um ticket médio de mil reais. O negócio possui mil fornecedores e 15 mil clientes pessoa jurídica, que vão de bares de esquina até gigantes como BRF. Em 2017, o faturamento foi de 41 milhões de reais.
A aporte será usado, principalmente, para expansão física. O Gaveteiro se mudará para um galpão três vezes maior, com 5 mil m². Com oito docas, a sede terá capacidade de processar 150 mil itens por dia. O negócio também investirá em marketing e acabou de adquirir a NEI, uma revista para o mercado industrial, com o objetivo de produzir conteúdo técnico e impulsionar vendas associadas.
Por fim, o Gaveteiro planeja inaugurar um marketplace no final deste ano. A meta é ter 1 milhão de produtos únicos nos próximos três anos. Segundo Kempf, esse modelo e o de e-commerce podem se complementar: enquanto a loja online tradicional serve para produtos de recorrência e com expectativas de entrega rápida, o marketplace seria o lugar ideal para comparar fornecedores de produtos com maior ticket médio e vida útil, como equipamentos.
“Acreditamos ser um movimento de sinergia e de criação de um modelo híbrido de sucesso, com o melhor dos dois mundos. Não é uma substituição”.
Ao todo, o Gaveteiro já captou 35 milhões de reais em aportes. Em 2018, quer faturar 60 milhões de reais, ainda focando no mercado brasileiro. “O mercado de São Paulo é tão grande quanto Argentina, Chile e Peru juntos. A oportunidade no Brasil é enorme e ainda temos de trabalhar muito para conquistar o país todo.”
Pode não ser um negócio sexy – mas é muito rentável.