Raquel e Michel Lam: eles estão investindo em uma escola de elite em Higienópolis (Escola Internacional de São Paulo/Divulgação)
Mariana Fonseca
Publicado em 23 de março de 2017 às 06h00.
Última atualização em 10 de abril de 2019 às 18h51.
São Paulo – Das oito da manhã às três da tarde, apenas conversas em inglês poderão ser ouvidas na Escola Internacional de São Paulo - seja dentro ou fora da sala de aula. Os estudantes passarão parte de sua grade curricular em computadores, aprendendo a programar, ou em laboratórios de criatividade (os “fab labs”, conhecidos no mundo do empreendedorismo). Todo fim de bimestre, o aluno não chegará com um boletim, e sim com um livro mostrando sua evolução.
É assim que pretende funcionar o novo empreendimento de Raquel Lam, fundadora da tradicional rede de escolas de inglês Red Balloon: um colégio exclusivo, voltado para pais que querem formar “cidadãos internacionais” e, ao mesmo tempo, dotados de “inteligência emocional”. E muitos ensinamentos do negócio anterior de Raquel serão reproduzidos no novo empreendimento.
Com previsão de abertura no começo de 2018, a Escola Internacional de São Paulo ocupará um prédio tombado na rua Albuquerque Lins, em Higienópolis (São Paulo). Do lado dos pais, quem quiser inscrever seu filho também terá de desembolsar bastante: a mensalidade varia de 5 mil a 5,5 mil reais.
O colégio fará coro a uma nova tendência de modelos de negócios: as escolas de elite. Elas cobram mensalidades mais caras do que a média, e alegam que tal preço se deve à reprodução de técnicas de ensino adotadas em escolas tidas como as mais modernas do mundo.
Raquel Lam começou no mundo da educação quando tinha 20 anos de idade, ao dar aulas particulares de inglês. Após o bom feedback, Raquel se uniu ao marido Moisés Lam, professor de inglês no colégio Objetivo, e fundou sua própria escola em Higienópolis: a Red Balloon.
O negócio começou em 1969, atendendo crianças de cinco a sete anos de idade. Segundo Raquel, a metodologia da escola era tirar os alunos do esquema de sentar e aprender durante duas horas a conjugação do verbo “to be”.
“As pessoas olhavam com estranheza, na época, essa proposta de ensinar inglês para os pequenos. Mas a percepção de que o inglês seria um idioma importante foi aumentando, e os pais começaram a pedir para expandir o ensino para outras idades”, conta. Então, a Red Balloon passou a atender crianças de três até dez anos de idade.
Quem veio com a ideia de franquear a rede foi Michel Lam, filho de Raquel. A primeira unidade franqueada foi aberta em 2002, em Alphaville (São Paulo). O negócio cresceu e ficou com a família até 2015, quando foi vendido - hoje, a Red Balloon é parte do grupo SOMOS Educação e conta com mais de 60 escolas em funcionamento.
A ideia de abrir uma escola para formar cidadãos internacionais já estava na cabeça de Raquel antes mesmo da venda. Em 2010, a empreendedora e Michel Lam abriram a escola infantil Red House, na qual o aluno aprende inglês “por osmose”: ouvindo os professores falarem e estudando conteúdos escolares no idioma. Há classes até o terceiro ano do ensino fundamental.
Agora, o projeto será estendido para mais anos escolares e tudo será agrupado na bandeira Escola Internacional de São Paulo. Michel ficará como o diretor do empreendimento.
O principal objetivo da Escola Internacional, segundo Michel, é trazer uma educação internacional, seguindo um currículo suíço adaptado ao brasileiro.
Para isso, será usada a metodologia International Baccalaureate, que já existe em outras escolas de elite, como Graded e St. Francis. A IB está presente em mais de quatro mil escolas, sendo a maioria americana, e defende que seus estudantes podem “entender e gerir as complexidades do nosso mundo” e “adquirir habilidades e atitudes para tomar ações responsáveis no futuro”. Saiba mais sobre a educação IB aqui.
Na Escola Internacional de São Paulo, os principais pilares divulgados são o desenvolvimento de uma mentalidade internacional, o ensino de habilidades para as “profissões do futuro” e a avaliação do progresso emocional do estudante.
Na prática, a medida mais radical é a de falar exclusivamente inglês nas instalações da escola. Conteúdos como matemática e história, por exemplo, são ensinados sempre na língua inglesa – a exceção são as aulas de língua portuguesa, claro.
Essa prioridade deverá sumir com o progresso na vida escolar: até a primeira fase do ensino fundamental, o foco está nessa imersão do idioma. A partir do sexto ano, porém, o foco da Escola Internacional será contratar professores especialistas em suas áreas, preparando os estudantes para vestibulares.
“Alguns pais querem que a criança more fora, mas não todos. E, se eles querem ficar por aqui, seus filhos terão de aprender o conteúdo do vestibular, mesmo que na metodologia IB”, diz Michel.
O que não sumirá é a presença de estrangeiros pelos corredores e pelas salas de aula, de acordo com o diretor. “O intuito de ter pessoas de fora é trazer diversidade cultural. Acabamos de receber um pai dinamarquês, cujo filho havia estudado em uma escola de lá com o sistema IB, e procurava algo parecido. Também temos uma professora da Colômbia e outra da África do Sul.”
A escola funciona das oito da manhã às três da tarde, em estilo americano. Mesmo assim, Michel defende que a vivência da cultura brasileira irá continuar. “Tentamos trazer outras visões e práticas porque sabemos que o currículo brasileiro tem deficiências. Não temos de gostar de tudo que é feito aqui. Mas não acho também que a gente tenha de aprender a história dos Estados Unidos, por exemplo. Até pode, mas por que não de qualquer outro país?”
Algumas outras atividades inusitadas são a diversificação do currículo: haverá aulas de empreendedorismo e de programação, por exemplo. O grande objetivo é preparar os alunos para “profissões do futuro”, ensinando habilidades que não eram antes demandadas.
Por fim, a escola fará uma avaliação do desenvolvimento de cada aluno por meio de extensos relatórios bimestrais, e não por notas em um boletim. Isso requer, claro, salas de aula menores.
“Um aspecto que caracteriza a exclusividade da nossa escola é o número de alunos. Enquanto boas escolas colocam cerca de 30 alunos, nós teremos entre 18 e 20, o que permite identificar a personalidade de cada um”, diz Michel.
As obras no prédio tombado de Higienópolis devem começar em abrir deste ano e terminar apenas em janeiro de 2018, quando a escola será inaugurada. A meta é reunir 550 alunos no prédio, onde cabiam mais de mil estudantes.
Operar com ociosidade proposital de espaço, claro, pede um grande investimento. Isso se reflete na mensalidade cobrada pela Escola Internacional de São Paulo: entre 5 mil e 5,5 mil reais.
Qual a estratégia da Escola Internacional de São Paulo para emplacar no mercado de educação, pedindo um investimento tão alto por parte dos pais em uma metodologia da qual muitos nunca ouviram falar?
“Diferente do modelo de escola que sai fazendo marketing e acumulando muitos alunos, nossa estratégia é fugir da propaganda e começar com poucos alunos, crescendo pelo boca a boca. O pai de um aluno fala para outro e vamos tendo, assim, um crescimento em progressão geométrica”, defende o diretor.
Mas esse pai só poderá mensurar resultados 20 anos depois, quando o ciclo escolar se encerrar. Então, a escola começará a colher seus frutos ou não. “Educação é um mercado em que tudo se faz de forma muito lenta. É isso que muitos investidores não entendem”, diz o diretor. “Quem é investidor e entra nesse negócio esperando ter um retorno financeiro em poucos anos irá se decepcionar.”
Existem escolas muito boas, mas que operam no prejuízo. Enquanto isso, há escolas que ganham muito dinheiro, mas não se preocupam com a educação. O grande desafio do setor é aliar esses dois aspectos.
“Sabemos que uma escola nunca será o negócio mais rentável que existe. Mas, sendo bem administrada, é possível seguir em frente e funcionar como empresa jurídica sustentável. A gente está montando essa escola para os próximos 100 anos. Só a Red Balloon já tem quase 50, então temos experiência nisso.”
Atualizada no dia 10/04/2019.