Fila para entrar nas lojas na rua 25 de Março em São Paulo, no dia 10 de junho, na reabertura do comércio de rua (Ananda Migliano/O Fotográfico/Estadão Conteúdo)
Karin Salomão
Publicado em 10 de junho de 2020 às 15h20.
Última atualização em 10 de junho de 2020 às 16h58.
Antes mesmo que as portas da loja matriz do Armarinhos Fernando fossem abertas, na tradicional rua de comércio 25 de Março em São Paulo, já havia fila na entrada. O gerente da loja, Ondamar Antonio Ferreira, conta que estava preparando a abertura desde a manhã de hoje e que as portas abriram 11h.
O prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), assinou ontem a autorização para que o comércio de rua volte a funcionar hoje na cidade, em horário reduzido. Amanhã é a vez de os shoppings retomarem as atividades na cidade mais atingida pelo coronavírus no Brasil.
Normalmente a loja matriz do Armarinhos Fernando recebe até 1.300 pessoas de uma vez. Agora, para evitar aglomerações, funcionários estão distribuindo 400 senhas na porta da loja e organizando a fila, que se formou antes mesmo da abertura da loja. A empresa está medindo a temperatura de quem entra na loja e oferece álcool em gel na entrada e no interior da loja.
A loja matriz, bem como outras filiais no mesmo centro comercial, ficou 80 dias fechada. De acordo com o gerente, havia fiscais, grades e bloqueios na rua para impedir o trânsito de carros na região. "Não entrava carro, nada, parecia um verdadeiro cemitério", diz.
O gerente trabalha no Armarinhos Fernando há 32 anos e disse que nunca viu nenhuma crise igual a essa. A companhia foi fundada há 43 anos e tem 16 unidades no estado de São Paulo. Outras unidades da varejista já haviam sido abertas há cerca de dez dias, como as lojas em Guarulhos, Sorocaba e Santo André.
A loja está sendo higienizada com mais frequência e a seção de produtos de limpeza, com itens essenciais como máscaras e álcool em gel, foi ampliada. "Parece uma loja que está inaugurando agora", diz Ferreira sobre a organização.
A varejista continuou atendendo alguns atacadistas que já eram clientes antes da pandemia. O próprio gerente e alguns funcionários se deslocavam até as lojas para separar os itens e os enviavam por meio de uma transportadora. Focada nas vendas físicas, não investiu no comércio eletrônico.
Durante a quarentena, 90% dos colaboradores haviam tido o contrato suspenso e o salário foi pago em parte através de um benefício do governo. Com a reabertura, nem todos os funcionários voltaram a trabalhar. Por fazer parte do grupo de risco, 40% continuam em casa e o restante passará a trabalhar em esquema de rodízio.
Nem todos os comércios irão reabrir, mesmo com a autorização do governo. A loja de doces Browneria To Go, que tem uma de suas duas unidades na região central da capital paulista, decidiu continuar atendendo somente pelo sistema de delivery. Francisco Veiga Salgado, sócio-proprietário da empresa, afirma que o espaço do estabelecimento é pequeno e fica difícil garantir que não haja contato físico entre as pessoas.
“Aumentamos nesta semana o horário de atendimento para as equipes não se encontrarem na troca de turnos. Enquanto os governos municipal, estadual e federal não forem completamente transparentes em relação aos dados da covid-19, não vamos abrir as portas”, afirma o empresário.
As vendas das duas unidades da empresa caíram pela metade após a pandemia, mas diante das incertezas, Salgado acredita que não deve abrir plenamente as portas até o final de julho. “Estamos ansiosos para voltar, isso é extremamente necessário, mas temos de nos sentir seguros para isso.”