Tennis Clash: o jogo, lançado no final do ano passado, é um dos maiores sucessos globais da Wildlife hoje (Wildlife Studios/Reprodução)
Carolina Ingizza
Publicado em 15 de agosto de 2020 às 08h00.
A startup Wildlife voltou aos holofotes esta semana ao anunciar um novo investimento de 120 milhões de dólares que a avaliou em 3 bilhões de dólares — 130% a mais que nove meses atrás. A empresa, criada no Brasil, é uma das maiores companhias de games do mundo, somando mais de 2,6 bilhões de downloads em seus jogos para dispositivos móveis.
Parte de seu sucesso se deve ao fato de ter entrado no mundo de desenvolvimento de games mobile no começo da indústria. Enquanto concorrentes apostaram na cobrança pelo jogo na hora do download, a Wildlife decidiu, em 2011, oferecer os games de graça e depois vender melhorias e itens exclusivos dentro do aplicativo — modelo conhecido como freemium.
Além disso, a startup, desde seu primeiro grande jogo, Racing Penguins, investe tanto na criação quanto no marketing. Ainda assim, nem todos os jogos lançados pela empresa deram certo. O diferencial da companhia é que ela consistentemente consegue entregar pelo menos um grande título por ano. Só do final de 2019 até então, foram dois grandes games: Tennis Clash e Zooba.
Mas qual é a fórmula da startup para emplacar novos games repetidamente? EXAME conversou com fundadores, vice-presidentes, diretores e conselheiros da companhia para entender como é o processo de criação de um jogo mobile de sucesso.
Conforme a Wildlife foi crescendo ao longo dos últimos nove anos, ela não deixou de permitir que todos os seus funcionários sugiram ideias de jogos. Do presidente ao estagiário, cada um dos 730 empregados pode enviar sugestões. Uma vez por trimestre, a empresa pede para que essas ideias sejam enviadas para a equipe de desenvolvimento de jogos. Em um hackathon, várias pequenas equipes começam a trabalhar nos projetos mais promissores.
De acordo com Mick Hocking, vice-presidente de desenvolvimento de games da empresa, as sugestões precisam seguir um padrão de Game Design, para garantir que a tese dos criadores é sólida e que eles sabem como desenvolver aquele jogo. Para que uma sugestão de novo game seja selecionada, uma banca de diretores precisa aprová-la. Nesse fórum, não importa o consenso, mas a paixão. Se uma pessoa amar a ideia, ela é escolhida, ainda que o restante dos jurados não tenha gostado.
A partir da seleção, começa o processo de desenvolvimento do game em si. As equipes trabalham com metodologias ágeis e análise de dados. Na primeira fase de incubação e prototipagem, uma equipe pequena, de duas a três pessoas, tenta provar a tese do jogo. Ele é divertido de jogar? Se for, passa para a fase de produção, onde um time maior trabalha para construir uma versão completa e de alta qualidade do game. Nessa fase final, engenheiros, artistas, designers e coordenadores trabalham em conjunto.
Cada jogo tem um diretor responsável pelo projeto. No caso do Tennis Clash, lançado no final de 2019, a líder é a engenheira mecânica Ana Costa. Ela conta que o jogo começou a ser pensado em 2017. Na época, estudando o mercado de jogos esportivos, a Wildlife percebeu que não havia um grande game de tênis, um dos esportes mais populares do mundo.
Para mudar esse cenário, uma equipe da startup trabalhou para entender como seria possível simular a dinâmica do esporte no celular em um jogo multiplayer. “Estudamos física, lemos inúmeros estudos sobre trajetória de bola, fizemos aulas de tênis”, diz Costa. Para ela, essa grande semelhança com o esporte real é o grande diferencial do game, ainda que ele não seja difícil de jogar para quem não conhece o tênis.
A equipe liderada por Costa trabalhou em conjunto com o marketing e a arte para pensar a melhor estratégia para levar o jogo até os usuários. As peças veiculadas nas redes sociais traziam personagens realistas, para mostrar ao jogador que aquele era um game que se propunha a ser similar ao esporte. Por canais como Google e Facebook, a companhia conseguiu chegar até os fãs de tênis: o jogo foi o mais baixado em mais de 100 países na semana do lançamento e segue como um dos principais títulos da empresa.
Mas colocar um game no ar não significa o fim do trabalho. Jogos antigos, como o Sniper 3D, de 2014, continuam a atrair milhões de pessoas todos os meses. Para garantir o interesse contínuo dos jogadores e dar suporte técnico, as equipes precisam ficar constantemente implementando melhorias e fazendo testes para analisar o comportamento dos usuários.
Conforme os sucessos vão se somando, a Wildlife precisa aumentar o tamanho do seu time para que a máquina criativa continue a girar. A empresa está sempre trazendo novos talentos. No momento, há mais de 200 vagas abertas para os escritórios de São Paulo, Buenos Aires, Irving e Dublin da companhia. Pessoas que tenham boa dinâmica para trabalhar em grupo e sejam apaixonadas por jogos são os candidatos ideais para a startup.