Consumidores em mercado local com cartazes do Alipay em Wenzhou, na China: fintech do Alibaba nasceu com a proposta de inclusão financeira (VCG/VCG)
Mariana Fonseca
Publicado em 7 de junho de 2018 às 17h49.
São Paulo - Quando empreendedores brasileiros fizeram uma missão à China no mês passado, tiveram uma dificuldade inesperada: sobreviver sem usar o celular. Não era possível comprar uma bebida nas diversas vending machines espalhadas pelas ruas e nem pegar um táxi até o hotel.
Isso porque nem as máquinas e nem os motoristas possuem troco em suas mãos. A presença dos pagamentos por smartphones é absurda em muitos segmentos: nos restaurantes, por exemplo, as telinhas representam 80% do total transacionado.
Esses empreendedores brasileiros foram falar com um executivo que possui um grande papel nessa história: Eddie Deng, diretor de estratégia da fintech Ant Financial, braço do gigante Alibaba. O líder do e-commerce chinês já possui um valuation de 500 bilhões de dólares (na cotação atual, cerca de 2 trilhões de reais) e muitos preveem que será a primeira empresa de internet a bater a marca do trilhão de dólares.
Em palestra durante o evento Fintech Conference, organizado pela plataforma StartSe, Deng falou mais sobre como a Ant Financial repete o desempenho impressionante de sua mãe: indo dos QR Codes ao reconhecimento facial para fazer os chineses usarem, cada vez mais, o celular como forma de lidar com seu dinheiro.
A fintech foi criada há menos de cinco anos, mas já é avaliada em 150 bilhões de dólares (na cotação atual, cerca de 586 bilhões de reais) e ganhou o título de “maior fintech do mundo”. Segundo Deng, o valuation supera instituições financeiras com mais história, como Goldman Sachs, BNP Paribas, Morgan Stanley e PayPal.
O braço financeiro do Alibaba começou como uma startup de inclusão financeira. É uma estratégia que muitos brasileiros reconhecerão nas startups daqui: servir uma população desbancarizada, que não encontrava vazão em instituições financeiras tradicionais. Um dos produtos da chinesa, inclusive, foi descrito por Deng como “uma espécie de Nubank.”
No seu segundo ano de operação, a Ant Financial já entrou no mercado de 601 bilhões de dólares de pagamentos móveis (cerca de 2,3 trilhões de reais) por meio do meio de pagamento Alipay.
Para Deng, a China é o maior país do mundo no setor e também o que apresenta maior potencial de crescimento. Por isso, o braço financeiro do Alibaba aposta hoje principalmente nos pagamentos móveis - e vai além, prevendo como será a forma de transacionar dinheiro no futuro.
Um dos destaques do Alipay para se tornar um dos maiores players chineses de meios de pagamento, ao lado do aplicativo de mensagens WeChat, é o foco em uma série de valores atrativos: conveniência, economia e segurança, por exemplo.
Uma funcionalidade do Alipay que se baseia nessas características é o pagamento por meio de QR Codes. Do lado dos consumidor, há uma experiência simples de consumo: eles sacam seus celulares, escaneiam o código dos produtos desejados e confirmam a transação.
Enquanto isso, os comerciantes não precisam alugar ou comprar maquininhas de pagamento - o que faz com que desde vendedores de rua até comerciantes em vilarejos chineses optem pelo Alipay. Hoje, 50 milhões de microempreendedores com negócios físicos usam o recurso de pagamento por QR Codes.
Por fim, a Ant Financial consegue obter dados dos consumidores, lançar serviços personalizados e - claro - aumentar seus ganhos. “Uma vez que você tem o pagamento, você tem tudo. Dados, tráfego, consumidores. É fácil abrir novas possibilidades”, resume Deng.
O pagamento móvel já virou moeda corrente no outro lado do mundo. Agora, a China está de olho no pagamento por meio de reputação e reconhecimento facial, esclareceu Deng a EXAME após sua palestra. Quem se hospeda ou pega um livro emprestado não precisará tirar o celular do bolso e fazer depósitos de segurança: a transação será feita de forma automática, com base nas informações de crédito já coletadas dos cidadãos chineses.
A Ant Financial começou a fazer reconhecimento facial em 2017. É um passo muito maior do que quando a fintech começou, trabalhando para incluir comerciantes e consumidores desbancarizados. “No Alibaba, eu aprendi a resolver problemas reais e que as pessoas ainda não perceberam nem tentaram solucionar”, afirmou o diretor. O Alibaba não gosta de sonhar - e nem de faturar - pequeno.