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Com o home office, empresas de reforma crescem 40% na pandemia

Com as pessoas passando mais tempo em casa, o número de reformas para trazer mais conforto ao trabalho remoto aumentou

Samira Salatino e Luciano Jesus Pereira: casal é dono de uma pequena empresa especializada em placas para parede em 3D (Ricardo Matsukawa/Jornal de Negócios do Sebrae/SP)

Samira Salatino e Luciano Jesus Pereira: casal é dono de uma pequena empresa especializada em placas para parede em 3D (Ricardo Matsukawa/Jornal de Negócios do Sebrae/SP)

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Carolina Ingizza

Publicado em 25 de dezembro de 2020 às 06h00.

Um dos resultados mais imediatos da pandemia de covid- 19 no país foi o aumento da quantidade de pessoas trabalhando em home office. Mesmo as empresas mais tradicionais viram a necessidade, pelo menos por um período, de manter seus funcionários trabalhando de casa. Com isso, aqueles pequenos negócios que atuam com reformas e materiais de construção e decoração sentiram um “efeito colateral” bem-vindo com o crescimento da procura por pessoas querendo adaptar os espaços de casa a essa nova necessidade.

De acordo com a pesquisa Gestão de Pessoas na Crise Covid-19, da Fundação Instituto de Administração (FIA), o trabalho em casa foi adotado por 46% das empresas durante a pandemia no Brasil. Para que a sala, um quarto de hóspedes ou uma área sem uso fossem transformados em algo próximo a um escritório, foi necessário investir em móveis novos, pequenas obras e até mesmo um “fundo” mais decorado para as reuniões por videoconferência. Tudo isso para tornar o espaço mais confortável, agradável e próprio para trabalhar.

O consultor do Sebrae-SP Éder Max observa que o mercado de pequenas reformas costuma ficar mais aquecido nos meses de janeiro e fevereiro, quando as famílias estão de férias. Em 2020, no entanto, um levantamento do Ibre/FGV e da Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção (Anamaco), mostra que 42% dos comerciantes consultados registraram crescimento nas vendas entre maio e julho.

“O mercado vinha de altos e baixos, mas, quando chegou a pandemia, os empreendedores do setor se assustaram. Praticamente todo mundo teve o mesmo pensamento, de que haveria estagnação, o que não aconteceu. Passando mais tempo em casa, as pessoas começaram a perceber detalhes que antes não observavam por causa da rotina e isso motivou reformarem o espaço onde vivem. Eu mesmo fui um desses”, conta Max, que adaptou todo seu escritório para continuar atendendo os clientes a partir de sua casa.

Novas demandas

Assim como inúmeros empresários, Samira Salatino tomou um susto quando teve de suspender o trabalho presencial em virtude da covid-19. Há três anos no mercado de casa e construção, a empresa de Samira e do marido, Luciano Jesus Pereira, é especializada em placas para parede em 3D. Em um cenário de incertezas, a empresária acabou cortando sua linha de produção e teve de continuar seu trabalho remotamente. “Quando a pandemia chegou, tivemos que mandar todos os nossos funcionários da linha de produção embora. O único que restou foi o meu marido para embalar e enviar as placas”, conta Samira.

Quinze dias depois de dispensar todos os seus funcionários e passar a trabalhar remotamente, ela começou a perceber um crescimento grande nas vendas via web. Veio outro susto, e Samira correu para contratar pessoas para sua linha de produção. “Não esperávamos essa demanda de vendas em plena pandemia”, afirma.

A empresária também lembra que seu e-commerce não seguia padrões de venda pela internet e que os processos eram totalmente desorganizados. “Atuávamos no mercado digital, mas não tínhamos uma organização correta de processos internos da empresa. Nesse período, estruturamos todo nosso marketplace, ajustamos os processos internos, criamos um novo site e colocamos um padrão especifico para esse tipo de atendimento”, explica.

Com o crescimento de 150% no faturamento nos últimos meses, Samira ressalta o impacto que teve ao ajustar a parte operacional do seu negócio – em boa parte com o auxílio do Sebrae-SP, de quem ela é cliente desde que era Microempreendedor Individual (MEI). “Estruturar todo nosso e-commerce e os processos internos foi fundamental para esse crescimento em um período tão conturbado”, diz Samira. Isso incluiu, claro, providenciar um espaço adequado para também trabalhar de casa.

Oportunidades

O empreendedor Ricardo Karam trabalha há cinco anos com móveis novos e seminovos para escritórios em um galpão em Guarulhos. Acompanhando o comportamento do mercado, ele viu uma oportunidade de aumentar o faturamento de olho nas necessidades de quem começou a fazer home office. Mesmo assim, ele lembra que nas primeiras semanas da pandemia seus negócios pararam, e a dúvida era sobre como manter as contas em dia.

“Nas primeiras semanas, ficamos de portas fechadas. Passamos por um momento de crise por causa de tudo isso. No Brasil, as taxas e impostos elevados complicam muito a vida dos donos de micro e pequenas empresas, estamos sempre com o caixa muito apertado para trabalhar”, diz Karam.

Com os conhecimentos adquiridos em cursos no Sebrae e a partir de sua formação em marketing digital, o empreendedor passou a direcionar campanhas online para o público que estava em home office. A estratégia deu resultado e o seu negócio passou a ter mais procura: durante a pandemia, o faturamento aumentou 20%. “Antes, vendíamos apenas para escritórios e empresas. Com as pessoas passando mais tempo em casa e precisando de mais comodidade para trabalhar, foi apenas uma questão de tempo para que as vendas começassem a acontecer. Dessa forma, conseguimos nos realocar no mercado e não quebramos em meio a um momento tão conturbado”, afirma.

A própria empresa de Karam teve de se adaptar para o meio digital – e o fato de seu consumidor final ter mudado de perfil também contribuiu para essa migração. Na opinião dele, o trabalho remoto está sendo uma ótima ferramenta para a empresa e para seus funcionários.

“As empresas perceberam que poderiam reduzir os custos com os funcionários em casa e, em vez de cobrar pontualidade do horário, passaram a cobrar a produção. Ao mesmo tempo, o funcionário percebeu que é importante que ele esteja em seu local de trabalho duas ou três vezes na semana para aprender mais e construir uma rede de contatos”, ressalta.

Faça você mesmo

O consultor do Sebrae-SP Éder Max salienta que a pandemia acelerou a transformação digital dos pequenos negócios do setor de construção. “Tivemos muita procura de empreendedores que ainda não trabalhavam com o sistema de delivery e muito menos com o e-commerce. O problema é que muitos estavam acomodados, achando que apenas as redes sociais davam conta do recado. Hoje é fundamental levar seu negócio para o mercado digital. O que era visto como luxo se tornou uma questão de sobrevivência”, completa.

Outro aspecto que ganhou força no período no mercado de construção foi o “faça você mesmo”, observa Max. “Muitas empresas começaram a publicar vídeos mostrando o seu produto e instruindo como é feito todo o manuseio”, diz. Segundo ele, quanto mais objetivo e mais detalhado o vídeo, melhor. “Isso vai destacar as características do produto e mais pessoas vão se interessar por ele. Esse é o tipo de solução que o mercado precisa trazer para o novo consumidor”, diz.

Um lugar especial

Adaptar-se ao home office vai além de aspectos ergonômicos ou de aproveitamento do espaço. A questão mental é outro ponto fundamental a ser considerado, de acordo com a arquiteta Priscilla Bencke, especialista em neurociência e ambientes de trabalho. “A neurociência aplicada em arquitetura vem justamente mostrarcomo os ambientes, fisicamente falando, impactam nas emoções e no comportamento das pessoas. O home office, de alguma forma, impacta no sistema fisiológico e nervoso”, explica.

Durante a pandemia, diz a arquiteta, as pessoas começaram a perceber o local onde moram com mais afeto, obrigando-se a reformar o seu espaço. “Temos visto muitas reformas porque agora as pessoas estão mais conscientes. Muita gente frequentava suas casas depois de um dia puxado de trabalho e já saía logo pela manhã, então não passava muitas horas dentro dela. As pessoas estão redescobrindo suas casas”, afirma.

A seguir, Priscilla Bencke destaca algumas orientações para adequar seu espaço de trabalho em casa:

1 - Estruture o espaço

Monte um local de trabalho onde você não sinta desconforto físico ou psicológico. Use uma cadeira mais confortável e uma mesa de tamanho adequado para o seu material de trabalho. Para quem trabalha com notebook, é recomendado usar mouse, teclado e um suporte externo para evitar qualquer tipo de lesão na região do pescoço.

2 - Acústica e iluminação

Pense em um local de sua casa que seja tranquilo e bem iluminado para desenvolver as suas atividades. Esses são elementos que precisam ser levados em consideração quando se quer criar um ambiente saudável de trabalho em casa.

3 - Estabeleça uma rotina

Assim como você tinha uma rotina para ir trabalhar, faça o mesmo em casa. Nada de ficar na cama, de pijama e com o computador em cima. Isso faz mal para o nosso cérebro. Faça tudo como se estivesse saindo para trabalhar. Mantenha os mesmos hábitos de refeição e intervalos.

4 - Personalize seu ambiente

Estando em casa, você pode dar a cara que quiser ao seu ambiente de trabalho. Crie um espaço onde você se sinta à vontade, bem disposto e confortável para trabalhar. Deixe sua criatividade falar por você na hora da montagem do seu local. Afinal, é a sua casa.

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