Rodrigo Tavano é proprietário do Hotel Pousada Vivendas do Sol e Mar. Ele reformou vários espaços de seu estabelecimento e prepara-se para um amento de hóspedes para os próximos meses (Ricardo Matsukawa/Jornal de Negócios do Sebrae/SP)
Da Redação
Publicado em 7 de agosto de 2021 às 14h00.
Por Patricia Gonzales, do Jornal de Negócios do Sebrae-SP
O turismo foi um dos setores da economia brasileira que mais sofreram impacto em seu faturamento durante a pandemia de Covid-19, com uma queda de 68% em relação ao período anterior à crise, de acordo com a 11ª pesquisa do Sebrae sobre os impactos do coronavírus nos pequenos negócios, realizada em parceria com a Fundação Getulio Vargas (FGV). Com o avanço da vacinação no país, empreendedores do setor começam a ver uma luz no fim do túnel e já esperam que a hora da retomada definitiva esteja próxima. Por isso, muitos já estão se programando para a chegada desse momento e planejam colocar mudanças em prática já no início deste segundo semestre. O que os empreendedores de sucesso têm em comum? Inovação será a chave de 2021. Fique por dentro em nosso curso exclusivo.
De acordo com pesquisa realizada pelo Sebrae especificamente sobre o turismo, os clientes pós-pandemia terão uma preferência por atividades ao ar livre e também por viagens de carro, além de valorizarem mais a higiene e as viagens em pequenos grupos (também chamado de turismo de isolamento).
Entre os entrevistados, 70% afirmam que desejam celebrar a retomada com uma viagem especial, enquanto 50% também já declaram a vontade de viajar com mais frequência. “Em princípio, há a preferência por destinos mais próximos, cujo deslocamento seja possível de carro, pois ainda há receio em relação a transporte coletivo.A tendência por turismo regional estará fortalecida, com orçamentos mais adequados ao momento e menor duração de viagem”, analisa a consultora do Sebrae-SP Michele Divino.
No caso do empreendedor Rodrigo Tavano, dono do Hotel Pousada Vivendas do Sol e Mar, em Caraguatatuba, o planejamento já está montado. Depois de passar 97 dias com as portas fechadas em 2020, além de movimento abaixo da média em muitos dias de funcionamento, ele acredita que, a partir de setembro, o movimento será mais intenso. “Defini meu planejamento estratégico pensando de setembro a fevereiro. Isso passa por ações de marketing e contratação de mão de obra. Considero dois cenários: um mais conservador e outro mais arrojado. Prefiro pecar pelo excesso e jamais deixarei de receber um cliente por falta de camareira, por exemplo”, afirma.
Além de realizar muitas promoções e ofertas atrativas pelas redes sociais, Tavano também já começou a venda de pacotes para o Natal e réveillon. Para ter sucesso nas reservas, ele tem apostado em boas condições de parcelamento e atenção para a formação do preço de venda. “Sei que a oferta será grande também, apesar de acreditar na alta procura. Não adianta querer tirar o ‘atraso’ e tentar compensar os prejuízos de uma só vez”, observa.
Para organizar as suas ações, o empreendedor enxerga esse período de transição até a “normalidade” tão esperada por todos em três fases: reabertura (fase vivenciada quando puderam abrir as portas), retomada (com o aumento de movimento, que ele acredita que vá ocorrer a partir de setembro), para aí sim os negócios conseguirem atingir a recuperação total. “Eu acredito que essa recuperação vá ocorrer no fim de 2022 para 2023. Aí sim, conseguiremos mitigar as perdas, voltar a uma ocupação normal e conseguir quitar as dívidas, empréstimos etc”, explica.
O empreendedor André Jordão, da agência Giordano Travel, também está otimista para a retomada do turismo a partir do segundo semestre. E, para aproveitar as oportunidades, ele tem apostado em uma nova forma de viajar, seguindo as tendências e preferências de seus clientes.
Recentemente, lançou um modelo de viagem em sua agência chamado Connection Club, com a ideia de fazer um atendimento personalizado para pequenos grupos e atender aos desejos e preferências dos participantes. “Percebemos que, com a pandemia, as amizades e a forma de se comunicar passaram por modificações. Então nos juntamos com uma profissional da área de turismo e uma professora de espanhol e montamos esse novo produto para propiciar uma nova experiência”, explica.
A ideia é aproveitar o conceito do turismo de isolamento para montar pequenos grupos que têm a oportunidade de se conhecer e interagir por alguns meses antes da viagem. “Nosso programa começa com um grupo de, no máximo, 20 pessoas. Elas passam por 16 semanas de oficinas culturais e têm a oportunidade de pesquisar e conhecer mais sobre a cultura do país de destino, de forma diferente e descontraída. As pessoas passam a interagir, se conhecer melhor e também podem escolher quais os lugares que mais combinam com o grupo para colocar no roteiro, o que torna a experiência ainda mais personalizada”, explica.
O primeiro grupo já iniciou o conjunto de oficinas e tem viagem para a Turquia marcada para outubro deste ano. Como o seu público abrange principalmente pessoas a partir dos 45 anos, ele acredita que todos já estarão totalmente vacinados até a data da viagem. “Uma das primeiras descobertas do grupo é que o espanhol é a segunda língua mais falada na Turquia. Muita gente não sabe disso e por isso temos a professora. O grupo já está se falando e já tem gente combinando de dividir quarto na viagem, fazendo amizades. Eles vão conhecendo a rotina dos outros e se sentindo mais próximos”, diz.
Jordão está otimista com a experiência e planeja realizar turmas do Connection Club pelo menos uma vez ao ano, de acordo com a demanda. “Os clientes participam de aulas e oficinas semanais com 1h30 de duração. Eles poderão fazer os passeios que escolherem, cada um no seu ritmo, sem correria. Queremos incentivar as conexões e que a pessoa se sinta segura em viajar com os outros”, afirma. A segunda turma, que deverá ocorrer em 2022, está em fase de ajustes para ser divulgada.
Os pequenos negócios que oferecem atividades ao ar livre também estão otimistas. Além de acreditarem na grande procura por essa alternativa, que envolve menos riscos de contaminação pelo coronavírus, eles apostam também no fortalecimento do turismo local, com viagens no estilo “bate e volta” que podem ser feitas de carro.
Robson Roder é dono da Roder’s Turismo, na cidade de Pardinho, a cerca de 30 quilômetros de Botucatu. Nos últimos meses, o empreendedor precisou diversificar o negócio e passou também a produzir e vender produtos artesanais do seu sítio, como cachaça, rapadura, melado e açúcar de cana para fazer entregas na região, sempre contando com o apoio da família para tentar manter as contas em dia. Com o avanço da vacinação, ele aposta que sua demanda irá crescer. “Tem gente já ligando aqui e pedindo informações. As pessoas dizem que estão esperando a vacina para vir.”
Roder conseguiu investir também na construção de quatro chalés para receber hóspedes que desejarem passar mais tempo em sua propriedade. Apostando na retomada, ele está contratando e treinando pessoas da região para trabalhar em seu negócio. “O importante agora é se preparar, estruturar bem o ponto físico e partir para as mídias digitais. Também estou implantando um sistema de gestão de segurança para fazer uma avaliação geral do meu negócio, identificando oportunidades e ameaças. Estou contando que vamos voltar com tudo”, comemora.
Outro empreendedor que também aguarda este momento é Diogo Lopes, dono do Parceiros do Turismo Receptivo, empresa de viagens e eventos localizada em Santos.
Com a pandemia, ele optou por trocar suas atividades da capital para o litoral e agora aposta no potencial da região para a retomada. “A hotelaria está percebendo a importância das oportunidades de lazer para que o cliente tenha uma experiência ampla. Eles voltam pela experiência que tiveram na cidade. E fazendo isso com uma empresa especializada, a satisfação é garantida”, diz.
Lopes tem oferecido passeios de bicicleta pela orla e investido em passeios náuticos. Além disso, tem buscado fazer um trabalho mais exclusivo para grupos, com guias turísticos que levam os clientes para passeios com o seu próprio carro. “Aqui temos poucos profissionais assim. E Santos é uma das cidades mais buscadas para turismo hoje. Então, acredito que há muito potencial para ser explorado”, afirma.
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