Helena Rizzo, chef do Maní: ela foi premiada a melhor chef mulher do mundo no ano de 2014 (Helena Rizzo/Instagram/Reprodução)
Mariana Fonseca
Publicado em 10 de outubro de 2018 às 06h00.
Última atualização em 10 de outubro de 2018 às 06h00.
São Paulo - Helena Rizzo, chef do premiado restaurante Maní, é mais uma representante de negócio que tomou partido nas eleições de 2018. E mais uma pessoa que, em resposta, foi vítima do acirramento político atual e recebeu uma mistura de críticas e elogios.
Uma foto publicada na rede social Instagram no último domingo (7), dia de votação do primeiro turno das eleições, mostra Rizzo e funcionários com o dedo do meio em riste e com a hashtag “#EleNão” escritas nos braços. O movimento é contra a eleição de Jair Bolsonaro, candidato à Presidência da República pelo PSL. Algumas outras personalidade que também aderiram ao movimento são as atrizes Bruna Marquezine, Camila Pitanga e Claudia Raia; a jornalista Raquel Sheherazade; e a cantora pop Madonna.
O Mani, localizado em São Paulo e especializado em culinária de fusão brasileira-europeia, é o nono melhor restaurante da América Latina para o ranking 50 Best Restaurants 2018. Rizzo foi eleita a melhor chef mulher do mundo em 2014.
A postagem possui até o momento 24,7 mil curtidas (ou “corações”) e 20,9 mil comentários. Houve principalmente uma onda de protestos contra e chef e contra os restaurantes Maní e Manioca, por meio de hashtags como #maninão e #maninuncamais, referenciando os movimentos #EleNão e #EleNuncaMais.
Nos comentários, pessoas xingam e acusam a chef de “cuspir no prato se um cliente chegar com uma camisa verde e amarela”, de ter “energia negativa na produção de um alimento” e de “fazer parte da parte podre de nosso Brasil”, ser “mimada” e viver “no luxo e na riqueza”. Outros afirmam que o Maní irá perder a clientela, que irá “fugir do país” dependendo do resultado da eleição, e falir.
Mas também há elogios ao posicionamento de Rizzo. “A gente esqueceu que mulher tem que só sorrir e acenar, ficar linda e concordar com vocês, nunca fazer gestos. Mas homem pode fazer foto com arma na mão que não tá causando nada, não”, comenta uma usuária. Outras pessoas parabenizam o “caráter” e a “postura” da chef. Segundo Veja, a colega Janaína Rueda comentou “Lute sempre pelas suas ideias, e não se importe com ameaças”. Foi o suficiente para que a chef, sócia do Bar da Dona e d’A Casa do Porco, também ganhasse a ira dos internautas. Até agora, foram 230 mensagens, a maioria delas de cunho ofensivo. Além de Janaína Rueda, a chef do Maní recebeu o apoio de Bel Coelho, do restaurante sazonal Clandestino.
Depois da enxurrada de comentários, Rizzo postou um posicionamento oficial no Instagram, republicado pelo Maní. “Primeiramente, peço desculpas a qualquer pessoa que tenha se ofendido com o meu gesto, ele não foi direcionado a você. Meu gesto é uma manifestação contra o preconceito, o machismo, o racismo, a homofobia e a misoginia. Reforço também que ele foi pessoal e expressa tão somente a minha convicção, e não a do Grupo Maní”, escreve.
“O Maní é uma das cozinhas mais diversas que conheço, com brancos, negros, homens e mulheres, héteros e gays, gente do Brasil inteiro. Eles são minha família, pois é com eles que passo a maior parte do tempo. Assistir a um movimento crescente de intolerância que atinge boa parte dos meus colegas de cozinha me deixa extremamente consternada. Em nenhum momento manifestei posição partidária, não sou comunista nem socialista. Sou uma pessoa que vê o futuro dos meus pares ameaçado. E isso, espero que entendam, é difícil demais aceitar.”