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Cachaçaria aposta em sustentabilidade para ganhar mercado

Engenho alinha a produção de cachaças de alambique para seguir padrões de eficiência energética, aproveitamento de resíduos e práticas ambientalmente corretas

Cachaça: empresa está constatando que investir em sustentabilidade pode representar economia e lucratividade (Getty Images)

Cachaça: empresa está constatando que investir em sustentabilidade pode representar economia e lucratividade (Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 27 de maio de 2014 às 10h55.

Natal – Esqueça a visão remota de que a produção de cachaça representa também processos nocivos ao meio ambiente. Pelo menos, no Rio Grande do Norte, boa parte dos fabricantes da bebida que é a cara do Brasil se moderniza e já adota práticas ambientalmente corretas.

Uma prova disso é o Engenho Mucambo, que há dez anos produz cachaças de alambique com os rótulos ‘Mucambo’ e ‘Maria Boa’.

No engenho, instalado na cidade de Goianinha (a cerca de 55 quilômetros da capital potiguar), praticamente nada é desperdiçado. Algo que poderia ser considerado resíduo vira matéria-prima para otimizar a produção e combustível para gerar mais negócios. 

Após esse direcionamento, a empresa está constatando que investir em sustentabilidade pode representar economia e lucratividade.

"Estamos sempre melhorando os processos para dar viabilidade à nossa produção. Quando você faz um produto com valor agregado a lucratividade é maior". Pedro Lima - Engenheiro e empresário Pedro Lima

A empresa é atendida pelo projeto setorial de Cachaças de Alambique do Sebrae no Rio Grande do Norte e conta com consultorias do Programa Sebraetec, que propôs melhorias ao negócio. No engenho, agora o lema é aproveitamento.

O bagaço é usado para aquecer a caldeira, que envia vapor para aquecer os alambiques e destilar a bebida. Uma alternativa para substituir o uso de lenha e dar novo destino às sobras com a retirada do liquido da cana.

Mas não é apenas isso. Rico em matéria orgânica, o resíduo que sobra da destilação, conhecido como vinhoto, serve de aditivo para compostagem. O composto da junção do vinhoto, bagaço da cana-de-açúcar e esterco vira adubo altamente concentrado de potássio e nitrogênio, substâncias primordiais para crescimento do pomar de cana-de-açúcar.

A próxima adubagem da plantação, a ser iniciada no próximo mês, já será com esse novo composto, que evita gastos com a aquisição de adubos.

O engenheiro Pedro Lima assumiu a parte administrativa da empresa fundada pelo pai, Frederico Lima. Pedro, que também assume a função de gerente comercial da empresa foi o responsável pelas mudanças e a guinada traçada para o engenho.

A meta agora é obter o licenciamento ambiental. “No ano passado, iniciamos uma consultoria para obtermos a licença ambiental. O Sebrae está dando suporte para que a empresa se enquadre nas normas ambientais e também nos auxiliando no trâmite burocrático”.

Após isso, o próximo passo será a certificação de produto orgânico para as cachaças. Apesar de todo o processo produtivo ser completamente orgânico, a empresa ainda não possui a certificação. Entretanto, cada lote da bebida feita no Engenho Mucambo é rastreado.

É possível identificar exatamente a procedência de uma garrafa cachaça, indo da origem na plantação da cana até o ponto de venda.

Nova linha

O Engenho Mucambo é famoso por ser o único do Rio Grande do Norte e um dos poucos do país a fabricar uma cachaça amaciada por dois anos em barril de amarelo cetim – a Maria Boa, que é do tipo ouro. Já a que leva o rótulo Mucambo é armazenada em barril de umburana, que dá um sabor também diferenciado à bebida.

São quatro barris – três de amarelo cetim e um de umburana - com capacidade para armazenar 20 mil litros de cachaça cada um. O engenho produziu 35 mil litros de cachaça na última safra, período entre os meses de novembro e março. Liquido suficiente para proporcionar uma receita de R$ 600 mil ao ano.

Mas a empresa vai abrir outra linha de produtos e deve lançar ainda neste semestre a cachaça do tipo prata. Serão quase 30 mil litros desse tipo de cachaça que devem chagar até os consumidores potiguares.

“A cachaça prata tem uma rentabilidade maior porque é armazenada apenas por seis meses, enquanto as demais passam dois anos sendo amaciadas”, explica Pedro Lima.

A empresa está terceirizando a parte de distribuição para ganhar novos mercados. Hoje, praticamente, a produção supre o mercado potiguar, abastecendo as principais redes de supermercados nativas do Rio Grande do Norte, distribuidoras de alimentos e lojas de produtos regionais.

O desafio, no entanto, é entrar no mercado nordestino, sobretudo o paraibano, considerado o com maior consumo per capita de cachaça da região. “Vamos fortalecer a marca no estado e depois partir para outros mercados”, revela a estratégia.

Outra estratégia da Mucambo é ampliar a linha de produção para reduzir custos, principalmente com mão-de-obra. Ao aumentar a capacidade produtiva, a empresa consegue manter o volume e encurtar o tempo de produção.

Para isso, estão sendo necessários investimentos na modernização da estrutura. Um novo alambique deve dobrar a capacidade produtiva, elevando para 200 mil litros por ano.

Nesse sentido, a inovação também integra o diferencial do engenho. A empresa decidiu apostar na refrigeração individual das dornas de fermentação, os recipientes onde é depositado o líquido para fermentar e obter o produto que será destilado. “Como esse tipo de refrigeração, temos um controle melhor da dorna”. Com a ampliação, o engenho será dotado de dez dornas, das quais três são refrigeradas.

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