Gabriella e Julia: irmãs fundaram brechó que faturou R$ 6 milhões em 2021 (Daz Roupaz/Divulgação)
Karina Souza
Publicado em 12 de janeiro de 2022 às 18h35.
Última atualização em 14 de janeiro de 2022 às 11h32.
Fazer uma assinatura já é parte da rotina de qualquer pessoa. Filmes, séries e música, por exemplo, experimentaram uma revolução nos últimos anos com plataformas como Spotify e Netflix. Mas não só serviços podem ser comprados por um pagamento mensal. Impulsionadas por uma geração que mais valoriza consumir do que possuir, empresas de bens de consumo têm mostrado que é possível mudar a dinâmica de uso de produtos, por meio de assinaturas. Carros e celulares, por exemplo, já têm certa competitividade nos respectivos nichos por ofertas desse tipo, mas, em relação às roupas, essa discussão é muito mais recente. De olho em trazer esse tema aos holofotes, o brechó Daz Roupaz, que faturou R$ 6 milhões em 2021, agora vai oferecer roupas de segunda mão por assinatura, a partir de um fee mensal de R$ 3,99 pago pelos clientes.
Aprenda as técnicas de inovação utilizadas pelas maiores e mais lucrativas startups. Comece agora!
A ideia é que, com a mensalidade, clientes possam pagar metade do valor pelo qual a roupa seria vendida no brechó. A dinâmica funciona mais ou menos com o check-in de um hotel: as clientes vão até à loja física, fazem um cadastro e preenchem inclusive dados de pagamento. Em seguida, pegam a roupa desejada e a usam por 30 dias, sem cobranças. Na volta à loja para devolver a peça, 50% do valor da etiqueta é cobrado no meio de pagamento cadastrado — o que também blinda a marca de possíveis “calotes”.
Além do valor reduzido, os assinantes devem contar com outros benefícios. Quem assinar o clube poderá reservar uma peça mostrada nas lives diárias que acontecem no instagram oficial da loja por mês (atualmente não é possível fazer nenhum tipo de reserva). Além disso, é possível concorrer a sorteios para uma visita ao estoque da Daz, em que as premiadas poderão comprar peças antes que cheguem na loja.
Caso as clientes decidam ficar com o produto para si, o valor da diferença será debitado do cartão de crédito das clientes. Mas, a ideia é incentivar mesmo o reúso. “Queremos principalmente incentivar as pessoas a girar e girar suas peças, se desapegar da posse dos produtos mas ainda continuarem a ter acesso a looks novos, sem jogar nada fora ou guardar o que não usa mais. Para nós, a moda circular de verdade, não pode ser confundida com comprar roupas de segunda mão, se não girar, não é circular e isso é que nós incentivamos junto às nossas clientes”, diz Gabriella Wolff, cofundadora da Daz Roupaz.
O brechó, fundado por ela e pela irmã, Julia Wolff, conta com mais de 10 mil peças disponíveis, de marcas como Zara, Farm, Schutz e Hering. Com duas lojas físicas em São Paulo, a empresa faturou R$ 6 milhões em 2021 e espera faturar R$ 10 milhões em 2022. E a partir de 2023, dobrar o faturamento anualmente pelos anos seguintes. Desde a fundação, o negócio não passou por nenhuma rodada de captação com investidores, sendo 100% financiado pelas fundadoras.
O Daz Roupaz é mais um negócio que cresceu na pandemia. Fundado em 2016, o brechó registrou aumento de 249% em vendas em 2020, impulsionado principalmente pelo e-commerce. Atualmente, o brechó compra mais de 15 mil peças por mês, que são vendidas pelo preço médio de 40 reais. Na loja, o estoque é reposto diariamente, enquanto no site cerca de 200 novas peças são adicionadas a cada dia — e vendidas, em média, em uma semana.
Do lado do estoque, o brechó recebe as roupas de pessoas que queiram vender suas peças e faz uma avaliação. Em seguida, o vendedor pode escolher como vai receber: Trinta por cento do valor avaliado em dinheiro ou 50% do valor avaliado em crédito para gastar na Daz Roupaz — as demais porcentagens ficam como margem para o brechó.
As fundadoras apontam que 90% do que é exposto é vendido. E atribuem a isso o fato de buscarem sempre por peças atuais, que possam ser encontradas também no shopping. “Como criamos uma base forte de clientes, nos tornamos quase que um armário pessoal, onde as pessoas compram, vendem, retornam o que compraram e trazem novas roupas”, diz Gabriella.
A busca por moda circular e mais sustentabilidade nessa cadeia de produção tem sido cada vez mais valorizada no país. Do lado de grandes empresas, a Renner inaugurou, em outubro do ano passado, a primeira loja com conceito circular do Brasil.
A iniciativa reafirmou o compromisso da empresa com sustentabilidade, um dos pilares definidos desde 2014. E, na nova loja, será possível conhecer mais sobre a origem dos produtos, processos produtivos e história das coleções — além de fornecer espaço para quem quiser descartar produtos. Isso, é claro, sem esquecer que a empresa está de olho no mercado de segunda mão com a startup Repassa.
Além dela, TROC e Enjoei também disputam o mercado de “second hand” no Brasil, ainda que mirem públicos com diferentes poderes aquisitivos. De forma geral, todas tiveram bons resultados em 2021, seja com aumento de lojas físicas ou com faturamento maior.
E não se trata de um setor que deve desacelerar tão cedo: a moda circular deve se multiplicar por cinco e bater US$ 64 bilhões em faturamento até 2024. E deve ultrapassar o fast fashion até 2029, segundo a Thred Up, plataforma de revenda de roupas novas e usadas. Muito desse consumo vem da geração Z, mais preocupada com o meio ambiente do que as anteriores, de acordo com pesquisas recentes.
Com um planeta cada vez mais populoso e mudanças climáticas em foco, há espaço de sobra para startups como a Daz Roupaz. O principal entrave, ao menos no Brasil, ainda é o hábito: quanto tempo levará para que consumir algo de segunda mão seja visto com glamour? Impossível saber ao certo — mas as pistas indicam que consumidores estão prontos para essa mudança. E o brechó fundado pelas duas irmãs quer a própria parte dentro dessa corrida.