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Da Redação
Publicado em 11 de março de 2015 às 14h09.
Brasília - Milena Curado de Barros, 40 anos, aprendeu a bordar aos 8 anos com a avó materna, mas nunca imaginou que, 30 anos depois, essa seria a atividade que garantiria sua renda e a de outras 25 pessoas.
Dos bordados ensinados por vovó Wanda, surgiram peças de vestuário e decoração criados pela empreendedora, que abriu em 2007 uma loja em Goiás Velho, município turístico a 142 quilômetros de Goiânia também conhecido como Cidade de Goiás.
Mais do que uma marca de artesanato, a Cabocla Criações é também um projeto social que incorpora, a cada bordado, o resgate da cidadania e a esperança por uma vida melhor de detentos e ex-detentos da unidade prisional da cidade.
Formada em gestão pública, Milena e a mãe passaram por uma crise financeira em 2005 e, para complementar a renda, decidiram fazer roupas de algodão cru, decoradas com os antigos bordados da avó que eram vendidas em lojas da cidade em sistema de consignação. Dois anos depois, ela decidiu largar o emprego em um cartório e apostar no novo negócio.
Formalizada como Microempreendedora Individual (MEI), Milena criou a marca a Cabocla Criações e abriu a loja, um misto de atelier e ponto de encontro, localizada numa antiga residência de estilo colonial no centro histórico da cidade.
“O nosso principal público é formado por turistas e o carro-chefe das nossas vendas são os vestidos, que se somam às outras peças de roupa, capas de cadernos, bolsas, carteiras, almofadas, porta-trecos e aventais”, conta.
No começo, a mãe e avó de Milena a ajudavam no empreendimento: a mãe costurava e as três bordavam. Mas, um ano depois, veio a necessidade de aumentar a produção. Devido à escassez local de mão de obra qualificada, Milena decidiu aliar o novo trabalho às suas convicções sociais, o que resultou no projeto “Cabocla – Bordando Cidadania”.
“Resolvi que o meu trabalho não iria contribuir apenas com o sustento da minha família”, diz. Milena e a mãe deram oficinas de bordado para cinco detentas da unidade prisional que passaram a ganhar por produção e ter remissão da pena com o trabalho (três dias de trabalho equivalem a um a menos na reclusão).
Aos poucos, os bordados chegaram à ala masculina da cadeia e hoje 18 detentos homens fazem parte do projeto e bordam para a Cabocla Criações, além de um egresso do sistema prisional e a família dele (pai, mãe e esposa).
“São pessoas que passaram a ter na Cabocla Criações a sua principal, e muitas vezes única, fonte de renda. Semanalmente, vou à cadeia ensinar a arte do bordado aos participantes do projeto e, com base na Lei nº 7.210/1984 que regula o funcionamento dos presídios e o trabalho das presas e na Lei de Execução Penal (nº 12.433/2011), cada um deles decide a quantidade de peças que bordará. O pagamento é feito por produção, à vista, e varia conforme o tamanho e complexidade do desenho”, explica a empreendedora.
Mensalmente, a Cabocla Criações produz, em média, 200 peças que são vendidas na loja em Goiás Velho, em dois pontos fixos de revenda em Pirenópolis e na Chapada dos Guimarães e em feiras de todo o Brasil.
Este ano Milena pretende lançar uma nova coleção com roupas feitas em um tecido mais leve e fresco do que o que utiliza hoje e conquistar novos mercados. Sempre apostando na diferenciação da marca, a microempreendedora individual conta com a ajuda do Sebrae desde a fundação da loja e venceu o Troféu Ouro na categoria MEI da etapa nacional do Prêmio Sebrae Mulher de Negócios.
“O Sebrae me ensinou a colocar preço nos meus produtos, a fazer as minhas etiquetas, melhorar minhas embalagens e me apoia na comercialização”, diz Milena que sempre soube o que quis.
“A escolha do nome e da localização do meu estabelecimento não foi aleatória. Foi parte de uma das estratégias que escolhi para a minha marca: a diferenciação. Desde o início, decidi que a Cabocla Criações seria mais que uma mera confecção de roupas e acessórios, seria uma forma de registro, preservação, divulgação e celebração da miscigenação e diversidade dos patrimônios histórico, cultural e natural do nosso país", conta.
Outro diferencial da marca é que as roupas são feitas para abrigar os mais diversos tipos de corpos, não possuem numeração rígida e têm a medida certa pra caber em variadas silhuetas, pois privilegia modelos que se adaptam às curvas de cada um, graças ao uso de cordões, faixas e franzidos que possibilitam inúmeros ajustes.
“Tenho a diferenciação e a responsabilidade social como estratégias de empreendedorismo e de valorização, agregamos valor à nossa marca e nos protegemos contra a rivalidade competitiva do mercado”, afirma Milena.
“Sabemos que, para continuarmos a progredir, precisamos de inúmeras melhorias, mas nunca imaginei chegar tão longe. Estimo que crescemos mais de 300%, somos uma marca sólida no mercado e além de sermos uma empresa bem sucedida, com responsabilidade social e perfil inovador, somos uma prova vida de que é possível fazer um hoje e amanhã melhores", completou.