Neon: fintech se associou ao Banco Votorantim em maio do ano passado (Banco Neon/Facebook/Divulgação)
Mariana Fonseca
Publicado em 4 de maio de 2018 às 10h07.
Última atualização em 10 de agosto de 2020 às 16h38.
São Paulo — Do dia para a noite, a situação do Neon virou de cabeça para baixo. Uma de suas empresas, a fintech Neon Pagamentos S.A., anunciou um dos maiores aportes série A já recebidos na história das fintechs, de 72 milhões de reais. Enquanto isso, a empresa Banco Neon S.A. teve agora sua liquidação extrajudicial decretada pelo Banco Central.
De acordo com comunicado da autarquia financeira, publicado no antigo site do banco, a liquidação foi decretada "considerando as graves violações às normas legais e regulamentares que disciplinam a atividade da instituição financeira, bem como o comprometimento da situação econômico-financeira".
A assessoria do Banco Central detalhou a EXAME que alguns dos problemas enxergados no Banco Neon foram um "patrimônio líquido negativo" e "a deficiência de controle e monitoramento para prevenir a lavagem de dinheiro".
A liquidação extrajudicial é uma intervenção econômica estatal em uma empresa supervisionada (no caso, pelo BC). O objetivo é restabelecer as finanças e satisfazer os credores do negócio. Segundo o Banco Central, não cabem recursos quanto à determinação e o Banco Neon já está sob intervenção. Ficam indisponíveis os bens dos controladores e ex-administradores, que deverão identificar titulares e valores a serem restituídos aos credores.
Alguns serviços aos clientes estão fora de funcionamento, como pagamento de boletos, envio e recebimento de transferências, utilização do cartão de crédito, resgate de Certificados de Depósitos Bancário (CDB) e recarga de celular.
Para os usuários, resta usar o cartão de débito ou sacar o dinheiro por meio de agências físicas, a um limite diário de 2 mil reais. De acordo com o Banco Central, o valor guardado nas contas digitais deverá ser devolvido entre sete a dez dias úteis, respeitando o limite do Fundo Garantidor de Crédito (FGC).
A assessoria do Neon ressalta que a instituição é feita de duas empresas com operações separadas desde sua fundação, em janeiro de 2016: a Neon Pagamentos, responsável pelos serviços de contas digitais e cartões pré-pagos, e o Banco Neon, responsável por serviços de crédito e anteriormente chamado de Banco Pottencial.
Segundo relato do BC ao Brazil Journal, Pedro Conrade, empreendedor por trás da fintech, “não tem nem uma ação do Banco Neon", e sim "os controladores do Neon que têm uma participação minoritária na Neon Pagamentos.”
A liquidação extrajudicial foi decretada somente em relação ao Banco Neon. Segundo o comunicado do Banco Central, "as irregularidades encontradas no Banco Neon não estão relacionadas com a abertura e movimentação de conta digital ou com a emissão de cartões pré-pagos, objeto de acordo operacional com a empresa Neon Pagamentos para estruturação de plataforma de banco digital integrada com a gestão de contas de pagamento."
A Neon Pagamentos afirma que reverá o estado de sua joint venture com o Banco Neon, procurando um novo liquidante para regularizar a prestação de seus serviços. A fintech trabalha para restabelecer seu aplicativo, que está atualmente "sob manutenção". O site não pode ser acessado, diante da determinação do Banco Central.
O Neon possui 600 mil usuários e uma equipe de 190 funcionários, detendo 0,0038% dos ativos do sistema bancário brasileiro. Há apenas uma agência bancária, na cidade de Belo Horizonte (Minas Gerais).
Confira, abaixo, o posicionamento oficial da Neon Pagamentos:
Referente à liquidação extrajudicial do Banco Neon S.A (atual denominação do antigo Banco Pottencial) divulgada hoje pelo Banco Central, a Neon Pagamentos esclarece que é uma pessoa jurídica distinta do Banco Neon, com bases acionárias e administradores independentes. Portanto, o anúncio não interfere na administração da Neon Pagamentos, que inclusive recebeu aporte recente de fundos de venture capital.
A Neon Pagamentos ressalta que os recursos depositados em contas de pagamentos dos clientes encontram-se disponíveis para saque e compras por meio de cartão de débito e não serão afetados pela liquidação extrajudicial do Banco Neon.
Em 2016, a Neon Pagamentos e o Banco Neon firmaram um acordo operacional com o objetivo de oferecer contas de pagamento e serviços financeiros relacionados ao mercado. Assim, alguns dos serviços financeiros intermediados por meio do Banco Neon estão temporariamente indisponíveis, como: pagamento de boletos, envio e recebimento de transferências, utilização do cartão de crédito, resgate de Certificados de Depósitos Bancário (CDB) e recarga de celular.
A Neon Pagamentos já toma providências para contar com novo banco liquidante para regularizar a prestação de seus serviços e reforça o compromisso de manter clientes e mercado informados.
Atualizado às 12h42.