Raphael e André Miranda, irmãos e sócios da empresa Redecash (Daniela Toviansky)
Da Redação
Publicado em 20 de junho de 2011 às 15h10.
Nos últimos anos, sacar dinheiro, abrir uma conta-corrente e pegar empréstimo deixaram de ser tarefas restritas às agências bancárias. Hoje, transações como essas acontecem em farmácias, mercados e outros negócios parceiros das instituições financeiras.
De acordo com um levantamento do Banco Central, em 2009 os chamados correspondentes bancários realizaram o mesmo número de operações que as agências — 1,47 bilhão ao longo do ano.
Não há estatísticas mais recentes, mas é provável que os correspondentes sejam atualmente o principal canal físico para as transações bancárias.
Enquanto o volume de operações nas agências cresceu apenas 3% entre 2006 e 2009, o ritmo de expansão nos correspondentes foi de 69% no mesmo período. Os dados apontam uma oportunidade que já vem sendo aproveitada por empreendedores como os paranaenses André Miranda, de 25 anos, e seu irmão, Raphael, de 28.
Há dois anos e meio, eles fundaram em São Paulo a RedeCash, que faturou 7 milhões de reais em 2010 prestando serviços bancários. “Neste ano, devemos mais que dobrar de tamanho”, diz André.
A ideia de fundar a empresa surgiu quando os irmãos Miranda se depararam com uma necessidade do emergente público de baixa renda. “Meu pai havia lido numa reportagem que grande parte dos brasileiros ainda não tinha conta bancária”, diz André. “Achamos que ali havia uma oportunidade de negócios.”
Em 2008, André, Raphael e seu pai, Nelson Miranda, de 56 anos, entraram em contato com o Banco do Brasil para habilitar como correspondentes bancários seis lojas de celulares e de recarga da Vivo que possuíam em cidades do centro-oeste do Paraná.
Na época, o banco procurava não só expandir a rede como também ampliar o número de parceiros que administrassem os novos canais. “Elaboramos o plano de negócios para que a empresa pudesse ser gestora de uma rede de correspondentes”, diz André. O projeto foi aceito.
Passaram-se cinco meses entre a papelada ser aprovada pelo Banco do Brasil e pelo Banco Central e as lojas começarem a ser inauguradas.
Hoje, a RedeCash tem 80 lojas nas regiões centrais ou de grande movimento em cidades de São Paulo e dos três estados da Região Sul. Além de fazer as próprias operações, a empresa está entre os 45 gestores que o Banco do Brasil possui para tomar conta de seus correspondentes no país.
Nesse modelo, o banco é responsável apenas por aprovar e efetivar operações mais complexas, como a abertura de contas e a concessão de crédito. “A RedeCash é um dos nossos maiores parceiros, e são estratégicos para nós”, diz Edmar Casalatina, gerente executivo da unidade de gestão de canais do Banco do Brasil.
Sob os cuidados da RedeCash estão mais de 1 000 correspondentes, localizados nas regiões em que a rede tem lojas próprias. Eles recebem uma taxa por transação, que varia de acordo com o tipo de operação.
A RedeCash, por sua vez, fica com uma porcentagem do total mensal que os estabelecimentos de sua rede ganham. “As margens pagas aos correspondentes são pequenas”, afirma André. É necessário realizar, em média, 10 000 transações por mês para levantar 3 000 reais de lucro. “A vantagem para quem não tem um volume alto de operações é aumentar o fluxo nas lojas.”
Para atrair estabelecimentos para o guarda-chuva da RedeCash, além de fornecer gratuitamente o software e equipamentos como leitoras de cartões, a empresa oferece uma espécie de consultoria.
“Mostramos como transformar a pessoa que paga uma conta num cliente”, afirma André. Uma orientação é colocar mais produtos próximos aos caixas — para que despertem a atenção do consumidor que deseja apenas pagar as contas. Outra estratégia recomendada é oferecer o serviço de saque, para que o cliente gaste parte do dinheiro que retirou ali mesmo.
Ao virar uma gestora, a RedeCash teve de assumir o risco da inadimplência de sua rede. Os sócios destinam 25 de seus 400 funcionários para passar o dia controlando, por meio de um software, os recebimentos feitos nos estabelecimentos. “Monitoramos uma média de 650 000 transações por mês”, diz Raphael.
“Se o correspondente não transfere o dinheiro ao banco quando o expediente acaba, temos de cobrir o buraco e receber depois.” Segundo os irmãos Miranda, a média de inadimplência é de 3%. “Até agora, temos conseguido receber todos os pagamentos atrasados”, diz André.
Além de atuar com lojas próprias e como gestora de rede, a RedeCash presta serviços de abertura de contas para folha de pagamentos a outras empresas, como Sadia e Petrobras. No fim de 2010, por exemplo, foi realizado um mutirão com 3 000 funcionários de uma concessionária de coleta de lixo da cidade de São Paulo.
Durante dez dias, 12 funcionários da RedeCash revezaram-se em dois turnos diários num centro de operações no centro da cidade de onde sai parte dos caminhões que recolhem lixo pelas ruas. Até então, os funcionários da concessionária tinham de encontrar um horário para ir a uma agência.
Paranaenses, Raphael e André comemoraram os dois primeiros anos de negócios na cidade natal, Pato Branco. Foi em dezembro de 2010, com um show da cantora baiana Ivete Sangalo que reuniu 18 000 pessoas, o equivalente a um quarto da população da cidade.
Em Pato Branco, de certa forma, eles iniciaram sua trajetória de empreendedorismo ao observar os passos do pai. Entre seus negócios, Nelson Miranda tinha uma imobiliária, quatro franquias da rede de cosméticos O Boticário e chegou a administrar uma rede com 2 000 pontos de venda de cartões de recarga da Vivo.
“Nosso pai nos ajudou a desenhar o modelo de negócios da RedeCash e ainda nos acompanha de perto”, diz André. “Mas tocamos o negócio sozinhos.”
Para continuar crescendo, André e Raphael estão criando formas de aumentar as receitas geradas com o fluxo de consumidores que visitam suas lojas. No ano passado, eles fecharam parcerias com a Positivo para vender notebooks e com a Vivo para vender modems de internet banda larga e linhas pré-pagas.
“São produtos e serviços que entraram nos hábitos de consumo de nosso público”, diz Raphael. Os irmãos pretendem fazer das lojas da RedeCash uma espécie de magazine especializado em consumidores emergentes, a exemplo do que já fizeram Casas Bahia e Magazine Luiza.
“A ideia é que o consumidor encontre tudo num só lugar”, afirma Raphael. “Ele pode fazer um empréstimo, comprar um notebook e já deixar a loja com a internet habilitada.”
Os sócios estão, ainda, negociando com companhias aéreas e imobiliárias para vender passagens e imóveis. Como no setor bancário há contrato de exclusividade com o Banco do Brasil, atuar em outras áreas foi também uma saída para diversificar e diminuir o risco do negócio.
No ano passado, 70% das receitas vieram do Banco do Brasil. “A meta é reduzir a importância do banco nas receitas para 30% nos próximos anos”, diz André Miranda.
Neste ano, os sócios da RedeCash pretendem dar um novo passo para a expansão da rede: vender franquias. As cinco primeiras já foram inauguradas. “Nossos franqueados não vão usar a marca Banco do Brasil, como fazemos nas lojas próprias”, diz André. “Mas poderão vender os serviços de todos os outros parceiros e continuar a receber boletos e a abrir contas, como parte de nossa rede de correspondentes.”
Com o modelo de franquias, André e Raphael esperam quase triplicar o tamanho da rede, para 200 lojas, até o fim do ano. “Quanto maior o alcance da RedeCash, mais serviços diferentes poderemos oferecer”, diz André Caio, diretor regional da Vivo para São Paulo. “Há um novo tipo de consumidor, e precisamos chegar até ele.”