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Artesanato e inteligência artificial combinam? O Elo7 acha que sim

Marketplace para produtos personalizados falou sobre suas estratégias para crescer em 2018, incluindo novas funcionalidades

Escritório do Elo7: marketplace foi criado há dez anos e possui 4,8 milhões de produtos cadastrados (Elo7/Divulgação)

Escritório do Elo7: marketplace foi criado há dez anos e possui 4,8 milhões de produtos cadastrados (Elo7/Divulgação)

Mariana Fonseca

Mariana Fonseca

Publicado em 13 de abril de 2018 às 06h00.

Última atualização em 13 de abril de 2018 às 16h38.

São Paulo - Unir mundos tão estranhos quanto artesanato e inteligência artificial pode parecer uma loucura pós-contemporânea. Não para as startups. Quem protagoniza o ousado movimento é um integrante da “velha guarda” da inovação brasileira: o marketplace Elo7, criado em 2008.

O negócio nasceu com a ideia de ser um shopping center online para artesãos. De lá para cá, a plataforma adquiriu ares tecnológicos e investiu em uma grande equipe de desenvolvimento. Há referências tanto à rede de inspiração Pinterest quanto às tecnologias de gigantes como IBM.

Em 2017, o Elo7 gerou 550 milhões de reais em vendas. Com o lançamento recente de funcionalidades e outros projetos em fabricação, o Elo7 espera não apenas se firmar como uma empresa de tecnologia, mas apresentar um crescimento de 50% neste e nos próximos anos.

Criação e funcionamento

O Elo7 foi criado em março de 2008, com a proposta de ser um canal online para a venda de produtos de artesãos. Há 8,5 milhões de profissionais dessa categoria atualmente no Brasil, segundo a plataforma, representando um mercado de 28 bilhões de reais.

A ideia surgiu a partir de dois movimentos. Primeiro, surgiram redes como Flickr e Orkut e os vendedores mais antenados começaram a fazer postagens divulgando seus artesanatos. Depois, observou-se o sucesso do marketplace Etsy nos Estados Unidos, lançado três anos antes.

“Nossos vendedores não tinham uma ferramenta adequada para não apenas divulgar, mas fazer toda a parte comercial, com processos de compra, pagamento e logística”, afirma Carlos Curioni, CEO do Elo7. Com os anos, a plataforma passou do artesanato aos produtos personalizados, incluindo profissionais como designers e estilistas no site.

Quadros da loja Wall Done, presente no marketplace Elo7

Quadros da loja Wall Done, presente no marketplace Elo7 (Wall Done/Elo7)

A plataforma funciona como um shopping center online, provendo espaço e marketing aos produtores em troca de uma comissão. Não há custo fixo para abrir uma loja, e sim uma cobrança baseada nas vendas.

Há dois planos de publicação dos itens, com valores diferentes. No modelo Clássico, a comissão é de 12%. No modelo Plus, em que os produtos anunciados possuem maior destaque nas buscas, no e-mail marketing e nas redes sociais, a comissão é de 18%. O valor já inclui a taxa de transação dos pagamentos, independentemente do meio usado.

Hoje, o Elo7 recebe 30 milhões de visitas por mês e possui 90 mil vendedores. São 4,8 milhões de produtos cadastrados em categorias como “Acessórios e vestuário”, “Bebê”, “Celebrações”, “Decoração e Utensílios para Casa”. Em 2017 foram 1,7 milhão de compradores, que movimentaram 550 milhões de reais.

Placa da loja Casa-me!, no Elo7

Placa da loja Casa-me!, no Elo7 (Casa-me!/Elo7/Reprodução)

Percepção de mercado

O primeiro passo que o Elo7 deu para se tornar um player tecnológico foi uma aposta: construir um novo site pensado para celulares no ano de 2014.

“Na época, apenas 10% dos nossos acessos vinha de smartphones. Hoje, representam 65%. Essa decisão transformou a empresa”, afirma Curioni. A plataforma lançaria depois um aplicativo para seus vendedores cadastrarem produtos enquanto vão ao banco ou aos Correios, por exemplo.

Com o tempo, a startup começou a perceber como sua experiência de compra era distinta de um marketplace tradicional. Em uma loja virtual comum, o usuário espera poder comprar sem trocar nenhuma mensagem e receber o produto no mesmo dia. Enquanto isso, no Elo7 as conversas sobre produtos, preços e prazos são parte integrante do processo. Comprador e vendedor estão em contato constante sobre como anda a produção dos itens personalizados. “É por isso que colocar artesanatos em qualquer plataforma com muitos acessos não funciona”, diz Curioni.

Kit para bebê do Ateliê Mamie Ruth

Kit para bebê do Ateliê Mamie Ruth, loja no Elo7 (Ateliê Mamie Ruth/Elo7/Reprodução)

Essa reflexão levou a um segundo marco tecnológico para a plataforma, em 2015: a criação de uma ferramenta de conversas que substituísse os e-mails entre compradores e vendedores.

O chamado Talk7 levou um ano para ser desenvolvido e é gratuito para quem usa o Elo7. A plataforma desenvolveu “interações tecnológicas” que permitem que, no meio da conversa, o comprador e o vendedor possam realizar ações como envio de fotos, pagamento, cotação do frete e acompanhamento do estágio de envio.

O Talk7 seria um complemento do Facebook e do Instagram, na visão do CEO do Elo7. “As redes sociais têm por função atrair a demanda. Já nossa ferramenta permite fazer a gestão e a conversão desses leads. A partir do momento que você divulgou no Facebook ou no Instagram, todo o resto da cadeia deve ser feito em separado. Queremos unificar todo esse processo.”

Neste ano, o Elo7 lançou o beta de um recurso para compradores e vendedores organizarem produtos em coleções, procedimento similar aos “quadros” da rede Pinterest. Um usuário pode criar uma coleção de itens inspiradores para seu casamento e, por meio de inteligência artificial, a plataforma sugere produtos do mesmo tipo, produtos complementares ou até as coleções feitas por outros usuários.

“Permitimos uma colaboração coletiva: uma mãe que ficou horas selecionando produtos para uma festa de princesas pode ajudar mães com a mesma ideia. Usamos a tecnologia para reforçar nossa razão de ser, seguindo uma onda de uso mais econômico dos recursos à disposição”, afirma Curioni. Ao mesmo tempo, os vendedores podem se tornar curadores de produtos influentes, o que divulgará indiretamente seus negócios.

Com as novidades, a equipe de produto e engenharia do Elo7 cresceu. O negócio possui 150 funcionários, sendo que a maioria cuida de desenvolvimento. Uma equipe de ciência de dados foi montada para o projeto das coleções, o que abre espaço para mais inovações nessa área em longo prazo.

“A gente se define como uma empresa de tecnologia, com o propósito de dar aos vendedores um alcance muito maior do que ele teria só no universo offline. O uso massivo da internet, especialmente do e-commerce pelo celular, foi um grande suporte para nosso crescimento”, resume Curioni.

Planos para o futuro

Em até dois anos, Curioni espera que o Talk7 seja uma ferramenta usada não apenas por vendedores do Elo7, mas por qualquer vendedor de itens personalizados. Os usuários contarão com descontos nos fretes e um perfil com as avaliações unificadas de todos os seus clientes, independente do site em que seu produto foi anunciado. Para quem não usa o Elo7, a comissão será de 6% (equivalente ao processamento dos pagamentos).

Outro projeto de longo prazo é oferecer serviços personalizados por meio do Elo7, e não apenas produtos. Isso já ocorre pontualmente, como na locação de itens de festa que só se usam uma vez (bolos de enfeite ou torres para colocar docinhos, por exemplo).

“Vemos muito potencial na área de serviços: quem vem comprar uma lembrança de casamento pode querer contratar um fotógrafo ou um local de festa. Um marketplace como o nosso poderia atender isso, então queremos crescer nessa categoria adjacente.”

Diante das novidades, a meta é ter um crescimento anual de 50% em 2018 e nos anos seguintes. Com esse parâmetro, a plataforma espera aumentar sua movimentação de 550 milhões de reais para 820 milhões de reais neste ano. O Elo7 quer mostrar, com resultados, que ser um negócio inovador da velha guarda não significa perder o toque de arte pós-contemporânea das startups.

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