O setor de tecnologia da América Latina fechou número recorde de acordos de capital de risco no ano passado, quando os negócios de algumas das startups mais valiosas da região floresceram apesar da pandemia (Rappi/Divulgação)
Leo Branco
Publicado em 16 de março de 2021 às 14h50.
Última atualização em 16 de março de 2021 às 16h28.
O setor de tecnologia da América Latina fechou número recorde de acordos de capital de risco no ano passado, quando os negócios de algumas das startups mais valiosas da região floresceram apesar — e em alguns casos em razão — da pandemia.
Investidores fecharam 488 acordos com empreendedores, superando a marca anterior de 2018, de acordo com a Latin American Private Equity & Venture Capital Association, ou LAVCA.
Embora o valor captado — 4,1 bilhões de dólares — tenha ficado cerca de 10% abaixo de 2019, fundos internacionais como SoftBank Group continuaram a investir, disse Ivonne Cuello, diretora-presidente da LAVCA.
“O capital privado da região foi notavelmente resistente e forte”, disse Cuello em entrevista. “Ainda vimos muitos investidores internacionais entrando nessas rodadas.”
O mercado de startups da América Latina cresceu nos últimos anos, atraindo fundos estrangeiros que antes consideravam a região atrasada em tecnologia, com poucas empresas que valiam a pena investir.
O Nubank, maior startup privada da região, agora está avaliado em 25 bilhões de dólares, enquanto o aplicativo de entrega colombiano Rappi levantou cerca de 300 milhões de dólares no ano passado, impulsionado pela pandemia, e agora está avaliado em pelo menos 3,5 bilhões de dólares.
Muitas empresas financeiras, startups de comércio eletrônico e de tecnologia imobiliária, como a colombiana La Haus, inspirada no Zillow, se expandiram no ano passado, disse Cuello, mesmo com uma das piores crises econômicas da região.
No ano passado, o capital de risco ajudou a criar alguns unicórnios — startups que alcançaram valuations de 1 bilhão de dólares ou mais. O provedor de pagamentos dLocal captou 200 milhões de dólares em uma rodada liderada pela General Atlantic e se tornou o primeiro unicórnio do Uruguai.
O México obteve seu primeiro unicórnio com a plataforma de carros usados Kavak, cujo valor alcançou 1,1 bilhão de dólares. A empresa recebeu capital do DST Global, KaszeK Ventures e SoftBank, que em 2019 lançou um fundo de 5 bilhões de dólares para a América Latina.
A proptech Loft recebeu 175 milhões de dólares em fundos, incluindo de Andreessen Horowitz, o que elevou o valor da empresa acima de 1 bilhão de dólares. E o banco online Creditas levantou 255 milhões de dólares em rodada liderada pela LGT Lightstone, aumentando seu valuation para 1,75 bilhão de dólares.
Investidores também sacaram em ritmo recorde, com 11 bilhões de dólares em saídas, que incluem ofertas públicas iniciais e aquisições de private equity. Essa tendência foi impulsionada pelo dinamismo da bolsa brasileira, onde empresas e acionistas levantaram mais de 8 bilhões de dólares em IPOs.
Empresas estrangeiras, como Advent International, Carlyle e Warburg Pincus venderam participações em empresas que abriram o capital, segundo a LAVCA.
As baixas taxas de juro que atraíram investidores para as ações em busca de retornos mais elevados impulsionaram os IPOs globais. Apesar da maior volatilidade nos mercados recentemente, Cuello disse que os fundamentos devem manter a tendência neste ano.
“Há uma demanda de investidores locais e internacionais que estão de olho na liquidez desses mercados, refletindo as tendências que vemos nos mercados global e dos Estados Unidos”, disse. “Isso definitivamente continuará em 2021.”
— Com a colaboração de Felipe Marques