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A startup brasileira que atraiu os investidores do Airbnb

A startup brasileira Quero Bolsa já recebeu 2,5 milhões de reais em investimentos – e, neste ano, chamou a atenção de uma das maiores aceleradoras do mundo.


	Lucas Gomes, Thiago Brandão e Bernardo de Pádua: engenheiros do ITA querem mais brasileiros cursando o ensino superior
 (Divulgação/Quero Bolsa)

Lucas Gomes, Thiago Brandão e Bernardo de Pádua: engenheiros do ITA querem mais brasileiros cursando o ensino superior (Divulgação/Quero Bolsa)

Mariana Fonseca

Mariana Fonseca

Publicado em 1 de setembro de 2016 às 10h30.

São Paulo – O número de universidades brasileiras deu um salto nos últimos anos. Mesmo assim, só 16% dos brasileiros possuem ensino superior no país, segundo o IBGE.

Um dos maiores entraves para o crescimento dessa porcentagem é o alto valor da mensalidade – enquanto as universidades públicas possuem uma grande concorrência, diante de vagas limitadas.

Por isso, três engenheiros de computação do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) resolveram criar um negócio que atacasse justamente o entrave financeiro para o ensino superior: o portal Quero Bolsa, que mostra bolsas oferecidas por universidades particulares de todo o país.

A ideia dos empreendedores Bernardo de Pádua, Lucas Gomes e Thiago Brandão parece ter dado certo: todos os meses, dois milhões de estudantes acessam o site - e 70 mil deles já usaram o serviço. A startup brasileira chamou até mesmo a atenção de uma das maiores aceleradoras do mundo: a Y Combinator, do Vale do Silício.

Começo e crescimento

O Quero Bolsa, na verdade, começou há dez anos como um projeto para faculdades atraírem ex-alunos e, com isso, elaborarem estratégias de marketing.

Porém, em 2012, resolveu mudar seu foco de atuação: segundo Pádua, essa relação entre formados e instituições de ensino é muito mais comum no mercado americano do que na realidade brasileira.

“Vimos que o maior problema dos brasileiros para acessar a universidade é encontrar uma mensalidade que caiba no bolso, além da localização da instituição e da própria oferta do curso desejado”, explica Pádua.

Os engenheiros colocaram no ar uma versão teste do Quero Bolsa, e perceberam uma grande demanda tanto por parte dos estudantes, que buscavam melhores condições financeiras, quanto das universidades, que queriam preencher vagas ociosas.

“A partir desse feedback quantitativo e qualitativo, fomos desenvolvendo o produto. É uma pesquisa de mercado constante para descobrir quais funcionalidades são as mais buscadas pelos dois lados”, diz o empreendedor.

O crescimento da plataforma foi ajudado pelos recentes cortes em programas de acesso à educação por parte do governo – como Fies, Pronatec e Prouni.

“O Fies estava com um déficit grande e, com a freada do financiamento, os estudantes buscaram novas soluções. Nossa plataforma já estava funcionando bem, mas o corte fez com que faculdades precisassem achar outras formas de preencher vagas ociosas, enquanto alunos buscavam alternativas de financiamento”, diz Pádua. “Nossa plataforma também cresceu com o aumento no desemprego, já que o melhor a se fazer nessa situação é estudar mais e se diferenciar perante o mercado.”

Mesmo assim, o Quero Bolsa não acha que é um negócio restrito apenas aos momentos de recessão – especialmente em países que precisam preencher lacunas da educação superior, como o Brasil. “A gente também acredita que, com o Brasil retomando seu crescimento, a mão-de-obra será cada vez mais necessária para chegar perto dos índices de produtividade de países desenvolvidos. É isso que queremos a longo prazo.”

Como funciona?

Ao acessar o site do Quero Bolsa, o usuário pode fazer uma pesquisa por curso desejado, localização, valor de mensalidade que está disposto a pagar e modalidade do curso (EAD ou presencial). A partir daí, ele pode ver quais faculdades cadastradas na plataforma oferecem bolsas de estudo.

Segundo a plataforma, 730 universidades brasileiras estão no Quero Bolsa. Os descontos variam de 5 a 75% da mensalidade, dependendo do curso, do turno e da faculdade. “Todos os dias os preços mudam. As faculdades operam como companhias aéreas, ajustando o valor de acordo com a taxa de ocupação”, explica Pádua. Assim que o estudante selecionar a bolsa que quiser, a porcentagem de desconto da mensalidade ficará fixada naquele valor ao longo de todo o curso.

O Quero Bolsa se monetiza por meio de um acordo com as faculdades: a primeira mensalidade paga pelo estudante irá para a plataforma. Para as instituições, a plataforma funciona como uma espécie de marketplace do ensino.

O Quero Bolsa obteve, nos últimos doze meses, um faturamento de cerca de 23 milhões de reais.

Investimentos e Y Combinator

Antes mesmo do Quero Bolsa lançar sua plataforma, o negócio já havia conquistado um investimento-anjo no fim de 2011. Em 2013, com um ano de operação, o negócio atingiu seu ponto de equilíbrio. Isso levou a um reinvestimento, por parte dos mesmos investidores-anjo, em 2014. No começo de 2015, a plataforma recebeu mais um aporte.

Neste ano, o Quero Bolsa foi aprovado para um processo de aceleração da Y Combinator, que guiou negócios como Airbnb, Dropbox, Reddit e Twitch. É a primeira startup brasileira de educação que faz parte do programa, diz Pádua. A aceleração terminou em agosto.

O empreendedor conta que preencheu um formulário online com questões importantes sobre a sua empresa – quase um plano de negócio. Na hora de preencher, buscou conselhos de donos de negócios que já haviam passado pelo processo. Pádua estima que em torno de 1% das startups inscritas são selecionadas para passar pela aceleração.

A Y Combinator dá 120 mil dólares (na cotação atual, cerca de 384 mil reais) para cada negócio selecionado. Porém, Pádua afirma que dinheiro é o de menos.

“Estamos aqui mais pelo networking e expertise que ela tem. O mais importante foi a mentoria que tivemos - empreendedores muito fortes ajudam tanto a selecionar as melhores empresas quanto a fazê-las crescer ao longo do tempo. Pudemos conversar com o Jack Dorsey [do Twitter], por exemplo."

A aceleração dura três meses e acaba com um Demo Day, no qual as empresas podem se apresentar para diversos fundos e investidores-anjo do Vale do Silício. Agora, o Quero Bolsa está em fase de negociação com os investidores.

Contando todos os investimentos até agora, a startup já arrecadou cerca de 2,5 milhões de reais.

“Queremos um novo aporte para desenvolvermos mais nosso produto e a tecnologia envolvida. Gostaríamos de agregar mais conteúdo para ajudar o aluno na hora de optar por uma faculdade e também integrar melhor o processo de matrícula dentro do nosso site, reduzindo a documentação.”

Futuro

O primeiro plano do Quero Bolsa é fechar mais parcerias com faculdades – investindo também nas menores e criando mais times de relacionamento. Outra expansão estará nos tipos de instituições: a ideia é ter também escolas do ensino fundamental e médio, cursinhos pré-vestibular e escolas de idiomas.

Em longo prazo, a plataforma quer estender seu ramo de atuação: além de oferecer bolsas de estudo, investirá em consultoria para os estudantes, indo além do atendimento telefônico.

“Um dos motivos pelos quais eu fui empreender foi ter mudado muito minha visão do mercado de trabalho. Estudei no ITA porque queria ser engenheiro, mas depois descobri que as melhores vagas oferecidas eram em bancos e consultorias. E eu não queria nada disso”, conta Pádua. “Então, a gente quer informar os alunos para que eles realmente saibam como é o mercado e a empregabilidade dos seus cursos.”

Uma das funcionalidades a ser adicionadas são as avaliações dos próprios estudantes de cada universidade, incluindo o cargo que eles ocupam hoje.

“Mesmo que tenhamos mudado o foco do nosso negócio em 2012, ainda acreditamos que o ex-aluno é o produto que o futuro aluno compra ao entrar em uma universidade: é isso que ele espera ser daqui a alguns anos. Quando o aluno escolhe uma faculdade, ele na verdade escolhe qual será seu futuro profissional.”

Atualmente, o foco de atuação do Quero Bolsa é no Brasil. Após dois ou três anos, estima Pádua, há planos de expansão para a América Latina e para países emergentes de outras regiões.

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