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A nova onda do Peixe Urbano: nenhum fundador e lucro

Com nova presidência, o site de ofertas aposta na integração com o Groupon na América Latina para manter lucro no Brasil e criá-lo nos outros países

Escritório do Peixe Urbano: negócio fechou o ano com 31,5 milhões de usuários no Brasil (Peixe Urbano/Divulgação)

Escritório do Peixe Urbano: negócio fechou o ano com 31,5 milhões de usuários no Brasil (Peixe Urbano/Divulgação)

Mariana Fonseca

Mariana Fonseca

Publicado em 4 de fevereiro de 2019 às 06h00.

Última atualização em 4 de fevereiro de 2019 às 11h56.

O site de ofertas Peixe Urbano começa 2019 com um novo presidente e a expectativa de crescimento forte. A chegada de Ilson Bressan ao comando marca uma nova onda para o negócio. Ele é o primeiro presidente que não está entre os fundadores do site de ofertas locais, no mercado desde março de 2010. Bressan seguirá muitas das estratégias desenhadas pelo seu antecessor, o cofundador Alex Tabor. Mas com um pouco mais de pragmatismo.

Tabor continuará como “conselheiro informal” da empresa e investirá em novos negócios. De acordo com o novo presidente, a passagem de bastão é algo “programado” no Peixe Urbano e seus administradores costumam ficar cerca de quatro anos no cargo. Tabor tornou-se presidente em maio de 2015, assumindo o lugar do também cofundador Julio Vasconcellos, que largou a empresa para ter empreendimentos como o fundo de investimentos Canary. O terceiro cofundador do Peixe Urbano, Emerson Andrade, não chegou a ser presidente e saiu do Peixe Urbano em 2014.

Bressan conheceu o Peixe Urbano quando vendeu sua startup, o site de reservas em restaurantes Zuppa, para o site de ofertas locais. O empreendedor geriu equipes comerciais e projetos de inovação no Peixe Urbano. Seu último cargo antes de se tornar presidente era o de vice-presidente comercial.

"Temos uma história de muito sucesso no Brasil e no mercado latino americano. Tenho a honra de assumir os sonhos que foram criados lá atrás e o compromisso de manter o histórico de inovação do Peixe Urbano. Vamos levá-lo a um novo patamar de geração de valor no Brasil e no resto da América Latina”, afirmou Bressan a EXAME.

Passos calculados

No topo da lista de prioridades do novo presidente está fazer a fusão com o antigo concorrente Groupon América Latina de fato funcionar, após cerca de um ano de integração. O negócio atua hoje nos seguintes países: Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México e Peru.

A escala será usada para aumentar a rentabilidade de ambos os comércios de ofertas locais, com menores custos de sistemas e um esforço de publicidade mútuo. Lentamente, a marca Peixe Urbano deverá tomar o lugar do Groupon América Latina. “Mantemos as duas marcas porque temos bases engajadas em ambas e não pretendemos mudar isso em curto prazo”, diz o executivo.

Ilson Bressan, do Peixe Urbano

Ilson Bressan, do Peixe Urbano (Peixe Urbano/Divulgação)

Em termos de produto, a preferência de Bressan está nas áreas que já funcionam para o Peixe Urbano: gastronomia e entretenimento. O negócio também está investindo em descontos para hospedagens e pacotes turísticos, mercado com concorrentes de peso, como Booking.com e Decolar. “Sem dúvida temos concorrentes, mas é um mercado com bastante potencial de crescimento e queremos oferecer uma experiência completa ao nosso usuário. Acredito que nossa força está na capacidade de oferecer diferentes produtos em diversas categorias”, afirma. 

O discurso é parecido, mas menos agressivo que o de Alex Tabor. O ex-presidente ressaltou anteriormente a EXAME apostas como o delivery, após a compra da empresa chilena de entrega de comida pronta e pacotes Menú Express. A ideia era replicar o serviço nos outros países do grupo. Bressan é mais comedido. “Temos oportunidades diferentes em cada país. O Menú Express é um piloto no Chile e não avaliamos entrar para esse mercado no Brasil. Temos outras propostas para engajar usuários.”

Para o novo presidente, o último ano foi marcado pelos desafios de integrar as operações e os sistemas do Peixe Urbano e do Groupon América Latina. A receita cresceu perto de 20%, porcentagem um pouco inferior à vista em 2017. Enquanto a operação brasileira obteve lucro, os sites na América Latina “passaram perto disso”. O Peixe Urbano fechou o ano com 31,5 milhões de usuários no Brasil e outros 20,5 milhões na América Latina pela marca Groupon.

Bressan espera que 2019 seja um ano de crescimento mais forte, com uma empresa de fato integrada. “Já vimos neste janeiro uma receita expressivamente superior à vista em janeiro de 2018”, afirma. O Peixe Urbano projeta aumentos de receita de dois dígitos a cada trimestre de 2019.

A história do Peixe Urbano

O Peixe Urbano foi fundado pelos empreendedores Julio Vasconcellos, Alex Tabor e Emerson Andrade em março de 2010, quando o cenário para o empreendedorismo brasileiro ainda era incipiente. Tabor contou a EXAME que a ideia dos sócios era criar um negócio que desse dinheiro a partir do primeiro dia de operação. Por exemplo, cupons que levassem os consumidores do mundo online ao físico, que depois se materializaram no site Peixe Urbano.

O problema é que o mercado de descontos coletivos online tinha poucas barreiras de entrada. O maior expoente desse tipo de marketplace era o americano Groupon, que chegou ao mercado brasileiros alguns meses depois do Peixe e fez seu IPO em 2011, recusando uma oferta de 6 bilhões de dólares do Google e sendo avaliado em 16 bilhões de dólares.

Em 2012, o mercado “amadureceu e murchou”, nas palavras de Tabor. O Peixe chegou a demitir centenas de funcionários e fazer um saldão com equipamentos do escritório pagar pagar as contas. O controle majoritário do marketplace foi vendido ao chinês Baidu em 2014, com margem operacional negativa e uma dívida de 60 milhões de reais – mas 25 milhões de usuários.

O gigante chinês da internet queria replicar a estratégia da Nuomi, empresa do Baidu que oferece diversos serviços em seu portal, de ingressos a entrega de comida e viagens de táxi. O Peixe Urbano passou a investir em promoções baseadas em geolocalização e em novas áreas de atuação.

Desde essa época que o Peixe Urbano anuncia sua transição de um modelo agressivo para descontos menos tentadores, batizando-se apenas como “um e-commerce local”. As promoções duram mais tempo no site, não exigem um número mínimo de compradores e trazem uma margem melhor aos estabelecimentos, que são capturados também por conveniências personalizadas por tipo de comércio.

O resultado é que, de 2013 a 2015, o Peixe Urbano aumentou sua fatia no mercado brasileiro de cupons, indo de 40 a 60%. Em 2016, aumentou suas receitas em 40%. Em 2017, os ganhos cresceram 30% e o negócio fechou o último trimestre daquele ano com lucro.

Mesmo com o resultado, o Baidu resolveu focar mais em inteligência artificial e vendeu sua participação na startup brasileira para o fundo de investimento latino americano Mountain Nazca. Em 2018, o Baidu revelaria sua saída definitiva do Brasil. O Nazca já havia adquirido a operação do Groupon América Latina e, então, decidiu promover a fusão entre Groupon Brasil e Peixe Urbano.

Hoje, o maior expoente dos cupons online não vai muito bem das pernas. O Groupon global possui um valor de mercado de 2,5 bilhões de dólares hoje, longe dos 16 bilhões de dólares dos tempos áureos. Segundo o Recode, o negócio procura um comprador.

Na América Latina, a aposta está no Peixe Urbano. No Peixe Urbano, a aposta está em uma onda mais surfável (e mais lucrativa).

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