Ilustração de relógio (Getty Images / CSA Images)
Da Redação
Publicado em 3 de setembro de 2014 às 14h18.
São Paulo - Eu ainda era criança quando passava na televisão uma propaganda que mostrava um grupo de amigos fazendo o maior esforço para escalar uma montanha. Era tão real que dava até para sentir o cansaço e a emoção deles.
Quando finalmente alcançavam o topo, se abraçavam e gritavam: “Chegamos! Chegamos!” Ficavam lá olhando um para a cara do outro até um do grupo dizer: “Vamos descer?” O bacana dessa história é que, para esse grupo, o grande prazer não era estar no topo — mas percorrer a trajetória toda até alcançá-lo.
Lembrei disso agora porque tenho notado que a maioria das pessoas gasta energia demais remoendo o passado e planejando o futuro. E o presente, como fica? Venho pensando sobre isso. Para mim, a vida é muito mais o agora. Segunda-feira pela manhã é tão vida quanto sexta-feira à noite. Não há menos vida ou mais vida. Há apenas o presente — e quem quer ser justo consigo mesmo precisa aprender a vivê-lo intensamente.
Talvez eu venha refletindo mais nessas coisas ultimamente por causa da minha escola, a FazINOVA, que dá cursos para empreendedores. O empreendedorismo requer metas, o que é saudável. Mas passar a vida subserviente a metas também me preocupa. Ter um sonho — construir uma grande empresa, por exemplo — é saudável.
Grandes desafios, que parecem impossíveis de transpor, podem ser um estímulo importante para empreendedores visionários. Mas a fixação com o destino em si pode impedir que se aproveite bem a viagem até ele.
Assim como os amigos que experimentaram fortes emoções ao escalar a montanha, aprendi a amar a jornada — e não apenas festejar a chegada ao ponto-final, até porque ponto-final é um conceito muito relativo.
Vou dar um exemplo. Qual seria sua reação se, depois de várias visitas a um cliente em potencial, você tivesse sua proposta recusada? Provavelmente se sentiria frustrado num primeiro momento. Mas será que esse é o fim e o esforço foi em vão?
Acredito que não — se a recusa for tomada como um aprendizado do presente. O cliente não fechou o pedido, mas você aprendeu coisas novas nas reuniões a que foi. Pode ser que pessoas especiais tenham cruzado seu caminho — e elas podem ajudá-lo a melhorar. Isso também não é felicidade?
Um empreendedor precisa aprender que o caminho para a vitória é tão bom quanto segurar o troféu. Lá na frente, quem sabe, o mesmo cliente que o dispensou irá procurá-lo novamente. Se você tiver aprendido a lição, será grande a chance de ele se surpreender positivamente. Aí, será hora de celebrar o presente mais uma vez.
Bel responde
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Motivação
Muita gente pensa em empreender para se livrar de ter chefe. O que você acha dessa visão?
Maria do Rosário M. da Silva | Unileste — Coronel Fabriciano, MG
Uma vez li que as três maiores razões para empreender são: não ter chefe, fazer o próprio horário e ficar rico. Há uma boa dose de ilusão em cada uma delas. Sim, existe oportunidade de ganhar bastante dinheiro, mas o dinheiro é consequência de muito trabalho. Empreendedor pode não ter chefe, mas tem cliente — e bronca de cliente é pior do que bronca de chefe.
Vários chefes perdoam um erro quando compreendem que o funcionário tentou fazer o melhor. Mas um cliente prejudicado dificilmente perdoa o fornecedor. Não entregou o prometido na data combinada e houve problemas por causa disso? Você lhe deve satisfações. Conforme for, ele pode parar de comprar e falar mal da empresa por aí.
De chefe chato é possível livrar-se pedindo demissão. Mas clientes não é possível demitir. Conquistá-los e mantê-los depende de se esforçar para agradá-los. Nesse caso, ter o próprio horário significa trabalhar até tarde e, às vezes, em fim de semana e feriado.
Para quem não tem espírito empreendedor, tudo isso pode ser um sacrifício. Mas para quem empreende por vocação tudo compensa no final, quando o cliente fica satisfeito.
Networking
O que devo dizer a quem não frequenta eventos de relacionamento por achar perda de tempo?
Marco Canassa | MoveGreen — Balneário Camboriú, SC
Já conheci pessoas que passam dias e noites em eventos e, no fim, não conseguem fazer nada. Não é que não tenham se esforçado. Pelo contrário: elas têm a falsa impressão de que estão evoluindo ao participar do maior número de eventos possível e ficam contentes por não ter deixado nenhum contato passar em branco.
Acontece que a quantidade de apresentações não é uma boa medida para o networking. Esses encontros servem para encurtar o caminho até algo que já se sabe o que é. O objetivo pode ser encontrar sócios, refinar uma ideia, tirar dúvidas. É importante ir a um evento com a perspectiva de complementar planos — e não de substituí-los.
Com um foco, networking pode ser mágico. Você conhecerá pessoas que vão lhe apresentar novos pontos de vista, que podem ajudar a realizar projetos e virar grandes inspirações.
Pessoas
Como fazer o outro se sentir especial numa relação de trabalho sem parecer falso?
Rodrigo Hernandes | Grupo Jabá — Santos, SP
O primeiro passo é acreditar, de verdade, que cada pessoa é mesmo especial e única. Mas o que seria essa coisa que faz dela especial e única? Olhe, ouça, perceba, sinta. Se você estiver honestamente interessado naquela pessoa, tenho certeza de que vai saber o que é quando o momento revelar. Seus sentidos vão dizer. Prestar atenção no que a pessoa está fazendo ou falando é meio caminho andado.
Mas demonstre seu interesse. É difícil o outro se sentir especial se você guardou suas impressões só para você. Não tenha medo de fazer perguntas ou de dar uma sugestão. Saia da zona de conforto emocional e deixe que a pessoa saiba que, de alguma forma, foi importante conhecê-la, que ela fez valer seu dia, que o ajudou a aprender, a enxergar algo sob outro ponto de vista.
Fazer o outro se sentir especial não significa elogiar ou enaltecer — realmente isso pode dar um tom de falsidade. As pessoas se sentem especiais quando você leva a conversa adiante, sem segundas intenções e sem jogar confete.