Funcionários dos Correios paralisaram os trabalhos nesta terça-feira, 18, e não têm data para voltar ao serviço (Fernando Frazão/Agência Brasil)
Carolina Ingizza
Publicado em 18 de agosto de 2020 às 13h23.
Última atualização em 19 de agosto de 2020 às 10h58.
A greve dos funcionários dos Correios em todo o país, deflagrada na noite desta segunda-feira, 17, e ainda sem data para terminar, deve afetar pouco o dia a dia dos varejistas de grande porte como B2W, Mercado Livre e Magazine Luiza. Todos têm contratos azeitados com transportadoras e startups de logística dispostos a aumentar o volume de entregas enquanto os funcionários dos Correios cruzam os braços.
O enrosco mesmo vai ser para as empresas de pequeno e médio porte com operações independentes de comércio eletrônico. Mais de oito entre dez varejistas online de pequeno e médio porte dependem dos Correios como fonte principal dos fretes aos clientes, segundo uma pesquisa com 2.000 lojistas online entrevistados entre janeiro e fevereiro deste ano pela Loja Integrada, uma desenvolvedora de softwares para lojas virtuais.
As alternativas de logística ainda estão bem longe de alcançar a dominância da estatal. Apenas 28% usam transportadoras e 24% contratam motoboys para as entregas, diz o estudo.
Numa situação como a greve de agora, muitos varejistas pequenos e médios serão obrigados a recorrer a contratos mais caros com transportadoras — já bastante sobrecarregadas por causa das encomendas a mais vindas das grandes varejistas —, diz Ricardo Hoerde, fundador da Diálogo Logística, uma startup de entregas especializada no comércio eletrônico com 2.000 entregadores autônomos nas principais cidades das regiões Sul e Sudeste. “Ou, então, o risco é perder a venda por causa dos prazos muito mais dilatados”, diz.
A greve dos Correios já motivou telefonemas de alguns varejistas hoje pela manhã para reservar mais espaço de entregas na Diálogo. A demanda das PMEs, por ora, ainda não veio. “Mas, sem uma sinalização de um final dessa greve, é questão de dias para sermos procurados”, diz ele. Por causa do aumento na demanda de entregas do comércio eletrônico na esteira do isolamento social, a Diálogo espera faturar 100 milhões de reais em 2020, o dobro do ano passado.
Num primeiro momento o impacto para o consumidor final das PMEs pode ser uma aumento no prazo de entrega. Segundo André Dias, presidente da Neotrust/Compre&Confie, que monitora o comércio eletrônico, encomendas que demorariam dez dias antes da greve, podem, agora, levar de 12 a 15 dias. Extravios poderão ser mais comuns nas próximas semanas. "A esperança é que a greve não seja extensa. Se não, vai ter impacto grande para o comércio eletrônico, ainda mais em momento em que o setor dobrou de tamanho por causa da pandemia", diz Dias.
Embora as PMEs que vendem produtos em marketplaces estão de certa maneira protegidas por causa de alternativas logísticas como transportadoras e motoboys, Dias lembra que mesmo grandes varejistas como o Mercado Livre usam os serviços dos Correios.
Para Fernando Sartori, fundador da Uello, startup que otimiza rotas para entregas urbanas, a greve dos Correios vai afetar as entregas no comércio eletrônico, principalmente os pequenos e médios negócios online. "Quem inicia no e-commerce tende a recorrer ao serviço da estatal como principal meio de entregas", diz Sartori. Para ele, o primeiro passo para evitar prejuízos é informar ao cliente sobre a situação. "A ideia é esticar o prazo das entregas atuais e futuras", diz.
A greve dos Correios vem num momento de alta nas reclamações sobre os serviços da estatal. De acordo com o Procon de São Paulo, foram 2.182 queixas contra o serviço da empresa no primeiro semestre de 2020 — cinco vezes mais do que no mesmo período no ano passado. O atraso nas entregas é o principal motivo de reclamações, diz a entidade de defesa do consumidor, em nota à imprensa.