Erros: aprender a "cultura do errar" faz com que você tenha uma chance cada vez maior de ser bem sucedido (STUDIO GRAND OUEST/Thinkstock)
Mariana Fonseca
Publicado em 12 de junho de 2015 às 06h00.
São Paulo - Você se sente deprimido após seu empreendimento falhar? Muitos empreendedores perdem o rumo e acabam receosos de abrir um novo negócio. Na verdade, aprender a "cultura do errar" faz com que você tenha mais chances de ser bem sucedido na sua próxima tentativa.
"Nós vivemos uma apologia ao sucesso. Todo mundo só quer falar do que dá certo e esconder o que deu errado, por vergonha. É preciso que as escolas e as empresas mudem esse modelo mental", afirma o professor Bento Costa, coordenador do MBA Marketing e Varejo do Ibmec/DF.
Ruben Delgado, empreendedor e presidente da Softex, associação que promove iniciativas na área de tecnologia, destaca que, no Brasil, o empreendedor que falhou é descartado, enquanto, em outros países, há o contrário. "É preciso que ele seja otimista, porque vive em uma sociedade que é contra o erro", diz.
Já Alessandro Saade, professor do curso em Empreendedorismo & Novos Negócios da Business School São Paulo (BSP), vê uma melhora nesse quadro com as novas gerações. "Os millenials têm mais tolerância ao erro. Seus ídolos de negócio são pessoas que erraram no começo e empreenderam quando tinham uma idade parecida com a desses jovens. Já as gerações anteriores têm mais dificuldade em lidar com isso", afirma.
Para os especialistas, essa situação está longe de ser o fim do mundo. Veja sete lições que um empreendedor só aprende após errar e por que ter a experiência de um negócio que não deu certo pode ajudar uma pessoa a alcançar o sucesso:
O erro não é o mesmo que fracasso. O erro é, na verdade, um caminho para o acerto. "A cicatriz faz parte do empreendedorismo. É um degrau para que você possa subir mais forte", afirma Saade.
Costa cita o caso de uma empresa que, em 12 anos, teve 300 projetos de inovação. Desses, só três deram certo. "Os outros serviram? Claro que sim, porque a empresa aprendeu muito com esses 297 projetos, talvez até mais do que com os três aprovados", diz. "Procure se informar sobre por que seu negócio deu errado. Se você sabe por que errou, já é meio caminho andado".
Já Delgado compara empreender com uma pista de esqui. "Você tem a primeira, segunda e a terceira queda. Só depois delas é que você consegue andar na pista. É importante que as falhas aconteçam".
Ao errar, o empreendedor tem a oportunidade de rever aspectos fundamentais do seu negócio - e sem ter medo dessas mudanças. "Você abre, digamos, uma academia para jovens em um bairro com pessoas de mais idade. Ou seja, você foi fazer um negócio e direcionou de uma forma errada. Você tem a oportunidade de repensar: por que as pessoas não querem meu produto? Quais as características dos produtos que as pessoas querem?", ensina Costa.
Após o empreendedor falhar, ele aprende que, para ter sucesso, é preciso ter uma visão de todas as áreas cruciais da empresa, como contabilidade, recursos humanos e jurídico. Assim, ele já terá uma visão melhor no seu próximo negócio. "Um empreendedor de tecnologia, por exemplo, é geralmente um técnico, mas ele tem que sair do que gosta para ter uma visão mais sistêmica", diz Delgado.
Ao fracassar, o empreendedor abre os olhos também para o fracasso dos outros, o que pode render boas informações para as próximas tentativas. "Dentro da empresa, eu estudo o meu fracasso. Fora, eu entendo o que deu errado em outros empreendimentos", afirma Costa.
Quem erra consegue abrir um novo empreendimento de forma muito mais rápida. Segundo Saade, por dois motivos: o empreendedor já queima etapas que ele sabe que vão dar errado e repete as que funcionaram no antigo negócio.
Por outro lado, esse empreendedor também está mais atento, porque sabe que já errou em um negócio que achava que daria certo. "Por isso, ele vai passar mais tempo no projeto, analisando os processos, cuidando da execução e fazendo com que a gestão seja atenciosa com seus funcionários", diz Saade.
Quando o empreendedor tenta começar um novo negócio, ele já sabe que perfil de colaborador serve para cada área da sua empresa, diz Costa. Como exemplo, o professor cita que o dono do negócio aprende a colocar funcionários mais conservadores na área de finanças e os mais arrojados nas áreas de vendas, atendimento e inovação.
A hora do fracasso é também a hora de avaliar sua capacidade empreendedora. Nesse momento, o empreendedor pode ter uma real dimensão do quanto está disposto a continuar empreendendo - e pode até acabar percebendo que aquele não é seu estilo de trabalho. "O empreendedor não pode ser desmotivado por ter falhado uma vez. O próprio Steve Jobs, por exemplo, falhou. Qualquer empresário de sucesso sabe que algumas empresas não darão certo, e isso não é ruim", afirma Delgado.