Equipe: os negócios sociais são uma tendência para o futuro próximo, segundo consultora (AmmentorpDK/Thinkstock)
Mariana Fonseca
Publicado em 13 de janeiro de 2016 às 15h35.
São Paulo – Existem muitos motivos para alguém começar a empreender. Alguns deles são a vontade de ter o próprio negócio, a identificação de uma oportunidade no mercado, ou ainda a necessidade de complementar a renda, especialmente em tempos de crise. Outra boa razão é a vontade de ajudar a resolver problemas da sociedade.
Esses são os negócios sociais: empresas que oferecem intencionalmente um produto ou serviço escalável que resolva um problema social, especialmente se este afeta a população de baixa renda, explica Renan Costa Rego, coordenador de busca e seleção de aceleradora de negócios sociais Artemisia.
Para Dorli Martins, consultora do Sebrae de São Paulo, os negócios sociais são uma tendência para o futuro próximo: em cerca de cinco anos eles estarão consolidados no Brasil, principalmente em atividades como construção civil, energia renovável e economia de água. “Ser uma tendência implica o desafio de ser pioneiro nessa iniciativa, ter barreiras maiores do que quem empreende em um negócio já consolidado. Mas também implica a vantagem de atuar num mercado ainda inexplorado”, afirma Dorli.
Mas como saber se você tem o perfil necessário para abrir uma empresa desse tipo? Segundo Luis Guggenberger, responsável pelo Programa de Desenvolvimento de Empreendedores (PDE) da Fundação Telefônica, o que diferencia um empreendedor social de um dono de negócio usual é o propósito.
“O lucro do empreendimento é encarado como uma forma de sustentar o negócio, e não apenas como um fim. Isso não significa que você não irá conseguir pagar suas contas, mas sim que você pode ajudar outras pessoas no processo. Isso tem chamado a atenção dos jovens.”
Você tem o perfil certo para ter uma empresa que vai mudar o mundo? Então, confira conselhos específicos para quem quer abrir um negócio com compromisso social:
Todo e qualquer empreendimento precisa fazer parte do seu projeto de vida. Porém, isso é ainda mais importante se seu negócio tiver um objetivo ligado ao social, diz Guggenberger. “Sem esse propósito, você não arranjará tempo para a empresa e, portanto, seu empreendimento irá falhar eventualmente.”
Na mesma linha, Dorli afirma que o que caracteriza um empreendedor desse tipo é um olhar diferenciado diante da sociedade. “É preciso que você se sinta parte dessa sociedade. Assim, você também toma partido diante das dificuldades que surgem”, explica.
Ou seja, um negócio social não pode ser criado apenas porque o empreendedor vê uma forma inovadora de obter sucesso empresarial. “A vontade de querer empreender deve ser muito mais forte do que apenas aproveitar uma oportunidade”, diz Costa Rego.
O planejamento é o ponto de partida de qualquer empreendimento. Por isso, seu primeiro passo é desenhar exatamente como irá funcionar sua nova empresa. No caso das empresas com impacto social, um ponto que merece atenção redobrada é a forma como a operação será financiada, o que inclui a precificação do produto ou serviço.
“Responda algumas perguntas: onde irei implementar minha empresa? Quais as tecnologias necessárias? Qual o investimento inicial? Com quais fontes de recurso poderei contar para sobreviver aos primeiros meses? Quem serão meus parceiros? Que tipo de mão de obra eu procuro? Quanto irá custar meu produto ou serviço? Como irei divulgá-lo?”, enumera Dorli.
Dentro do planejamento, há um ponto que merece pesquisa extra: entender profundamente que tipo de dor seu empreendimento irá solucionar. Diferente de outros tipos de negócio, replicar uma ideia que fez sucesso em outro país não é suficiente, diz Costa Rego. “O problema social que eu tenho no Brasil é completamente diferente do problema que eu tenho nos Estados Unidos, por exemplo”.
Além de pesquisar mais sobre tudo que envolve especificamente seu negócio, Guggenberger acrescenta que o empreendedor deve estar antenado nas tendências mundiais de forma geral. “Busque mais conteúdo sobre os problemas que enfrentamos globalmente, por meio de relatórios, índices e bases de dados. Isso ajuda muito a embasar a justificativa de um futuro empreendimento.”
Depois que você já definiu o problema social que seu negócio irá resolver, é hora de mapear quem são as pessoas e instituições envolvidas nesse ramo, incluindo fundos de investimentos. Assim, fica mais fácil aprender sobre a área em que o negócio irá atuar, o que acelera seu processo de preparação para empreender, afirma Costa Rego.
Além de entrar em contato, Guggenberger recomenda praticar sempre a apresentação da sua ideia para diversos grupos – um investidor, uma universidade ou a comunidade em que seu negócio irá atuar, por exemplo. “Encontramos muito jovens com boas ideias, mas com dificuldade de apresentá-las de forma lógica”, explica.
Além de conversar com os principais atores do ramo do seu negócio, é preciso conhecer a comunidade onde está o público-alvo do seu negócio. “Tenha uma visão crítica dos problemas no lugar onde você atuará, relacionando-os também com um contexto mais global. Dessa forma, o que você cria para sua comunidade poderá servir também para outras regiões do planeta”, defende Guggenberger.
Além de conhecer a fundo o problema que será resolvido, os principais atores desse segmento e o local de atuação da sua empresa, é fundamental falar com seu público-alvo.
“Percorrer a comunidade e conversar com quem mora lá é fundamental para conhecer as raízes desse problema social e entender o comportamento das pessoas em relação a esse problema. Só assim você consegue gerar ideias de produtos e serviços para atendê-las bem”, diz Guggenberger.
Se você irá atuar em escolas, por exemplo, é muito importante visitar instituições públicas e privadas, ver como elas funcionam, falar com as mães e com os alunos. “Entenda as consequências do problema social para quem sofre isso na pele. Muitas vezes, a gente pensa só com a nossa cabeça. Temos que pensar com a cabeça do outro, ou seja, ter empatia”, diz Costa Rego.
Depois de ter seu modelo de negócios formatado, é preciso que você escolha com cuidado quem irá ser seu parceiro na jornada. Em negócios sociais, é comum que a empresa seja formada tanto por especialistas na área do problema a ser resolvido quanto por quem entende de gestão.
“Qualquer pessoa que empreende em educação precisa de um professor ou de um pedagogo, por exemplo. Mas também precisa de gente para operação, claro. Por isso, procure conhecimentos complementares”, afirma Costa Rego.
Para atrair os melhores talentos, o especialista recomenda trabalhar na proposta de valor do negócio: ou seja, aquilo que irá convencer o futuro sócio ou funcionário a largar o que estiver fazendo em prol da missão do seu empreendimento.