Fritz Paixão, fundador da CleanNew: “Minha mãe me criou para ser pobre, mas eu sempre enxerguei o dinheiro como um instrumento capaz de facilitar o acesso e o compartilhamento de produtos, serviços, conhecimento e experiência” (Divulgação/Divulgação)
Da Redação
Publicado em 2 de abril de 2022 às 15h15.
Última atualização em 5 de abril de 2022 às 17h46.
Como construir uma marca pessoal capaz de mobilizar milhares de pessoas numa rede social em prol da ideia do empreendedorismo? O baiano Fritz Paixão tem algumas lições a contar nesse quesito.
Fundador da CleanNew, uma rede de franquias especializada em lavação de automóveis com 38 unidades no Brasil e no exterior vem comemorando a popularidade obtida nas redes sociais.
Só no Instagram são mais de 280 seguidores da página dele, repleta de conteúdos sobre autoconhecimento voltados a outros empreendedores acostumados a quebrar a cara e dar a volta por cima — assim como Paixão.
Formado em fisioterapia, o baiano fez um pouco de tudo na vida — na lista estão ofícios como a apresentação de um programa de televisão na TV Aratu, afiliada do SBT na Bahia, e no canal de tevê pago Multishow.
Em 2015, sem perspectivas na televisão, Paixão começa a lavar carros em Salvador em condomínios de luxo.
De lá para cá, o negócio chamado de CleanNew expandiu a área de atuação para serviço de estofados residenciais e passou a crescer pelo sistema de franquia.
No início de 2018, em função de disputas com franqueados, uma debandada faz o negócio perder 70% do faturamento. Segundo o próprio Paixão, foi preciso começar praticamente do zero. Na segundo semestre do mesmo ano, a receita já havia superado o momento pré-crise.
Atualmente, a CleanNew tem receitas anuais na casa de 25 milhões de reais e vem mantendo crescimentos de dois dígitos em 12 meses com abertura de unidades pelo Brasil e países vizinhos como Argentina e Colômbia, e nos Estados Unidos.
Neste ano, a rede iniciou expansão na Europa e nos Emirados Árabes Unidos.
A seguir, seis lições do empreendedor para outros empreendedores.
Os dias entre 25 e 28 de janeiro de 2018 eram especiais para Fritz Paixão. Pela primeira vez, ele reuniria os franqueados da rede CleanNew em uma convenção. A data ficou marcada por uma grande decepção. “Conhecedores da minha trajetória e dos meandros do negócio, alguns amigos de infância, que se tornaram franqueados da marca, se uniram, contrataram um advogado e comunicaram que assumiriam o comando do negócio caso eu não permitisse que todos comprassem os insumos diretamente do fabricante”, diz Paixão. “Só que o produto era parte importante do segredo do negócio."
Metade da rede, cerca de 12 franqueados, seguiu com Paixão, a outra parte abriu concorrência, implantando uma franquia paralela. O imbróglio foi parar na justiça. “Recomecei do zero, com a certeza de que tudo tem sua hora para acontecer, da maneira que tem de ser para que possamos chegar a um lugar melhor”, afirma Paixão. “O medo nunca fez parte da minha essência, sempre fui um cara destemido.”
Natural de Salvador (BA), onde o sincretismo religioso é forte, Paixão cresceu acreditando em um único Deus, que coloca pessoas e caminhos na vida de cada um, os quais são capazes de as conduzir para onde sequer imaginam. Religiosa, a mãe de Paixão costumava dizer que o dinheiro não deve mudar a vida das pessoas e que as escolhas não devem se basear apenas no dinheiro.
O empresário perdeu as contas de quantas vezes escutou a mãe repetir as mesmas palavras. “Aquilo ficou na minha cabeça, porém, com um viés diferenciado”, revela. “Minha mãe me criou para ser pobre, mas eu sempre enxerguei o dinheiro como um instrumento capaz de facilitar o acesso e o compartilhamento de produtos, serviços, conhecimento e experiência.”
Durante os anos como apresentador de tevê, Paixão decidiu realizar o sonho da casa própria. Deu a entrada e acumulou uma dívida a ser quitada em 12 meses. Só o salário de apresentador não seria suficiente, era preciso buscar uma nova fonte de renda.
“Foi quando tive a ideia de lavar carros em condomínios de luxo. A ideia vingou a ponto de virar o meu principal negócio. O apartamento acanhado foi trocado por uma cobertura no prédio ao lado”, diz Paixão. “A insistência de um amigo em abrir uma filial no Rio de Janeiro me deu um insight: Por que não transformar o negócio em franquia? Foi assim que me tornei empreendedor.”
Em suas publicações nas redes sociais, Paixão costuma dizer que é mestre em criar problemas para encontrar soluções. Uma maneira pouco comum de driblar desafios. Com essa conduta, ele encarou a empreitada de internacionalizar seus negócios em um mercado altamente competitivo como o dos Estados Unidos. Mais uma vez, deixou claro que é preciso aprender com os ensinamentos, não ter medo e ser ousado.
Em meados de 2017, uma empresária paulista, recém-separada do marido, o procurou com o propósito de abrir uma franquia da ClearNew em Miami. Foram meses de insistência de um lado e de resistência do outro. “Eu não falo inglês, não entendia nada do mercado americano e estava tranquilo com as operações no Brasil”, lembra Paixão.
“De tanto que ela insistiu, no início de 2018 eu acabei cedendo. Combinamos viajar juntos para Miami a fim de sentir a temperatura e ter certeza de que o negócio combinava com o mercado local.” Às vésperas do embarque, porém, a candidata sumiu, não atendia mais o celular e sequer respondia as mensagens. Com a passagem comprada e o visto emitido, ele decidiu embarcar sozinho.
A ousadia e o apetite acirrado pelo risco pesaram na decisão. No fim daquele mesmo ano, Paixão abriu a empresa nos Estados Unidos. Em 16 de março de 2019, desembarcou com a família toda para reiniciar a vida. Mais uma vez, começando do zero.
Com a experiência adquirida como apresentador de televisão, decidiu fazer das redes sociais – principalmente o Instagram – seu canal de comunicação. Seria pela tela do celular que ele transformaria seus erros e acertos em exemplos para quem quer empreender ou transformar a própria vida.
“Todo dia eu gravo um vídeo, uma mensagem e as pessoas passaram a interagir comigo, a contar suas histórias, seus desafios, a relatar as vitórias que alcançaram levando em conta a minha própria trajetória”, afirma. “Hoje, são mais de 280 mil seguidores e dezenas de histórias transformadas.”
O empresário conta que não procura as histórias e nem tão pouco faz uma seleção de quem será ou não ajudado, as histórias simplesmente chegam até ele. “Algumas me sensibilizam mais, outras menos, mas a todas eu procuro estimular seus protagonistas a irem atrás dos seus sonhos”, diz.
“Na maioria das vezes, assumo tudo sozinho. Mas, o meu objetivo é conquistar 1 milhão de seguidores e usar a minha rede social, o meu poder de engajamento e a quantidade de pessoas que me seguem, muitas delas empresários e celebridades, para criar uma imensa rede de relacionamento do bem.”
Na prática, Paixão pretende trocar a ajuda oferecida pelas empresas por veiculação das marcas em suas redes. “Eu quero conectar empresas e pessoas, sem ganhar nada com isso”, diz. “Eu não conheço nenhum influenciador que faça divulgação de graça, mas é assim que eu quero fazer. É a maneira de agradecer por tudo o que consegui na vida.”
Assim como Paixão alimenta a busca do sonho de cada um, ele alimenta a própria chama. Seu próximo objetivo é conquistar uma casa, de frente para o mar, em Miami. Para isso, precisará desembolsar US$ 5 milhões.
“Não tenho fluxo financeiro para isso, atualmente conto com apenas cinco operações no exterior e até o fim do ano deverei inaugurar uma franquia em Dubai, em parceria com o ex-jogador de futsal Falcão”, diz. “Mas estou trabalhando, me estruturando para isso. E, tenho certeza, chegarei lá. Eu não desisto do meu sonho.”